No debate sobre a moção de censura ao Governo PSD/CDS-PP apresentada pelo Chega, no parlamento, os partidos pediram esclarecimentos ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, e deixaram algumas críticas, mas um dos principais visados acabou por ser o partido de André Ventura.
O líder da IL, Rui Rocha, fez uma intervenção para criticar a apresentação da moção, advertindo que "há coisas que justificam um juízo crítico" sobre o Governo, como os problemas na saúde ou na habitação, mas nenhum é referido na iniciativa daquele partido.
Rui Rocha elencou "oito razões" para o Chega ter apresentado uma moção de censura, enumerando oito casos de membros do partido que se viram envolvidos recentemente em polémicas, como o do ex-deputado Miguel Arruda, eleito pelo Chega nos Açores e que está acusado de oito crimes de furto qualificado, das declarações de Diva Ribeiro sobre Ana Sofia Antunes, deputada cega do PS, ou de Nuno Pardal, deputado municipal acusado de prostituição de menores.
Também a coordenadora do BE dirigiu duras críticas ao partido liderado por André Ventura, e considerou que "nada é por acaso, tudo na atuação do Chega é calculado e ensaiado", ou seja, "os insultos não são apenas má educação, os métodos violentos não são excessos, as bizarrias não são estupidez".
Mariana Mortágua exortou André Ventura a pedir desculpa aos portugueses "por agendar uma moção de censura para tapar as vergonhas da sua bancada" e por "todo o oportunismo político".
A líder bloquista lembrou também que o Chega permitiu que a lei dos solos continuasse em vigor, adiou as votações das propostas de alteração em comissão, e salientou que há deputados do seu partido que também têm empresas imobiliárias e não pediram escusa na votação.
Pelo PCP, o deputado António Filipe afirmou que não acompanhava a moção de censura do Chega, "não porque o Governo não mereça ser censurado, mas porque a moção é apresentada pelo partido mais censurável da assembleia da República e que apresenta esta moção para afastar as atenções da censura pública que recai sobre si próprio".
Separando os dois planos, António Filipe considerou que Luís Montenegro deve "explicações ao país sobre o caso que o envolve, porque independentemente do que é essencial, que são as opções políticas do Governo, não podem subsistir dúvidas sobre a idoneidade pessoal de um primeiro-ministro ou de um qualquer governante para o exercício do cargo".
O porta-voz do Livre Rui Tavares também começou a sua intervenção por criticar o partido liderado por André Ventura: "Que supremo descaramento um partido que todos os dias, pinga a pinga, nos trazia escândalos uns após os outros, vir agora a agarrar-se como tábua de salvação a uma moção de censura".
Tavares afirmou nunca ter visto André Ventura a "fazer aquilo que exige aos outros", criticando ainda o facto de o Chega não ter votado a favor da revogação da lei dos solos.
Pelo CDS-PP, o líder parlamentar Paulo Núncio, afirmou, diretamente para André Ventura, que "a demagogia vira-se sempre contra os demagogos" que "provam sempre o seu próprio remédio".
"Quanto a esta moção de censura, senhor primeiro-ministro, pergunto-lhe como a qualifica. Como uma irresponsabilidade, pois não há qualquer alternativa a este Governo? Como uma imaturidade, porque insinua e ofende, mas não prova nem demonstra coisa absolutamente nenhuma? Ou como uma fuga para a frente do Chega para tentar desviar as atenções dos graves problemas internos desse partido?", atirou.
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