No debate da moção de censura, Catarina Martins, coordenadora do BE, lembrou que a moção de censura "é para derrubar o Governo", "não é sobre a dor a indignação de um país que tem tido tanta dor" por causa dos incêndios do verão e de outubro, que fizeram mais de 100 mortos.
Utilizar uma moção de censura "como instrumento para os partidos avaliarem se a morte de 100 pessoas é grave, é mais do que desadequado, é obsceno", afirmou.
Mas, passada esta frase, Catarina Martins não fez nenhum elogio direto às medidas aprovadas no sábado, no Conselho de Ministros extraordinário, antes fez perguntas ao primeiro-ministro, António Costa, questionando "como pôde o Governo estar tão impreparado este ano".
"Já sabíamos que este ano era de risco e o Governo deveria estar mais bem preparado", disse, lembrando a proposta do BE, aprovada no ano passado, de reforço dos sapadores florestais e que "não saiu do papel".
À líder bloquista, António Costa deu uma resposta política, dizendo que, perante uma tragédia como a que aconteceu este verão, a direita quer "derrubar o Governo".
"A nossa responsabilidade é reconstruir o país", afirmou o chefe do Governo, respondendo ainda às dúvidas de Catarina Martins sobre as necessidades orçamentais para as medidas de ordenamento, prevenção e combate aos incêndios.
O executivo "será capaz de o fazer" como "foi capaz" de nos últimos anos seguir uma política diferente da de direita.
"Vamos ser capazes de fazer isso como, ao longo dos últimos dois anos, fomos capazes de vencer todos os impossíveis que muitos nos disseram não era possível com uma mudança de política", rematou.
Catarina Martins disse que o BE olha as medidas aprovadas no sábado "com expectativa", apoiando "o esforço anunciado pelo Governo para, no imediato, indemnizar, apoiar, reconstruir".
A líder bloquista ainda somou, na sua intervenção, algumas perplexidades, mesmo concordando com a decisão de o Estado passar a ter o controlo público do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), que falhou durante o combate aos incêndios, ou com a participação das forças armadas.
Quanto ao SIRESP interrogou "para quê manter acionistas privados que já falharam" e quanto à participação das forças armadas perguntou "como e quem articula a sua ação" e se iriam acabar os contratos privados nos meios aéreos".
A deputada e coordenadora do BE apontou ainda falhas nas medidas, como "a falta de compromisso com o banco público de terras para terras abandonadas, responsabilidades e meios na limpeza da floresta".
Na resposta, o chefe do Governo lembrou a reforma florestal, incluindo o banco de terras, reclamado pelo BE, mas que foi chumbado em julho com os votos do PSD, CDS-PP e do PCP.