"Crise por interferência grosseira do poder judicial conduziu a eleições"
Ferro Rodrigues sublinhou que o facto de as eleições terem decorrido "debaixo de uma suspeita nunca fundamentada até agora" de "práticas graves por parte do primeiro-ministro" também influenciou o crescimento do Chega.
© Flickr/ Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata
Política Eduardo Ferro Rodrigues
O ex-presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, acusou, esta sexta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de ter favorecido o crescimento do Chega ao convocar umas eleições antecipadas provocadas por "uma suspeita nunca fundamentada" da Procuradoria-Geral da República e de nada ter feito para "manter" António Costa no cargo de primeiro-ministro.
Lembrando que o crescimento da extrema-direita tem acontecido um pouco por todo o mundo, Ferro Rodrigues sublinhou que "Portugal não está imune a esse vento, de um pouco de insanidade política, que sopra um pouco por todo o lado". "A ascensão da extrema-direita é algo muito preocupante e deve merecer um combate firme", afirmou ainda, em declarações à CNN Portugal.
Questionado sobre se o PS teria "responsabilidade política de conter o Chega", Ferro Rodrigues afirmou que tal se trata de "uma tarefa de todos os partidos e das instituições, do Presidente da República e do sistema judicial", considerando que a segunda convocação de eleições antecipadas ajudou no crescimento do partido liderado por André Ventura.
"Foi a crise motivada por uma interferência grosseira do poder judicial no poder político, que desestabilizou o estado democrático, além de ter destabilizado o Governo, e que conduziu a estas eleições antecipadas, em que o Presidente da República nada fez para conseguir que o primeiro-ministro se mantivesse", acusou.
Ferro Rodrigues sublinhou que o facto de as eleições legislativas de 10 de março terem decorrido "debaixo de uma suspeita nunca fundamentada até agora" de "práticas graves por parte do primeiro-ministro" também influenciou o crescimento do Chega. "É inadmissível", lamentou.
"Depois daquele texto que levou o primeiro-ministro a demitir-se, era normal que quatro meses depois fosse dada alguma explicação ou, pelo menos, que o primeiro-ministro tivesse sido ouvido", acrescentou, referindo-se ao parágrafo de um comunicado de imprensa da Procuradoria-Geral da República, que indicava que o primeiro-ministro iria ser investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça, uma vez que o seu nome foi invocado por suspeitos da Operação Influencer.
O socialista defendeu o seu sucessor, Augusto Santos Silva, pelas posições que tomou enquanto presidente da Assembleia da República em relação ao Chega, considerando que não se pode "deixar passar sem reparo intervenções que são provocatórias, antidemocráticas, que utilizam uma bagagem de linguagem que não é habitual naquele hemiciclo".
Agora, enquanto parte da oposição, Ferro Rodrigues considerou que o Partido Socialista "precisa de refletir bastante e estudar as razões dos resultados", reconhecendo que "há efetivamente uma ascensão do populismo de extrema-direita em toda a Europa e Portugal não ficou imune".
"O PS tem de aproveitar este tempo para refletir e para fazer algumas mudanças dentro de si próprio", afirmou, enumerando, por exemplo, "o voto aberto aos simpatizantes" e os "gabinetes de estudo".
"É necessário por um lado olhar para o futuro, mas, por outro lado, aprender bastante com algumas coisas do passado", considerou. Contudo, Ferro Rodrigues afirmou que, apesar dos resultados eleitorais, o "PS continua a ser grande força da Esquerda portuguesa".
"Será certamente um OE que ficará longe do programa do PS"
Sobre a votação do Orçamento do Estado, o socialista afirmou que se trata de um documento que define as políticas alternativas" e que, vindo de um Governo de centro-direita, "será certamente um Orçamento do Estado que ficará longe do programa do Partido Socialista", sendo "normal" que o partido "vote contra".
"Quem vai ser investido como primeiro-ministro é Luís Montenegro, quem tem de trabalhar para que a legislação que apresenta do Parlamento - seja esta o Orçamento ou outra qualquer - é Luís Montenegro e o PSD. Tendo estado sempre contra o PS, querendo destruir a maioria absoluta e tendo afirmado claramente que queriam governar, não podem pedir ao principal partido da oposição para ser a sua muleta no Parlamento", frisou.
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