Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, Mariana Mortágua defendeu que Luís Montenegro tem de esclarecer imediatamente várias questões sobre a Spinumviva, designadamente "quem são os clientes do primeiro-ministro, que tipo de serviços são prestados" e em que data e quais são as remunerações desses serviços.
"O primeiro-ministro tem um prazo muito curto para poder dar estas informações, e na verdade, foi o próprio que hoje estabeleceu esse prazo: até amanhã [sábado] às 20:00, o país tem de conhecer todas as informações", afirmou.
Mariana Mortágua frisou que Luís Montenegro "tem uma chance de evitar que o parlamento tome nas suas mãos este assunto".
A Assembleia da República "tem mecanismos para o fazer - para esclarecer o país, obrigar à transparência, evitar a opacidade - e é isso que faremos se a isso formos obrigados. E, por isso, eu queria deixar esta mensagem ao primeiro-ministro: só há uma chance e só há pouco mais de 24 horas. O prazo é até amanhã às 20:00", reforçou.
Questionada sobre a que tipo de instrumentos parlamentares é que admite recorrer, Mariana Mortágua respondeu: "Nós podemos fazer um levantamento teórico dos mecanismos possíveis, sabemos desde logo que as comissões de inquérito são uma possibilidade".
"Parece-me, no entanto, que era importante que o primeiro-ministro esclarecesse todas as dúvidas antes de obrigar o parlamento a tomar qualquer uma dessas decisões e a fazer-se valer de qualquer um desses instrumentos", disse.
Já interrogada se admite propor ou apoiar uma eventual moção de censura ao Governo de Luís Montenegro, Mariana Mortágua respondeu que "o Bloco de Esquerda avaliará os instrumentos que tem à sua disponibilidade depois".
"Não hesitaremos em usar nenhum, mas, neste momento, queremos deixar claro que este é o prazo que o primeiro-ministro tem", reiterou, acrescentando que "ou o primeiro-ministro está disposto a esclarecer todas estas informações ou tem de estar disposto a aceitar as consequências da sua opacidade e da sua falta de transparência".
"Eu espero que o primeiro-ministro compreenda que, a partir do momento em que marca esta conferência de imprensa, o país espera esclarecimentos definitivos e cabais. O parlamento também. (...) Se não o fizer, cá estaremos amanhã às 21:00 para comunicar-vos o nosso entendimento e o que pretendemos fazer a seguir", disse, avisando que esta é a "última chance" que Luís Montenegro tem para dar explicações.
O grupo de casinos e hotéis Solverde, sediado em Espinho, revelou ao semanário Expresso que paga à empresa detida pela mulher e os filhos do primeiro-ministro, Spinumviva, uma avença mensal de 4500 euros desde julho de 2021, por "serviços especializados de 'compliance' e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais".
O acordo entre a Spinumviva e a Solverde foi assinado seis meses após a constituição da empresa agora detida pela mulher e os filhos de Montenegro, em Julho de 2021.
De acordo com o Expresso, Luís Montenegro trabalhou para a Solverde entre 2018 e 2022, representando o grupo nas negociações com o Estado que resultaram numa prorrogação do contrato de concessão dos casinos de Espinho e do Algarve.
Esse contrato de concessão chega ao fim em dezembro deste ano e haverá uma nova negociação com o Estado, acrescenta o semanário.
[Notícia atualizada às 12h41]
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