Três deputados do Chega envolveram-se em problemas com a Justiça ao longo das últimas duas semanas. O primeiro caso envolveu o deputado Miguel Arruda, suspeito de furto qualificado, o segundo o deputado regional José Paulo Sousa, apanhado a conduzir sob efeito do álcool, e o terceiro - e mais grave - envolveu o deputado municipal Nuno Pardal, acusado de prostituição de menores.
Dos crimes à posição do líder, André Ventura, eis o que se sabe de cada caso:
Miguel Arruda - Constituído por furto qualificado
A primeira polémica estalou no passado dia 21 de janeiro, quando o deputado Miguel Arruda, eleito pelo Chega no círculo dos Açores, foi constituído arguido por suspeita do furto de malas no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. No mesmo dia, a Polícia de Segurança Pública (PSP) realizou buscas nas suas casas, em São Miguel e em Lisboa.
Miguel Arruda terá furtado malas dos tapetes de bagagens das chegadas do aeroporto de Lisboa quando viajava vindo dos Açores no início das semanas de trabalhos parlamentares. No entanto, a PSP indicou que o deputado do Chega não foi detido, porque primeiro era necessário o levantamento da sua imunidade parlamentar.
Em declarações aos jornalistas, na altura, André Ventura exigiu a Miguel Arruda a renúncia ou suspensão do mandato: "Queria pedir a Miguel Arruda que renunciasse ao seu mandato de deputado. Perante o que aconteceu, perante a evidente fragilidade psíquica em que se encontra, perante a evidência dos factos, não tenho outro caminho enquanto presidente do partido, em nome da dignidade, de Portugal, do grupo parlamentar no qual foi eleito, que renuncie ao seu mandato", afirmou.
Dois dias após ser constituído arguido, Miguel Arruda reuniu-se com o líder do Chega e anunciou que ia desfiliar-se do partido e passaria a deputado não inscrito.
O deputado participou pela última vez numa sessão plenária a 24 de janeiro - quando o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, anunciou que passaria a não inscrito - e só regressou esta quinta-feira, após dez dias de baixa psiquiátrica.
José Paulo Sousa - Apanhado a conduzir sob efeito do álcool
O segundo caso foi tornado público esta quinta-feira e envolve um deputado do Chega Açores. José Paulo Sousa foi apanhado numa operação STOP a conduzir com 2,25 g/l de álcool no sangue, na madrugada de domingo, dia 2 de fevereiro, na ilha das Flores, uma situação que configura crime, segundo o Açoriano Oriental.
Nas redes sociais, o deputado manifestou "arrependimento pelo erro grave" e acrescentou que tudo aconteceu depois de uma "noite de convívio com amigos e conhecidos".
Disse ainda aceitar "as consequências" dos seus atos e garantiu que foi "o mais cooperativo possível" com as autoridades, a quem agradeceu.
Contactado pelo Notícias ao Minuto, o deputado açoriano disse que não vai prestar mais declarações sobre o assunto. "Simplesmente não deveria ter acontecido e assumo que não deveria ter acontecido. Assumo toda a responsabilidade dos meus atos, posto isso, não há qualquer declaração que justifique", reiterou.
Nuno Pardal - Acusado de dois crimes de prostituição de menores
Também esta quinta-feira, o Expresso noticiou que o deputado do Chega à Assembleia Municipal de Lisboa Nuno Pardal foi acusado pelo Ministério Público de dois crimes de prostituição de menores.
De acordo com o semanário, o deputado do Chega, de 51 anos, praticou "sexo oral 'mútuo'" com um rapaz de 15 anos, a troco de 20 euros.
Nuno Pardal e o jovem conheceram-se no Grindr, uma aplicação usada para convívio entre homossexuais, passando depois a comunicar via Whatsapp. No dia 11 de julho de 2023, após um encontro junto a uma estação de comboios, os dois seguiram no carro do homem em direção a um pinhal. Durante o trajeto, o conselheiro nacional do Chega perguntou ao rapaz que idade tinha e este respondeu 15, segundo a acusação.
A acusação do Ministério Público (MP) contra o dirigente do Chega requer também a proibição de exercer funções públicas ou privadas que envolvam contacto com menores.
O caso foi denunciado à Polícia Judiciária pelos pais do menor depois de terem tido acesso às mensagens do WhatsApp no telemóvel do filho.
Ao Expresso, Nuno Pardal não negou o encontro com o adolescente, mas disse desconhecer que era menor de idade. "Irei serenamente preceder à minha defesa, lamentando profundamente a situação desagradável para todas as partes", afirmou.
Em reação a este último caso, André Ventura afirmou que o "Chega não pode ter uma cara para dentro e uma cara para fora" e que tem "tolerância zero para com o crime, seja ele cometido por quem for".
O líder do Chega anunciou que "foi aberto um processo interno para averiguar toda a circunstância envolvida" e que pediu a Nuno Pardal "que abandone todos os lugares dentro do Chega".
Questionado sobre se continua a apoiar a castração química, Ventura afirmou que "defenderia exatamente a mesma castração química para pedófilos ou para abusadores de menores" que defende "para todos os outros", mesmo que fossem seus familiares ou amigos.
Nuno Pardal demitiu-se da vice-presidência da distrital de Lisboa do partido, depois de renunciar ao mandato de deputado municipal.
A informação foi transmitida pela Comissão Política Distrital de Lisboa, em comunicado assinado em conjunto com o Conselho de Jurisdição Distrital de Lisboa.
"Nuno Pardal Ribeiro renunciou, já, ao seu mandato como vice-presidente desta Comissão Política Distrital, por entender não reunir condições para o efeito, pedido este que foi aceite com efeitos imediatos", lê-se na nota.
A distrital de Lisboa do Chega, presidida pelo deputado Pedro Pessanha, disse ter recebido "com profunda consternação" as "acusações de extrema gravidade" contra Nuno Pardal Ribeiro e repudiou "quaisquer atos que atentem contra os valores" defendidos pelo partido.
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