O 31.º Congresso do CDS-PP decorre este fim de semana e o sábado foi marcado por vários discursos, nomeadamente do presidente, Nuno Melo, que considerou que o partido "não foi muleta" do PSD, nem "o PSD foi barriga de aluguer" do CDS nas eleições legislativas de março, enfatizando que o papel dos centristas no Governo é de serem "aliados" e não de "parceiros menores" da Aliança Democrática (AD).
Nuno Melo considerou que o CDS foi "decisivo" no resultado eleitoral e "não entrou onde está por favor".
"Nem o CDS-PP foi muleta nem o PSD foi barriga de aluguer. Os votos de uns e de outros foram absolutamente decisivos para a vitória sobre o PS e as esquerdas e um novo ciclo político", assumiu o atual ministro da Defesa Nacional.
O líder dos centristas realçou que o CDS "acrescenta" e que a coligação da Aliança Democrática (AD) faz sentido. "O CDS acrescentou votos, mandatos e a nossa singularidade. Nós não nos diluímos", afirmou.
Num discurso de cerca de meia hora e (várias vezes) aplaudido de pé, Nuno Melo pediu aos centristas que "nunca se sintam parceiros menores desta coligação, porque não somos - somos aliados" e indicou que vai modernizar a comunicação e a linguagem por forma a "atrair mais jovens".
"O CDS não é um partido antigo, é um partido moderno que tem respostas para os problemas que sentem", defendeu.
Na sua primeira intervenção no congresso, Melo disse ainda que o partido "não vive de fogachos parlamentares", depois de dois anos sem representação na Assembleia da República. Sublinhando que havia dois deputados centristas nas bancadas parlamentares, Melo garantiu: "Valerão por 50".
O líder centrista remeteu a sua posição sobre o futuro do partido para este domingo, num momento em que se avizinham dois desafios eleitorais: as regionais na Madeira, com o CDS-PP a concorrer sozinho, e as eleições europeias, corrida na qual os centristas se vão voltar a aliar ao PSD para reeditar a AD.
Partido "resistente" ou "clubinho privado"? Ex-presidentes centristas dividem-se
O ex-presidente do CDS-PP, Paulo Portas, considerou que o CDS-PP resistiu a várias mortes anunciadas e agora tem a oportunidade de "provar bem, com competência no serviço que o partido é necessário", depois de os portugueses "terem dito que querem alternância e mudança" após a ida às urnas.
"[O CDS] é um dos partidos resistentes e persistentes e por isso fundadores da democracia portuguesa e haverá sempre eleitores para o defender e militantes para o proteger", defendeu Portas.
Já Manuel Monteiro defendeu que a AD só ganhou as legislativas porque os centristas "estavam lá" e salientou que o partido tem valores que "não se negoceiam" e, para o futuro, tem que ser "o partido da ordem e do bem comum", lembrando que não existe "polícia do pensamento".
"Nós não esquecemos nem a nossa circunstância, nem somos ingratos. Mas uma coisa é não esquecer a nossa circunstância nem sermos ingratos, outra coisa é sermos esquecidos ou distraídos. É bom que o parceiro de coligação saiba que existe uma coligação e que o governo é um governo de dois partidos e não apenas de um partido", sustentou o ex-líder do partido.
Por outro lado, Francisco Rodrigues dos Santos admitiu desfiliar-se do partido que liderou entre 2020 e 2022. Se por um lado aponta como "pontos fortes" o regresso do CDS-PP ao parlamento e ao Governo, o ex-líder centrista considerou, num espaço de comentário na CNN Portugal - ao mesmo tempo em que decorria o congresso - que "existe uma perceção generalizada de que o CDS se transformou num clubinho privado de portas fechadas à renovação", criticou.
De recordar que o partido perdeu representação parlamentar pela primeira vez na sua história nas legislativas de 2022, altura em que Francisco Rodrigues dos Santos era líder e se demitiu na sequência desse resultado eleitoral.
CDS "está vivo" e "não é substituível". Principais adversários? "As Esquerdas"
Nem só os ex-líderes do partido se fizeram ouvir e os centristas 'em funções' também tiveram uma palavra a dizer sobre o papel do partido no panorama político português.
Na sua intervenção perante os congressistas, o presidente do congresso, José Manuel Rodrigues, defendeu que esta reunião magna mostra que "o CDS está vivo, mobilizado para crescer e, sobretudo, para servir Portugal" e que "as notícias que falavam do desaparecimento ou da morte do CDS" eram "manifestamente exageradas".
O deputado João Almeida, que substituiu Nuno Melo quando o líder saiu da Assembleia da República para integrar o Governo, observou que "não está no Parlamento de Portugal ninguém que represente o mesmo que o CDS" e que "o papel que o CDS tem na democracia portuguesa não é substituível por nenhum partido que também lá está", afirmando que agora é tempo de os centristas mostrarem que mereceram a oportunidade.
O vice-presidente do partido e secretário de Estado da Administração Interna, Telmo Correia, declarou que o atual peso do partido no Governo minoritário PSD/CDS, liderado por Luís Montenegro, "é tão simples quanto nós sabermos que se não fosse o CDS, o primeiro-ministro chamar-se-ia, para mal dos nossos pecados, Pedro Nuno Santos".
Telmo Correia pediu para não se esquecer que o principal adversário do partido "são as Esquerdas, o Partido Socialista, o PCP e a Extrema-esquerda".
De recordar que o 31.º Congresso Nacional do CDS-PP termina este domingo, em Viseu, com a escolha dos novos órgãos nacionais e a reeleição de Nuno Melo como líder, depois de a sua moção de estratégia global ter sido aprovada por unanimidade.
A eleição para os órgãos nacionais para o biénio 2024-2026, por voto secreto, decorre durante esta manhã no Pavilhão Cidade de Viseu e, de acordo com o programa, os resultados deverão ser anunciados pelas 12h30.
Entre os órgãos a eleger contam-se a Comissão Política Nacional, o Conselho Nacional, a Mesa do Congresso, o Conselho Nacional de Jurisdição e o Conselho Nacional de Fiscalização.
Após a proclamação dos resultados e a tomada de posse dos novos órgãos eleitos, o presidente, Nuno Melo, fará o discurso de consagração, encerrando os trabalhos da reunião magna que arrancou no sábado.
O atual presidente do CDS-PP, Nuno Melo, recandidata-se à liderança do partido, sem oposição. É líder desde 2022 e recandidata-se para um mandato de mais dois anos, até 2026.
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