"Disse que a oposição não lhe dá estabilidade política. E, por isso, a moção de confiança hoje é um apelo à responsabilidade do Chega e do PS que podem determinar essa maioria. Mas nós não nos esquecemos de quem é que quando chegou aqui ao parlamento, a primeira expressão que utilizou não foi pedir estabilidade, foi dizer «não é não». Então se «não é não», «não é não», senhor primeiro-ministro", lembrou André Ventura, no debate da moção de confiança ao Governo, no parlamento.
O líder do Chega considerou que Luís Montenegro "teve nas mãos a possibilidade de construir uma maioria histórica" após os resultados das eleições legislativas de 2024, nas quais o Chega elegeu 50 deputados (agora 49, depois de Miguel Arruda ter passado à condição de não inscrito).
"Não foi mais ninguém, se não o senhor primeiro-ministro, se não a sua arrogância, a sua altivez, a sua incapacidade em dialogar, que podem levar aqueles senhores novamente ao Governo de Portugal", acusou, ao mesmo tempo que apontava para a bancada do PS.
Ventura acusou ainda o Governo minoritário PSD/CDS-PP de se ter "vendido ao PS" em áreas como a imigração ou no IRC.
Na resposta, o chefe do executivo disse "registar as lágrimas de crocodilo" de André Ventura e devolveu a acusação, afirmando que "foram mais as vezes que o Chega esteve de braço dado com o PS do que aquelas que não esteve".
"Assim foi na eleição do Presidente da Assembleia da República, assim foi inviabilizando a proposta do Governo de diminuição do IRS para a classe média, na abolição das portagens nas ex-Scut, assim foi inviabilizando a criação de uma unidade de estrangeiros e fronteiras na PSP, assim foi no âmbito do IVA da eletricidade", enumerou.
Montenegro considerou que "os eleitores que votaram no Chega a olhar para uma alternativa ao socialismo viram que afinal de contas, por razões mesquinhas da política, o Chega sucumbiu àquilo que é a ideia de governação do PS".
Sobre o facto de ter afirmado, em entrevista à TVI/CNN na segunda-feira, que será candidato nas eleições legislativas mesmo que seja constituído arguido no âmbito de um eventual processo relacionado com a empresa da sua família, Montenegro salientou que não está "a contar ser suspeito de coisa nenhuma".
"Perante a pergunta que me foi colocada, se fosse constituído arguido no âmbito das averiguações que estão a ser feitas sobre esta situação concreta, se eu mantinha a minha candidatura, mantenho, sim. Porque tenho a consciência totalmente tranquila sobre o cumprimento das normas legais e sobre o cumprimento dos meus deveres de função", insistiu.
Depois de André Ventura ter acusado o Governo de já ter "arranjado um tacho" a "um terço dos autarcas do PSD em fim de mandato", Luís Montenegro respondeu que em causa estão pessoas com "um acumular de competência" e "conhecimento que os habilita a desempenhar outras funções públicas".
"Já o senhor deputado André Ventura gosta mais de ir aos restos das listas das eleições legislativas recrutar aqueles que quer para compor, nomeadamente, as suas bancadas", atirou.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, sublinhou que não está em causa se um primeiro-ministro pode ou não ter património, passado e profissão ou até participações em empresas.
"Não vale a pena o discurso demagógico em que se faz de uma vítima impedida de ter vida profissional porque não é isso que está em causa", criticou, salientando que está em causa um "dever de exclusividade" e que o primeiro-ministro apresentou a moção "por iniciativa própria".
Luís Montenegro insistiu na sua disponibilidade para "aprofundar mais as respostas" sobre a empresa Spinumviva, e suspender o debate sobre a moção de confiança - afirmação que contou com um pequeno reparo do presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, salientando que é a si que tem que ser feito esse pedido.
O líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, criticou a "espiral destrutiva das oposições" e o impacto que a convocação de eleições antecipadas pode ter na economia do país, com o primeiro-ministro a insistir que cabe ao PS dizer se o executivo tem ou não condições para continuar em funções.
[Notícia atualizada às 16h40]
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