A Huawei Technologies Ltd., o maior fabricante global de equipamentos de rede, está a investir milhares de milhões de dólares no desenvolvimento da sua própria tecnologia de chips, área em que os fornecedores norte-americanos são líderes globais.
A empresa reduz assim os riscos de estar dependente da importação de componentes dos EUA, numa altura de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington, suscitadas pela ambição chinesa para o setor tecnológico.
O aparelho, anunciado pela Huawei como o primeiro smartphone dobrável de quinta geração, vai ser exibido, no próximo mês, durante o maior evento anual do setor, o Mobile World Congress, em Barcelona, disse hoje Richard Yu, CEO da unidade de consumo da empresa.
O telefone usa o chipset Kirin 980, da Huawei, e o modem Balong 5000, em vez dos componentes de fornecedores tradicionais, como a Qualcomm, com sede nos EUA.
As vendas de produtos da Huawei não foram afetadas pelos alertas de segurança, em alguns países ocidentais, e aumentaram mais de 50%, no ano passado, afirmou Yu aos jornalistas.
O CEO afirmou que as vendas da sua unidade superaram os 52 mil milhões de dólares, ou mais de metade dos 100 mil milhões de receita anual, prevista para 2018.
A Huawei ainda não divulgou os resultados financeiros de 2018.
"Neste complicado ambiente político, mantivemos um crescimento forte", disse Yu.
A Huawei depende ainda muito da norte-americana Intel Corp. e outros fornecedores dos EUA, mas desenvolveu já os seus próprios chips, cada vez melhores, para smartphones e servidores.
A empresa usa os seus próprios chipsets apenas nos seus produtos.
A Qualcomm tem uma gama muito maior de produtos e patentes para chips usados em smartphones, mas a Huawei está a encurtar a distância, considerou Xi Wang, da IDC, empresa líder mundial em serviços de consultoria no setor tecnológico.
"De um modo geral, os chips da Huawei têm um desempenho igual aos chips da Qualcomm", explicou. "Não apenas no nível médio, mas também na gama alta, a Huawei pode competir com a Qualcomm", previu.
Uma outra fabricante de telemóveis chinesa, a ZTE Corp., quase faliu, no ano passado, depois de Washington ter cortado o acesso da firma à tecnologia dos EUA, devido a exportações para o Irão e Coreia do Norte, que violaram sanções norte-americanas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, restaurou o acesso depois de a ZTE ter pago uma multa de mil milhões de dólares e concordar em substituir a sua equipa de executivos e contratar responsáveis escolhidos por Washington.
O anúncio de hoje ilustra os esforços das empresas chinesas para desenvolverem tecnologia própria, visando competir globalmente e reduzir a dependência de 'know-how' importado.
A liderança chinesa quer transformar as firmas do país em importantes atores em atividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.
As ambições do país resultaram já numa guerra comercial com os EUA, que reclama mais acesso ao mercado chinês, melhor proteção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas.
Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país.
Como primeiro ator global chinês no setor tecnológico, a Huawei é politicamente importante, e tem sido alvo de crescente escrutínio, em vários países.
A Austrália e a Nova Zelândia baniram as redes de Quinta Geração (5G) da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adotado a mesma medida.
Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de "alto risco", baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais.
Mas durante a recente visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar de, também a União Europeia ter assumido "estar preocupada" com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança.
As redes sem fio de Quinta Geração (5G) destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional.
A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas superaram os 100 mil milhões de dólares, em 2018.