"O importante, neste momento, é as pessoas perceberem que esta é uma oportunidade que temos para mudar o poder na região, mas é preciso que as pessoas também deem força àqueles que, como o Bloco de Esquerda, serão o garante de que existirá uma alternativa política e de governação diferente", afirmou o cabeça de lista do partido, Roberto Almada, em entrevista à agência Lusa.
O candidato, também deputado único do BE na Assembleia Legislativa regional, eleito em setembro de 2023, considera, no entanto, que se o partido perder a representação parlamentar provavelmente não haverá "uma alternativa verdadeira".
"Estamos prontos para discutir um programa com todos aqueles que, pela esquerda, queiram criar uma alternativa política ao PSD, mas é uma verdadeira alternativa política, não é uma mera alternância, não é um governo que faça o mesmo", referiu.
Para Roberto Carlos Teixeira Almada, que tem 53 anos (nasceu em 16 de novembro de 1970) e é técnico superior da Administração Pública na área da Educação Social, a crise política decorrente do processo que investiga suspeitas de corrupção no arquipélago poderá beneficiar os partidos mais pequenos, além de ter vindo clarificar "aquilo que tem sido a prática do PSD ao longo dos últimos 40 anos" de governação.
"O Bloco de Esquerda tem sido das forças que têm denunciado situações menos claras, compadrios, favorecimentos e situações de alegada corrupção, e desse ponto de vista nós estamos perfeitamente à vontade, porque sempre denunciámos, não chegámos agora", sublinhou.
O candidato bloquista destacou, entre várias propostas, precisamente o combate à corrupção, defendendo a revisão do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma com vista a estender o regime de incompatibilidades aos titulares de cargos políticos na Madeira, como ao nível nacional.
"Não é aceitável, por exemplo, que, neste parlamento, um deputado que seja empresário esteja num dia a aprovar uma lei da qual pode beneficiar no dia seguinte", alertou, para logo reforçar: "Isso é uma promiscuidade que sempre existiu e que não há maneira de ser alterada."
Roberto Almada, que é militante do BE desde 2004 e antes militou na UDP, destacou, por outro lado, a habitação como uma "questão central" no panorama regional, tendo em conta o elevado preço das casas e das rendas, pelo que defende o estabelecimento de limites a esse nível.
"Não podemos ter apenas habitação de luxo para os grandes empresários estrangeiros", avisou.
Os bloquistas querem impor limitações ao alojamento local para libertar casas para o mercado e estabelecer uma quota de 25% nos novos empreendimentos destinada à habitação social, medidas que devem também ser acompanhadas pela valorização dos salários.
O ambiente e o turismo são outros setores em destaque no programa do BE, com medidas que visam proteger o património natural e atenuar a pressão turística.
"Essa pressão pode dar cabo da nossa galinha dos ovos de ouro que é não só o turismo, como o património natural", sublinhou.
Roberto Almada, que nasceu e reside no Funchal, reforça que o BE não fará acordos com os partidos de direita, pois considera que "querem ir todos com Miguel Albuquerque para o Governo".
Coloca também de parte o PAN, partido que assinou um acordo de incidência parlamentar com os social-democratas após as eleições de 2023, viabilizando o Governo PSD/CDS-PP.
"Naturalmente que se depois das eleições, às quais nós vamos com o nosso programa, existir uma geometria parlamentar que favoreça a criação de uma alternativa política àquela que o PSD nos vem apresentando ao longo dos últimos quase 50 anos, o Bloco de Esquerda só se fosse irresponsável é que se colocaria fora de uma discussão", disse.
O BE perdeu a representação parlamentar na Madeira em 2015, mas regressou em 2023, com a eleição de Roberto Almada, ao obter 3.035 votos (2,30%), num universo de 135.446 votantes.
As antecipadas de 26 de maio ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
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