Numa intervenção no 22.º Congresso do PCP, em Almada, o membro da Comissão Política do Comité Central do partido defendeu que o capitalismo, quando confrontado com a contestação dos trabalhadores e dos povos, "age como uma besta ferida", com o "avanço do fascismo, a propaganda de guerra e a imposição da corrida aos armamentos".
Para Ângelo Alves, existe uma "nova ordem mundial com regras do imperialismo" que "já nem sequer se preocupa em disfarçar a sua hipocrisia, cinismo e crimes", fomentando, disse, a guerra, o terrorismo, o ódio e sem esconder que "querem alimentar até ao limite a guerra da Ucrânia, mesmo que isso signifique pôr o mundo à beira de uma guerra nuclear".
O dirigente considera que cai a máscara a esta nova ordem mundial "quando dão cobertura ao genocídio na Palestina e apoiam o regime fascista de Netanyahu" e "batem com a mão no peito com o direito internacional para logo a seguir darem e venderem as suas armas aos mais sanguinários e fundamentalistas bandos de terroristas, agora recauchutados como libertadores da Síria".
Ângelo Alves referia-se à ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, que derrubou o governo sírio.
"Se esperavam que nos calássemos perante tão enormes crimes e mentiras, enganam-se. Aqui, neste partido, não há lugar ao medo. Há verdade e coragem para dizer que são eles os criminosos, que são eles que não respeitam a soberania, os princípios e a democracia e que são eles os que espezinham o valor da vida humana", argumentou.
O dirigente reconheceu ainda que "o processo histórico da luta emancipadora é irregular, feitos de avanços e recuos", mas que a "História não para e que o mundo muda todos os dias e o capitalismo nunca foi, não é e não será o fim da História".
A intervenção recolheu aplausos de pé dos delegados e convidados no Congresso que entoaram em conjunto o cântico "paz sim, guerra não".
Antes de Ângelo Alves, o membro da Comissão Política do PCP Armindo Miranda - que deverá estar de saída do Comité Central, de acordo com a lista que será votada esta tarde -, fez uma intervenção em que defendeu a importância de o partido estar voltado para fora.
"Apesar dos avanços verificados, ainda há organizações onde se mantêm bloqueios que impedem a ligação do partido às massas, o que coloca a necessidade e a urgência de os resolver", avisou.
Armindo Miranda salientou que a Conferência Nacional do partido, em 2022, deu uma "ajuda muito importante às organizações para ultrapassar essas dificuldades", elogiando várias iniciativas promovidas pelo partido - como abaixo-assinados, tribunas públicas ou desfiles - e o facto de se terem encontrado e recrutado novos quadros.
"Quer isto dizer que resolvemos todas as nossas dificuldades? Sabemos que não, camaradas. Conhecemos todos situações em que continua a faltar espaço e tempo em organismos do partido para abordar os problemas dos trabalhadores e das populações", avisou.
Armindo Miranda advertiu também que "existem ainda situações em que a componente institucional da nossa atividade prevalece sobre a componente da dinamização da luta" e, por vezes, "ainda falta a audácia e a determinação para tomar a iniciativa".
No entanto, o dirigente do PCP referiu que o balanço é positivo, frisando que "os avanços foram muito grandes e devem ser motivos de grande satisfação e elevação da autoestima" do partido.
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