"Entregar os correios aos grupos económicos e ficar na expectativa que um contrato de concessão garanta o serviço público, a qualidade do serviço e o interesse nacional é o mesmo que entregar o galinheiro às raposas na expectativa de que elas fiquem vegetarianas", ironizou, numa declaração política no parlamento, na qual também abordou a degradação dos transportes coletivos.
Para Bruno Dias, a realidade daquela empresa é "uma decorrência inevitável do negócio do Governo PSD/CDS no mandato anterior, de entregar o interesse nacional, num serviço estratégico para a soberania".
"Somos o único país da Europa em que um operador postal distribui dividendos aos acionistas no montante de 133% dos lucros - não é gestão privada, é um assalto, é descapitalizar uma empresa fundamental", vincou.
Os CTT confirmaram a 02 de janeiro o fecho de 22 lojas em todo o território no âmbito do plano de reestruturação, que, segundo a comissão de trabalhadores da empresa, originalmente Correios e Telégrafos e Telefones, vai afetar 53 postos de trabalho, além do já anunciado plano de rescisão com 800 trabalhadores nos próximos três anos.
O deputado social-democrata Paulo Rios de Oliveira também recorreu à ironia, observando o parlamentar comunista "a puxar orelhas de forma tão violenta ao Governo" e admitindo que chegou "a temer que terminasse com uma moção de censura ao Governo".
"O compromisso de privatizar CTT está nos PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento do executivo socialista de José Sócrates) e no memorando [da Troika]", recordou, sublinhando que compete ao atual Governo saber se o serviço está a ser bem cumprido.
O parlamentar do CDS-PP Hélder Amaral lembrou Bruno Dias que o PCP "aprovou três orçamentos [do Estado]" e as "opções políticas foram reverter um conjunto de serviços para a esfera pública", defendendo que "o problema não está na detenção publica ou privada do serviço", pois a questão é se é boa gestão ou má gestão".
O socialista João Paulo Correia reconheceu a degradação dos serviços postais desde que os CTT foram privatizados, salientando tratar-se de uma "matéria que tem merecido a atenção do PS", através de requerimentos para audições e uma resolução com vista à avaliação do cumprimento do atual contrato de concessão e obrigações de serviço público.
O bloquista Heitor de Sousa e o ecologista José Luís Ferreira concordaram com a condenação da privatização dos CTT pelo executivo antecedente e reafirmaram a necessidade de devolvê-los à esfera pública, lamentando o fim das dezenas de postos no país, a dispensa de trabalhadores, que deverão "perfazer cerca de 2.000 até 2020, com as saídas naturais já previstas", numa lógica de "degradação do serviço e aumento das tarifas".