"O que assistimos hoje é, de facto, a prova de que o Governo e o senhor primeiro-ministro estão desesperados. Pretenderam suspender estes trabalhos, que têm procedimentos públicos, claros, (...) não sabemos bem para quê, para fazer uma reunião privada, que não é nem claro, nem transparente", criticou Alexandra Leitão, no debate da moção de confiança ao Governo minoritário PSD/CDS-PP.
Esta acusação da deputada socialista surgiu momentos depois de o parlamento ter rejeitado um pedido feito pelo presidente da bancada do PSD, Hugo Soares, que pretendia suspender o debate para uma reunião de meia hora entre estes dois grupos parlamentares.
"O Partido Socialista quer esclarecimentos para este parlamento, para o país e para os portugueses e, portanto, têm de ser públicos", argumentou.
Lembrando que os socialistas sempre deixaram claro que votariam contra uma moção de confiança apresentada pelo executivo, Alexandra Leitão argumentou que apresentar este instrumento mostra vontade do chefe do executivo de se "eximir e fugir àquilo que é um instrumento parlamentar normal, transparente e democrático, que é uma comissão parlamentar de inquérito".
"Se quer prestar esclarecimentos, faça-o publicamente, de acordo com as tramitações públicas, legais e regulamentares, sujeitos à comissão parlamentar de inquérito e retire a moção de confiança", insistiu a socialista.
Antes, durante um período de intervenções de fundo, a deputada do PSD Regina Bastos reiterou a confiança da sua bancada parlamentar no Governo e no primeiro-ministro, deixando duras críticas ao líder do PS.
"Ontem, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou com pose de grande moralista que a empresa Spinumviva foi criada pelo primeiro-ministro quando já exercia o cargo com o objetivo de receber avenças. A mentira, a calúnia, a desonestidade intelectual passaram em horário nobre", criticou.
Regina Bastos acusou o PS de incoerência, ao votar contra as duas moções de censura ao executivo apresentadas por Chega e PCP, "segurando o Governo se o instrumento for a moção de censura, mas derrubando se for uma moção de confiança".
"Isto é a total inanidade política", atirou, considerando que os socialistas estão "desesperadamente tentar salvar a face".
A social-democrata considerou que o chefe do executivo "esclareceu tudo" e "enfrenta esta moção com a dignidade de quem não tem nada a temer e nada a esconder".
O deputado Bruno Ventura, do PSD, criticou o PS por viver "obcecado com o seu regresso ao poder" mas também visou a bancada do Chega, acusando o partido de André Ventura de transformar a confiança dos eleitores "em birras, calúnias e num bloqueio político-institucional"
Pelo CDS-PP, o líder parlamentar Paulo Núncio manifestou a sua confiança no Governo, porque "melhorou o económico, alargou o social e dignificou o institucional".
O centrista defendeu que "a responsabilidade política quando é autêntica não pode depender de humores, temperamentos e muito menos estados de alma" e deixou um derradeiro apelo ao secretário-geral do PS para que priorizasse "os interesses nacionais".
Neste período do debate, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, defendeu que a exclusividade do primeiro-ministro "não é uma matéria de negociação entre PS e PSD" e acusou os sociais-democratas de fazerem "jogo político" ao proporem esta reunião privada a meio do debate.
[Notícia atualizada às 18h15]
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