"Tudo nestes 10 dias iniciais da administração de Trump tem sido algo nunca visto", começou por dizer Miguel Sousa Tavares, considerando que o presidente dos Estados Unidos tem "sucessivamente subvertido todas as formas instaladas, aceite por todos como as regras do jogo democrático nos EUA".
O escritor pegou no estilo de Trump de governar "em que cada lei que assina é filmada e tem um staff à volta dele a aplaudir" para reforçar a ideia de como a governação deste presidente é, de facto, "uma coisa nunca antes vista". Para Sousa Tavares, Trump "tem tudo a seu favor para levar avante" a sua agenda [a maioria republicana no Congresso, nomeadamente].
"Mas os EUA não são o país que Trump imagina ou que deseja. São uma nação fantástica, que atraiu ao longo de 200 anos gente do mundo inteiro, sempre em nome de valores como a liberdade e os direitos das minorias, tudo o que Trump vai pôr em causa e que já está a pôr", fez sobressair o comentador.
Na ótica do escritor, o facto de Trump ter sido democraticamente eleito e, por isso mesmo, a sua eleição corresponder à vontade do povo que quer 'recuperar a América', não tem necessariamente de ser visto assim. "Quando a vontade do povo é qualquer coisa que vai contra aquilo que temos como o bem-comum, não é preciso ceder à vontade do povo, é preciso resistir à vontade do povo. Mesmo que isso passe por perder eleições", posicionou-se Miguel.
A grande questão, vincou, é saber como é que a Europa vai enfrentar Donald Trump: "Se vai enfrentar unida com uma política externa comum, com uma política de defesa que não passe tanto pelo 'guarda-chuva protetor americano' e que, enfim, seja capaz de ultrapassar questões de mercearia menores para se concentrar naquilo que é essencial", questionou. Quanto ao decreto-lei que muita tinta tem feito correr, Sousa Tavares constatou que "está tudo em estado de choque" e que todos os líderes europeus "se têm pronunciado na mesma linha".
"A Europa tem levado sozinha, juntamente com a Turquia, com o fardo de receber todos os imigrantes que vêm de África", lembrou ainda o comentador, sublinhando que, por outro lado, "os EUA não tem recebido nenhuns, nenhuns imigrantes".
Sousa Tavares fez questão ainda de referir que dos sete países árabes a que Trump "fecha a porta", não há um só cidadão natural desses países que tenha morto um cidadão americano nos últimos 10 anos. "Quando ele faz isso, põe-se à margem das nações civilizadas", concluiu.