No final de uma audição sobre o "setor automóvel: defender os interesses do país e dos trabalhadores num setor em mudança", organizada pelo PCP na Assembleia da República, Paulo Raimundo considerou que Portugal não pode "prescindir de uma abordagem soberana" sobre o setor automóvel e deve "potenciar as suas condições instalar, o equipamento adquirido" e "planear no presente para construir no futuro".
"Nós temos tido tudo menos planeamento, menos estruturação, menos pensar o futuro e construir o presente a partir desse plano do futuro, para potenciar a capacidade instalada, para ir mais longe, onde podemos ir salvaguardando os interesses dos trabalhadores, das micro, pequenas e médias empresas", defendeu.
Para Paulo Raimundo, Portugal precisa de salvaguardar os seus interesses nacionais, "num caminho de definição soberana do seu rumo e não apenas em função da vontade das multinacionais e à espera de quando é que chega a pneumonia quando se espirra na Alemanha ou em França".
"É preciso uma definição de uma estratégia nacional clara, integrando todas as áreas e subsetores do ecossistema automóvel em Portugal, o tal planeamento. É preciso também que as associações empresariais e comerciais do setor automóvel tenham um papel mais relevante, mais ativo, mais defensor também deste rumo próprio", afirmou.
O secretário-geral do PCP considerou que, com essa estratégia, "muito poderá ser feito na resposta aos problemas da competitividade da indústria portuguesa, com medidas especialmente dirigidas às melhorias das condições de acesso a custos e fatores de produção na indústria do automóvel".
"Medidas no que diz respeito à energia, às telecomunicações, no crédito, nos serviços bancários, mas também nos processos de transição energética adaptados à nossa realidade específica e não a partir de alguém que, confortavelmente no seu gabinete, define qual é grelha para cada país, qual é o ano para cada país, como é que se faz em cada país numa grelha de Excel ou num bonito PowerPoint", disse.
Paulo Raimundo frisou que o setor automóvel é "altamente rentável", tem "retornos consideráveis" e não tem "nenhum problema de falta de produção", como demonstram os dados divulgados hoje que indicam que, em 2024, a Autoeuropa produziu mais de 236 mil carros em 2024, o maior volume no pós-pandemia.
Raimundo frisou que, apesar desse "grau de produção, de intensidade e de especialização", o setor continua a ser marcado por "baixos salários", "riscos desnecessários" e "alta taxa de precariedade laboral", impedindo os trabalhadores de "ganharem a experiência necessária para o trabalho específico que têm".
"E este é um outro problema de uma visão curta, pequena, de que quem quer rentabilizar ao máximo, no menor curto tempo possível, acumular e acumular lucros. Não é disto que o país precisa: precisa de criar riqueza, criar lucros e distribui-lo melhor", sustentou.
Paulo Raimundo salientou que os contributos que o PCP recebeu hoje na audição lhe vão permitir apresentar um projeto de resolução sobre o setor automóvel na Assembleia da República e fazer várias questões no Parlamento Europeu sobre a forma como esta matéria está a ser abordada nos diferentes órgãos da UE.
O secretário-geral do PCP garantiu ainda que o partido vai manter o seu compromisso "de garantir aos trabalhadores, às micro, pequenas e médias empresas do setor" uma melhoria nas suas condições, em particular direitos e salários, mas também em garantir o desenvolvimento do país, "defendendo os interesses nacionais".
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