O antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes considerou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, "sabe bem" que tem os Estados Unidos e o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, "na mão", ficando Moscovo numa "posição mais consolidada" depois do telefonema de terça-feira entre os dois líderes.
Num comentário na CNN Portugal, Azeredo Lopes começou por afirmar que "fica muito pouco" da conversa entre Trump e Putin.
"Mais uma vez se comprova que, a partir do momento em que se dá vantagem a Vladimir Putin num processo negocial, ele aproveita-o, naturalmente, e consegue justamente deixar aquela impressão muito estranha em que estávamos à espera de ver anúncios mais ou menos eufóricos por parte do presidente norte-americano e vemos um 'post', que eu não gostaria de chamar pindérico, mas bastante modesto, na Truth Social", disse, em referência à publicação do presidente norte-americano na sua rede social.
Para Azeredo Lopes, "no fim do dia fica uma posição cada vez mais consolidada da Rússia relativamente a uma interrupção mais prolongada das hostilidades" e também "uma posição de especial fraqueza da Ucrânia".
"Parece-me que Putin sabe bem que, neste momento, tem de alguma forma os Estados Unidos e especialmente Trump na mão. Trump coloca-se nos seus braços quando diz que o valor principal que ele quer atingir é o da cessação das hostilidades", considerou.
O antigo governante entende que "estão em situação mais difícil os Estados Unidos, particularmente Trump". "Não vejo facilmente como é que ele pode descaçar uma bota tão pesada como aquela que hoje lhe foi oferecida de bandeja", completou.
Recorde-se que Trump acordou com Putin uma trégua de 30 dias limitada às infraestruturas energéticas. Após uma conversa telefónica, os dois líderes também acordaram iniciar as negociações de paz de imediato, indicou um comunicado da presidência norte-americana. As futuras negociações vão ter lugar no Médio Oriente.
Moscovo concordou também com a troca de 350 prisioneiros de guerra - 175 de cada lado - com a Ucrânia, na quarta-feira e, como gesto de boa vontade, Putin informou que Moscovo ia entregar 23 prisioneiros gravemente feridos a Kyiv.
A Rússia estabeleceu condições para o fim das hostilidades, incluindo o fim do rearmamento de Kyiv, e a interrupção da ajuda militar ocidental às forças ucranianas.
Além da suspensão dos ataques às infraestruturas, a Casa Branca assinalou também "negociações técnicas sobre o estabelecimento de um cessar-fogo marítimo no mar Negro, um cessar-fogo abrangente e uma paz duradoura" na Ucrânia.
Desde que regressou ao poder, em 20 de janeiro, Donald Trump iniciou uma reaproximação à Rússia, após o congelamento de relações entre os dois países durante o mandato de Biden, devido à invasão da Ucrânia.
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