A Madeira vive momentos de tempestade política, após o Governo Regional minoritário do Partido Social Democrata (PSD), liderado por Miguel Albuquerque, ter dado um passo atrás ao retirar a sua proposta de Programa de Governo.
Os sociais-democratas - que não têm maioria no parlamento regional - preferiram recuar e marcar uma reunião com os partidos que têm assento parlamentar para discutir uma nova proposta, com medidas oriundas das diferentes estruturas.
O Partido Socialista (PS) e o Juntos Pelo Povo (JPP) protagonizaram, então, um momento polémico, após terem falhado a presença na reunião convocada pelos sociais-democratas para esta segunda-feira. "Se alguns partidos querem continuar a manter a dialética exacerbada, radicalizada da campanha, não tem nenhum sentido", reagiu Miguel Albuquerque à ausência destes partidos, admitindo "toda a humildade e toda a disponibilidade para encetar entendimentos" do lado do PSD/Madeira.
Em conferência de imprensa, o líder do PS/Madeira, Paulo Cafôfo, acusou o líder do Governo Regional de "chantagem", afirmando que "o PS não admite que se brinque com a vida dos madeirenses, nem que se esteja a mentir ou a criar factos para dizer que a Madeira não tem, ou poderá não ter, um orçamento aprovado".
Mais, o socialista acusou o líder do PSD/Madeira de se "esconder nos momentos principais, onde deveria ter uma participação ativa e responsável".
Miguel Albuquerque, recorde-se, também não esteve presente na reunião do Governo Regional com os partidos com assento parlamentar (exceto PS e JPP), onde o executivo foi representado por Jorge Carvalho, que tem a tutela dos assuntos parlamentares, por Rui Abreu, chefe de gabinete do presidente do Governo Regional, e por Rogério Gouveia, secretário regional das Finanças.
Em simultâneo, o líder do JPP, Élvio Sousa, disse que não iria "fazer parte de um encontro onde os intervenientes não têm credibilidade no uso da palavra, não são de confiança e praticam a mentira, com a ajuda dos meios de propaganda subsidiados pela região".
Depois do encontro com os restantes partidos com assento parlamentar (exceto PS e JPP), o Governo Regional, pela voz de Jorge Carvalho, disse ter "esperança" que o seu Programa será aprovado e enalteceu a "disponibilidade" das estruturas que fizeram parte do encontro.
Entre elas esteve a Iniciativa Liberal (IL), que pela voz do seu deputado único, Nuno Morna, defendeu uma "postura de diálogo, de abertura", para "fazer aquilo que devia ter sido feito no início e não foi feito, que é falar com as diferentes forças políticas, no sentido destas apresentarem aquilo que são as suas ideias".
O Chega, representado pelo seu líder na Madeira, Miguel Castro, preferiu afirmar que "só no final" das reuniões com o Executivo é que se verá "se há entendimento ou não". "Não está garantido nenhum entendimento para já", disse o líder do partido na Madeira. - que Paulo Cafôfo acusou de recorrer a "artimanhas", seja a "vitimização", seja "de provocar o caos para enganar os madeirenses".
Do lado do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), por sua vez, a deputada única na Madeira, Mónica Freitas, considerou que "neste momento, o problema dos madeirenses deixou de ser Miguel Albuquerque, a partir do momento que já fomos a eleições, que o PSD foi o partido com mais votos e o representante da República considerou que Miguel Albuquerque tinha condições para ser indigitado presidente do Governo".
Mudanças de posição? Chega rejeita: "Nós não"
Por entre os diferentes debates políticos que decorrem, nesta altura, na Madeira, a voz do Representante da República para o arquipélago, Ireneu Barreto, fez-se ouvir mais alto, dizendo que, quando indigitou o Governo Regional, em maio deste ano, "não tinha falado com Miguel Albuquerque" e agia "com base naquilo que foi dito pelos partidos políticos".
"Eu tinha o acordo CDS/PSD e tinha a declaração, dos partidos que ouvi, de que estavam reunidas as conduções para que houvesse um governo de minorias sentado na Assembleia", acrescentou, argumentando que, no entanto, "houve quem tivesse mudado, e essa atitude deve ser respeitada em democracia".
O Chega rapidamente veio responder às afirmações de Ireneu Barreto, vaticinando: "Nós não". "O Chega sempre disse que não viabilizava um governo à esquerda, mas que tinha um problema na equação que se chamava Miguel Albuquerque", acrescentou o líder do partido, Miguel Castro.
Quem também comentou a situação política na Madeira foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dizendo que "o Representante da República está a acompanhar o processo e o problema que se levanta lá [na Madeira], que se levantou nos Açores, que se levantou também a nível nacional, de que é preferível ter um programa viabilizado a não ter um programa viabilizado, é preferível ter um orçamento a não ter".
A Madeira foi a votos em maio deste ano, após o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, quando Miguel Albuquerque foi constituído arguido num processo sobre alegada corrupção. O PSD conquistou 19 lugares, ao passo que o PS não passou dos 11 deputados. O JPP venceu nove mandatos, o Chega outros quatro, o CDS-PP dois e a Iniciativa Liberal e o PAN conquistaram, cada um, um lugar.
[Notícia atualizada às 10h40]
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