A primeira mensagem de Natal de Luís Montenegro enquanto primeiro-ministro foi duramente criticada pelos partidos da oposição, que consideraram que o discurso foge à "realidade" do país e acusaram o Governo de "cedência retórica" à extrema-direita.
Esta quinta-feira, os partidos com assento parlamentar que ainda não se tinham pronunciado acentuaram as críticas, enquanto o CDS-PP (partido que integra o Governo) saiu em defesa de Montenegro e do Executivo.
Montenegro vive num país diferente de "99% dos portugueses"
Numa reação à mensagem de Natal de Luís Montenegro, o presidente do Chega, André Ventura, contestou a afirmação do primeiro-ministro de que Portugal é "um dos países mais seguros do mundo", antevendo que os dados relativos ao próximo ano poderão vir a demonstrar esta posição.
"Ninguém ou quase ninguém em Portugal consegue ver esse país, consegue pensar que acorda num país seguro ou se deita num pais seguro", afirmou.
Ventura sublinhou que, com as eleições de 10 de março, Portugal teve "um Governo novo e uma maioria nova", mas considerou que o espírito do executivo PSD/CDS-PP "parece ser o mesmo de António Costa".
"Queria que uma mensagem de Natal de um primeiro-ministro fosse de tranquilidade, de esperança e de garantia de que estará ao lado das forças de segurança contra os criminosos, que estará ao lado das forças de segurança contra aqueles que querem desprestigiar e destruir a polícia", disse, contrapondo que Montenegro apenas fez "um discurso redondo" que poderia ter sido feito pelo seu antecessor socialista.
PAN acusa Montenegro de incoerência e diz que "passe das palavras à ação"
Quem também reagiu no dia de hoje foi a porta-voz do PAN, que acusou o primeiro-ministro de "dizer uma coisa no Natal e fazer outra durante o ano todo" e apelou ao Governo que "passe das palavras à ação" para responder aos "desafios prementes para 2025".
Em declarações aos jornalistas na sede do PAN, em Lisboa, Inês de Sousa Real considerou que os problemas "estão há muito diagnosticados" e continuam a ser sentidos em "todos os natais", sublinhando a necessidade de serem resolvidos.
A líder do PAN defendeu que "não vale a pena Luís Montenegro dizer que está ao lado de profissionais como os polícias, bombeiros, professores e, no momento de votar, permitir que a sua bancada, o PSD, vote contra a valorização destes profissionais".
Sousa Real disse também "não se emocionar" quando o primeiro-ministro "vem falar dos combate às alterações climáticas" ou proteção animal, porque, acrescentou, o PSD opõe-se no parlamento às medidas apresentadas pelo PAN para combater a pobreza energética ou inscrever no Orçamento do Estado as verbas destinadas especificamente à proteção animal.
A porta-voz do PAN apelou ao executivo que "passe das palavras à ação" em 2025, por força, exemplificou, do contexto de guerra, das alterações climáticas ou para responder a problemas sociais como a pobreza, a imigração ou a segurança.
CDS apoia políticas do Governo. Críticas da Esquerda? "Não fazem sentido"
Já o líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, afirmou que os centristas se reveem e apoiam a política de segurança do Governo e considerou que as críticas da esquerda à operação no Martim Moniz "não fazem qualquer sentido".
Numa reação à mensagem de Natal do primeiro-ministro, sede nacional dos centristas, em Lisboa, que integram o Governo minoritário com o PSD, Paulo Núncio defendeu que várias das políticas às quais o chefe do executivo fez referência "correspondem a causas pelas quais o CDS se tem batido nos últimos anos".
Paulo Núncio considerou ainda que Luís Montenegro "fez muito bem em colocar a questão da segurança na sua mensagem de Natal, porque a segurança é um direito fundamental dos cidadãos e a polícia tem a obrigação de defender e assegurar este direito fundamental dos cidadãos".
Interrogado sobre as críticas dos partidos da oposição, nomeadamente à esquerda, que acusaram o líder do executivo de ter proferido uma mensagem de Natal que não corresponde à realidade dos portugueses, o também vice-presidente do CDS-PP desvalorizou.
"É normal. A esquerda deixou o país em situação de caos social e, por isso, tem dificuldade em perceber um Governo capaz de tomar decisões, que não tem medo de tomar decisões e que tem invertido um conjunto de políticas que levaram o país para a situação muito negativa em que nós o encontrámos depois de ganhar as eleições", respondeu.
É de realçar que os restantes partidos já tinham reagido ontem à mensagem de Natal de Montenegro, considerando que este descreveu "um país ao contrário" e acusando-o de viver num "oásis". Já o PSD falou numa mensagem "de esperança no futuro próximo".
Luís Montenegro defendeu que 2024 foi "um ano de viragem e de mudança" e assegurou que a "nova política de baixar os impostos e valorizar os salários e as pensões" está a ser realizada "com rigor e equilíbrio orçamental".
Na sua primeira mensagem de Natal enquanto primeiro-ministro, Luís Montenegro incluiu nas prioridades para o futuro a promoção de uma "imigração regulada" e o combate à criminalidade -- sem ligar os dois temas -, a par do reforço dos serviços de saúde, educação, transportes e da execução do "maior investimento em habitação pública desde os anos 90".
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