Em entrevista ao canal televisivo NOW, conduzida pela jornalista Judite Sousa, na terça-feira, António Costa foi questionado se, enquanto presidente do Conselho Europeu, pretende ser um "mentor para uma solução de paz na Ucrânia".
"Não, não tenho essa pretensão. Tenho a pretensão de ajudar a União Europeia a contribuir para que a Ucrânia obtenha a paz justa e duradoura a que tem direito, a que os ucranianos têm direito e que nós, europeus, precisamos que a Ucrânia obtenha, porque isso é a garantia de que nós também teremos uma paz justa e duradoura para nós próprios", afirmou.
Já interrogado se considerava que, enquanto presidente do Conselho Europeu, terá capacidade para negociar com o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, Costa respondeu: "Só há uma pessoa com mandato para falar com o Presidente da Rússia e negociar com o Presidente da Rússia, que é o Presidente da Ucrânia".
"Só tem legitimidade para negociar com a Rússia a Ucrânia, e essa legitimidade é uma legitimidade que nós não podemos enfraquecer, nem podemos diminuir", sublinhou.
António Costa salientou que a Ucrânia é "um Estado soberano, democrático, que escolheu a sua liderança política", que tem sido exercida "com enorme coragem e em circunstâncias absolutamente inimagináveis".
"Portanto, temos de respeitar essa liderança e é nosso dever apoiá-la, porque esse apoio à Ucrânia é o apoio a nós próprios", disse.
Costa lembrou que UE já disse que vai apoiar a Kiev "no que for necessário e enquanto for necessário", e que "os termos da paz justa e duradoura só podem ser definidos pela Ucrânia, porque só o agredido tem legitimidade para definir qual é o momento para pôr termo à guerra".
O presidente eleito do Conselho Europeu salientou que os portugueses têm uma "boa razão" para compreender "a importância de se ser firme na afirmação do direito internacional, recuando aos tempos da ocupação indonésia de Timor-Leste.
"Durante quase duas décadas, Portugal teve muitas vezes isolado a defender um pequeno espaço do território, que é uma parte de uma ilha, num arquipélago que tem centenas de ilhas e com muito poucos milhares de pessoas. Mas foi essa firmeza que fez com que uma das grandes potências globais hoje em dia - a Indonésia - tivesse de aceitar respeitar o direito internacional", afirmou.
Para o ex-primeiro-ministro português, não se pode agora ser menos firme com a Rússia do que se foi nessa altura com a Indonésia.
"Nós não podemos pedir aos ucranianos que sejam mais tolerantes com o agressor do que pedimos aos timorenses", defendeu.
Nesta entrevista, Costa afirmou ainda que assume com entusiasmo o cargo de presidente do Conselho Europeu, "mas também com a consciência de que é uma missão particularmente exigente no momento que o mundo e a UE vivem hoje".
"Com uma situação de guerra, uma situação em que a economia europeia tem de fazer um esforço muito grande para recuperar a sua dinâmica, com a perspetiva de um novo alargamento e a necessidade de a Europa se afirmar neste mundo diverso onde está e onde é preciso desenvolver parcerias e encontrar novos amigos nas novas potências emergentes: a Índia, Nova Zelândia e Austrália, o Brasil, a África do Sul", elencou.
À pergunta sobre qual seria, entre Donald Trump e Kamala Harris, o melhor Presidente dos Estados Unidos para a UE e para as relações transatlânticas, Costa respondeu que, olhando para o programa de ambos, quem "reforçará as relações transatlânticas claramente é Kamala Harris".
Questionado se não há dúvidas sobre isso ao nível dos decisores europeus, Costa respondeu: "Não. Se fossem os europeus a votar, eu não tenho dúvidas de quem ganhava".
Leia Também: Fernando Medina arguido no processo Tutti-Frutti? "É bizarro"