A antiga diplomata Ana Gomes considerou, este domingo, que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "tardou a dizer o óbvio", depois de o chefe de Estado pedir o apuramento de responsabilidades administrativas e políticas no caso do INEM, "doa a quem doer".
Esta posição foi partilhada pela socialista no seu habitual espaço de comentário, na SIC Notícias.
"O Presidente tardou a dizer o óbvio, talvez fruto de estar em fim de mandato. Como dizem os americanos, é pato coxo e depenado à conta das gémeas e faz coisas que não se entendem - como aquela de receber Ventura e os seus deputados e lhe dar pódio em Belém, semanas depois de Ventura querer julgar o Presidente por traição à pátria", afirmou.
"Não percebemos. O Presidente ainda tem plenos poderes ate outubro de 2025, ainda são 11 meses. Como é que ele os vai utilizar? Vai servir de calçadeira ao primeiro-ministro ou ainda nos guarda uma surpresa", questionou.
A antiga candidata presidencial defendeu ainda que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, "criou mais problemas para si própria". "A responsabilidade política não espera por investigações de natureza criminal ou outras. E ela não foi assumida", apontou.
Para Ana Gomes, o "problema no INEM" é falta "de gente", "devidamente paga" e é necessário o organismo não depender "das horas extraordinárias", como se verifica no Serviço Nacional de Saúde.
"Não queremos mais disso. Queremos que os profissionais que são bom sejam devidamente pagos. Os profissionais do INEM ganham o mesmo que um caixa de supermercado", rematou.
Recorde-se que o Ministério Público (MP) abriu sete inquéritos às mortes possivelmente relacionadas com falhas no socorro do INEM.
Além dos inquéritos abertos pelo MP, as falhas no socorro por parte INEM, designadamente atrasos no atendimento de chamadas, motivaram igualmente a abertura de um inquérito pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
A demora na resposta às chamadas de emergência agravou-se durante a greve de uma semana às horas extraordinárias dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH), que no dia 04 de novembro coincidiu com a greve da função pública.
A greve dos TEPH acabou por ser suspensa após a assinatura de um protocolo negocial entre o Governo e o sindicato do setor.
Na passada terça-feira, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, disse esperar que a IGAS faça uma "avaliação profunda" sobre se foram cumpridos os serviços mínimos na greve do INEM e garantiu que foi feito tudo o que era possível.
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