"Não me canso de repetir que para o turismo, para a economia e para o país não é bom haver uma crise política. O que é que as economias, o que é que as empresas, o que é que os investidores - que é algo que precisamos tanto - precisam? De estabilidade. Tem que se saber que se vai investir num país em que o amanhã é igual ao de hoje. E ao que é que assistimos? Assistimos que há cerca de um ano, um partido com maioria absoluta - coisa raríssima na Europa mas que existiu em Portugal - caiu antes da legislatura", começou por recordar Francisco Calheiros à Lusa.
Entretanto, "há novas eleições e há um novo partido, esse sim, sem maioria absoluta, e insisto - a três dias de fazer um ano - cai. Isto é completamente impossível. Temos um partido que acaba de ser eleito há menos de um ano. Tem que formar governo, convida ministros novos, forma secretários de Estado, forma gabinetes, conhece os dossiês, apresenta um programa de governo, vai à votação. Quer dizer, estamos praticamente a dar os primeiros passos", e o país vai de novo a eleições", insurge-se Francisco Calheiros, destacando "há uma quantidade de coisas em 'pipeline' [projetos no papel] para o curto prazo" e que isso é que é importante, porque "cria valor".
Em 11 de março, o parlamento chumbou a moção de confiança apresentada pelo Governo, provocando a sua demissão.
Na quarta-feira, com efeitos a 20 de março, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assinou o decreto que dissolveu o parlamento e marcou eleições legislativas antecipadas para 18 de maio, oficializando o anúncio que fez no dia 13 de março.
"Além de ser mau termos um problema de falta de estabilidade, também me preocupa, além das eleições, o dia a seguir. Porque a fazer fé no que a comunicação social e as sondagens têm apresentado não se vislumbra uma situação diferente, um partido, por exemplo, vir a ter uma maioria absoluta. Não ter que negociar com a esquerda, nem com a direita, com ninguém. Formar o governo e, gostem ou não gostem, passa no parlamento", considerou o presidente da confederação, que agrega várias atividades do setor do turismo.
Francisco Calheiros conclui, assim, que há três pontos fulcrais: "A crise é má, as eleições não convêm a ninguém, e o dia a seguir vai ser complicado".
O responsável sublinhou ainda o facto de o país parar na atual conjuntura, nomeadamente no setor, a privatização da TAP, a ferrovia, ou as negociações com a ANA sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa, Luís de Camões.
"Para tudo. As reformas estruturais quando o Governo está sob gestão param todas. Isso é dramático", reforçou.
Na quarta-feira, o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, afirmou que um Governo em gestão não está parado, embora com dossiês em suspenso, como a TAP ou o Simplex Urbanístico, que vão estar na pasta de transição para o próximo executivo.
Ainda assim, sobre a TAP, realçou, "o trabalho de 'backoffice' continua a ser feito", como o trabalho de preparação do decreto-lei que terá de ser publicado no âmbito da privatização da TAP.
Relativamente à linha ferroviária de alta velocidade, o ministro apontou que "há um desígnio nacional que não pode ser travado e, desse ponto de vista, não há qualquer tipo de atraso".
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