No período de declarações políticas no plenário da Assembleia da República, a deputada socialista Ana Catarina Mendes, que foi eleita para o Parlamento Europeu no domingo, afirmou que, em pleno período de campanha eleitoral e "ignorando aquelas que foram as advertências da Comissão Nacional de Eleições", o Governo encarregou-se de "fazer uma catadupa de anúncios" para "criar a ideia que é falsa de que estaria a governar".
"Governar não é anunciar ou inaugurar. Governar não é fazer oposição ao anterior Governo. Governar é mesmo encontrar a resposta para os problemas dos portugueses. (...) O que sobra de todos estes anúncios para além da derrota na noite eleitoral? Sobram mesmo promessas sem prazo para que a validade não possa ser nunca escrutinada por esta Assembleia da República", afirmou a deputada socialista naquele que foi, provavelmente, o seu último discurso na Assembleia da República.
Ana Catarina Mendes acusou o Governo de criar uma narrativa que colocou "em causa a credibilidade de Portugal junto da União Europeia", tendo sido já "desmentido três vezes pela própria Comissão Europeia.
"Primeiro nas contas públicas com a confirmação do comissário de que a situação portuguesa era sólida. Depois na execução do PRR, com a comissária a confirmar que a execução portuguesa estava acima da média europeia. E finalmente, no domínio das migrações", enumerou a deputada.
A socialista lembrou a preocupação do Banco de Portugal sobre um possível do regresso do défice orçamental com as novas medidas do executivo, referindo que o Governo está a "desbaratar a credibilidade conquistada ao longo dos últimos anos" e afirmou que o país "voltará no próximo ano ao défice excessivo orçamental".
"Com todas as medidas aprovadas até ao final de abril, a previsão é de um excedente orçamental este ano de 1%. E vai mais longe. Confirma aquilo que o PS tem vindo a dizer desde a campanha eleitoral das legislativas. Com as medidas do programa da AD, Portugal voltará no próximo ano ao défice excessivo orçamental", afirmou.
Ana Catarina Mendes saudou a disponibilidade do Governo para apoiar uma eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu, por este ser o "homem certo nos próximos cinco anos" para aquele cargo de modo a dar "respostas comuns" para os problemas.
Na resposta, à direita, o PSD pediu a Pedro Nuno Santos para que ter cuidado com a sua vitória "por muito poucochinho" nas últimas europeias, lembrando a saída de António José Seguro da liderança do PS, meses após a vitória de Francisco Assis nas europeias.
O CDS questionou se o PS entendeu, pelos últimos resultados eleitorais, que "não tem condições para construir uma alternativa" de Governo e, por isso, deve assumir papel de oposição.
"Há uma coisa que as forças que unem o Governo têm mesmo que perceber. É que os portugueses pediram que houvesse outra forma de governar, que haja maior diálogo", respondeu Ana Catarina Mendes.
O Chega acusou o Governo de apoiar um ex-primeiro-ministro que está sob a "mancha de suspeição de envolvimento num processo-crime", referindo-se ao apoio a uma possível ida de António Costa para o Conselho Europeu.
Na resposta, Ana Catarina Mendes considerou "uma vergonha" que o deputado do Chega tenha "dito o que disse" e feito "acusações a quem é completamente inocente, sem sequer se rir um bocadinho".
À esquerda, o PCP caracterizou Ana Catarina Mendes, pelo seu discurso inicial, como "muito eurodistraída" e o BE criticou o "vergonhoso" novo pacto para as migações da União Europeia que reuniu "unanimidade dos partidos do centro".
Na resposta, a socialista garantiu estar "muito preocupada com o rumo de muitas das questões que estão em cima da mesa na agenda europeia" e reconheceu que o pacto migratório a "envergonha como europeia".
[Notícia atualizada às 16h47]
Leia Também: "Direitos não são para enganar os portugueses, como Bugalho quer fazer"