O antigo ministro das Infraestruturas, João Galamba, atirou farpas ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e à atual líder parlamentar dos socialistas, Alexandra Leitão, por terem estado incluídos no ‘coro’ de personalidades que o desqualificaram "enquanto ministro", há cerca de um ano, no âmbito da denúncia de violência física no Ministério das Infraestruturas.
Confrontado com a notícia de que o seu ex-adjunto, Frederico Pinheiro, foi constituído arguido e alvo de buscas domiciliárias pela Polícia Judiciária (PJ) devido a suspeitas de acesso ilegítimo a documentos classificados, o antigo governante apontou, em declarações à CNN Portugal, que aguarda a investigação "com a serenidade que gostava de ter visto há um ano".
"Aguardo, obviamente, com serenidade a conclusão desta investigação, serenidade que não vi há pouco mais de um ano, quando assisti um pouco incrédulo a um discurso generalizado de muitos comentadores, que me desqualificou enquanto ministro, incluindo o senhor Presidente da República e, mais desgostoso para mim, alguns colegas do meu partido que, hoje, ocupam lugares de destaque, como a atual líder parlamentar do Partido Socialista", disse, esta sexta-feira.
O atual comentador foi mais longe, tendo feito uso de declarações do antigo presidente norte-americano, Donald Trump, para reforçar que "não há pessoas boas em ambos os lados, nem isto foi uma trapalhada envolvendo um ministro e o seu gabinete", uma vez que "uma pessoa estava a fazer o seu trabalho e houve outra que levou a cabo atos de relevância criminal, incluindo agressões a várias mulheres, e que puseram em causa informação classificada".
"Como disse no início, aguardo com a serenidade que gostava de ter visto há um ano. Se nos crimes económicos se deve seguir o dinheiro, espero que nos crimes de informação se siga o destino da informação", complementou.
Saliente-se que, segundo a TVI/CNN, o antigo elemento do Ministério das Infraestruturas fez uma cópia dos planos de recuperação da TAP e de localização do novo aeroporto, entre outros, antes de devolver o computador ao Estado através de agentes do Serviço de Informações de Segurança (SIS).
Contactado pela Lusa, Frederico Pinheiro disse apenas ser "um cidadão que cumpre a lei, nomeadamente o segredo de justiça".
Em abril de 2023, Frederico Pinheiro foi exonerado das suas funções por "comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades" inerentes ao cargo. Depois de ter sido demitido, o ex-adjunto foi acusado de violência física no Ministério das Infraestruturas, além do furto de um computador portátil, o que terá levado à intervenção do SIS.
Este episódio gerou uma divergência pública entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, António Costa, em torno da permanência de João Galamba no Governo, tendo o responsável apresentado a sua demissão, que o chefe do Governo não aceitou.
Frederico Pinheiro acusou o Ministério de tentativa de ocultação de documentos pedidos pela comissão parlamentar de inquérito à TAP, relativamente às notas do ex-adjunto da reunião preparatória da audição da ex-presidente executiva da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener, na véspera da audição na comissão parlamentar de Economia, em janeiro.
Por seu turno, João Galamba negou as acusações, tendo sublinhado que não houve ocultação, uma vez que as notas, enviadas pelo ex-adjunto no corpo de um email, foram endereçadas à comissão de inquérito.
Já no final de outubro, Frederico Pinheiro avançou com uma queixa, em processo penal, contra António Costa e João Galamba, devido à acusação de roubo.
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