Com derrota "honrosa", PS deve ser "oposição". A análise de Santos Silva
Augusto Santos Silva analisou os resultados eleitorais e considerou a derrota do PS "honrosa". Já Montenegro deve saber vencer e não "desbaratar a situação orçamental".
© Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images
Política Augusto Santos Silva
O ainda presidente da Assembleia da República (AR), Augusto Santos Silva, analisou os resultados das últimas eleições legislativas que considerou que traduzem o "afastamento das novas gerações face aos partidos que percecionam como estabelecidos". Para Santos Silva, esta é uma "ameaça para o Partido Socialista (PS), à qual o Partido Social Democrata (PSD) não está imune".
Num artigo de opinião publicado no jornal Público, Santos Silva considerou que a derrota do PS foi "honrosa". Apesar de um "ambiente mediático negativo", Santos Silva afirmou que o seu partido conseguiu reafirmar "o seu papel-chave no sistema partidário português" e deve agora "assumir a liderança da oposição".
"Tendo obtido vencimento as várias forças políticas que definiram como objetivo 'tirar os socialistas do Governo' (por memória: PSD, Iniciativa Liberal, CDS, Chega), não se pode pedir ao PS que resolva agora os riscos de ingovernabilidade que elas alimentaram. Lá se entenderão", escreveu o socialista.
Já a Aliança Democrática (AD), a coligação vencedora, deve saber vencer, "não desbaratando a situação orçamental". "Espera-se que efetivamente governe e que não se atire logo para o chão, à primeira oportunidade, a fingir penálti", considerou Santos Silva.
Liderança da oposição
Santos Silva mostrou concordância com o secretário-geral do PS, Pedro Nundo Santos, e referiu que o partido deve "assumir a liderança da oposição". Para o presidente da AR, isto é "incompatível com qualquer atitude cuja perceção pública possa ser que o PS está a entregar a iniciativa de diálogo e convergência a qualquer força à sua esquerda".
Recusa de moções de censura
O responsável recusou ainda qualquer moção de censura imediata, já que isso significaria uma oposição irresponsável. Santos Silva realçou que ser oposição "não é 'ser do contra'", mas sim "crítico, combativo e alternativo, e também estar disponível para os compromissos que sejam úteis".
Votos na extrema-direita
Sobre o crescimento da extrema-direita, Santos Silva referiu respeitar "os mais de milhão e cem mil votantes do Chega". Para o socialista, os votos destes eleitores quiseram mostrar que estão frustrados e zangados, porque esperavam mais, para o seu bem-estar, da democracia".
O responsável deixou ainda um recado para o Partido Comunista Português (PCP) e Bloco de Esquerda (BE), que "acham que a culpa foi do PS" e que, por isso, devem questionar-se porque tanto voto de protesto só foi capitalizado pela extrema-direita.
O silêncio da Igreja
Santos Silva deixou também uma nota à Igreja, cujo silêncio sobre as eleições legislativas considerou ser "estranho", já que a campanha ficou pautada por "fundas questões morais".
Afastamento dos jovens
O afastamento das gerações mais jovens é, na ótica do presidente da AR, "uma grave ameaça para o PS, à qual o PSD não está imune". Santos Silva considerou que as redes sociais têm "muita culpa" e que o "reatar o laço intergeracional em perda é o maior desafio que domingo passado deixou aos 50 anos do 25 de Abril".
Recorde-se que a AD, que junta PSD, CDS e PPM, conseguiu 79 deputados, depois de ter obtido 29,49% nas eleições legislativas do passado domingo, contra 77 do PS (28,66%). Seguiu-se, depois, o partido de extrema-direita Chega, com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. Já o Livre passou de um para quatro eleitos, enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.
Contudo, ainda estão por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontecerá na quarta-feira.
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