"Eu penso que o que está a acontecer em Moçambique é particularmente grave. Estamos a ter um ataque sem precedentes contra a democracia moçambicana, mas também um ataque brutal àqueles que querem transformar o poder absolutamente dominante da Frelimo nos últimos anos", afirmou André Ventura em conferência de imprensa na sede do partido, depois de questionado pelos jornalistas sobre a situação política em Moçambique.
O líder do Chega referiu-se aos acontecimentos desta manhã, em que a polícia dispersou, com recurso a tiros e gás lacrimogéneo, apoiantes que ouviam o candidato presidencial Venâncio Mondlane, uma hora depois de ter regressado ao país, com pessoas a serem atingidas.
Três meses depois das eleições gerais moçambicanas, Ventura considerou que "o ataque que tem sido feito ao Venâncio Mondlane tem sido absolutamente aterrador" e afirmou que a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, "está a atuar fora dos limites da lei da democracia".
"Devemos exigir democracia independente e auditada a Moçambique, e Portugal tem aqui um papel fundamental. O Governo português deve ser duro com a Frelimo e, nas instâncias internacionais bilaterais e multilaterais, deve fazer pressão para que a Frelimo mude esta linha de atuação que tem tido face aos outros políticos, de perseguição permanente, como está a acontecer com o candidato Venâncio Mondlane, de perseguição e de ataque aos seus apoiantes, sendo que já há dezenas de mortos causados por esta instabilidade e, portanto, o Governo da Frelimo tem de ser responsabilizado por isso", defendeu.
O líder do Chega disse que um deputado dos seus deputados "tem estado em contacto com o candidato" e que o partido está a "acompanhar a situação" e vai procurar apoiar "dentro do possível".
Segundo os resultados divulgados em 23 de dezembro pelo Conselho Constitucional de Moçambique, o candidato da Frelimo - partido no poder desde a independência do país -, Daniel Chapo, venceu com 65,17% dos votos a eleição para Presidente da República.
Perante esses resultados, o Presidente da República português fez publicar nesse mesmo dia uma nota referindo que "tomou conhecimento dos candidatos e da força política declarados formalmente vencedores por aquele Conselho", mas na qual não menciona Daniel Chapo nem faz a habitual saudação ao proclamado Presidente eleito.
Por sua vez, o primeiro-ministro escreveu na rede social X: "Concluído o processo eleitoral pelo Conselho Constitucional e designado Daniel Chapo como Presidente eleito de Moçambique, sublinhamos o propósito de que a transição que agora se inicia possa decorrer de forma pacífica e inclusiva, num espírito de diálogo democrático, capaz de responder aos desafios sociais, económicos e políticos do país".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros foi mais além, declarando em comunicado que "o Governo português está disponível para trabalhar com o novo Presidente e com o Governo moçambicanos em prol do reforço dos laços estratégicos entre os dois países, na continuidade dos laços históricos de amizade entre os dois povos" e quer manter-se "como parceiro-chave, contribuindo para o progresso sustentável e a paz em Moçambique".
Leia Também: Professores moçambicanos acusam Governo de mentir sobre pagamento de horas extra