O estudo foi realizado pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), que contabilizaram todas as mensagens no Twitter que continham cinco tipos diferentes de 'hashtags' já identificados como os mais comuns nos ataques aos jornalistas.
As 'hashtags' de ódio monitoradas foram #imprensalixo, #extreamaimprensa, #globolixo, #cnnlixo e #estafake, as últimas três em referência direta a três grandes veículos de comunicação social do Brasil (a rede de televisão Globo, a rede CNN Brasil e o jornal O Estado de S.Paulo).
Além desses 'hashtags', também foram verificadas outras mensagens padrão de ataques aos 'media' e, no total, entre 14 de março e 13 de junho deste ano, foram contabilizadas 498.693 mensagens com ofensas à imprensa brasileira publicadas no Twitter e 94.195 na internet comercial.
A análise das mensagens permitiu à RSF concluir que 20% dessas mensagens foram enviadas por "contas com elevada probabilidade de comportamento automatizado", ou seja, por robôs.
A identificação de grande quantidade de mensagens enviadas por robôs é uma demonstração de "mobilidade orquestrada com o objetivo de expandir artificialmente os ataques à imprensa [media] no Twitter", segundo os autores do estudo.
O uso de robôs também "sugere que existem certos atores com interesses políticos, recursos financeiros e capacidade técnica mobilizados para promover um ambiente de descrédito generalizado à imprensa nas redes sociais".
O estudo também concluiu que grande parte dos autores das mensagens são utilizadores que se identificam nas redes como apoiantes do Governo do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
"Grandes grupos de comunicação, considerados críticos do Governo, e mulheres jornalistas foram os alvos preferenciais dos ataques", segundo uma nota publicada pelos autores do estudo.
Os ataques contra mulheres foram 13 vezes maiores do que os dirigidos aos homens.
Cerca de 10% das mensagens ofensivas continham termos depreciativos ou rudes. A incidência desses termos foi 50% maior quando as mensagens eram dirigidas a mulheres.
"O estudo demonstra a existência de uma campanha em larga escala que busca reforçar uma ideia simplista: a de que a imprensa é o inimigo que deve ser combatido", disse o diretor-geral da RSF para a América Latina, Emmanuel Colombié, citado no comunicado.
"Quando essa ideia se instala em amplos setores da sociedade, torna-se um mecanismo de intimidação mais eficaz do que os instrumentos explícitos de censura estatal", acrescentou.
De acordo com outro estudo divulgado em julho pela RSF, os ataques e insultos de Bolsonaro contra os 'media' no Brasil cresceram 74% entre janeiro e junho deste ano face à segunda metade de 2020.
O líder de extrema-direita lançou um total de 87 insultos nos primeiros seis meses de 2021, tornando-se o "principal predador" da imprensa brasileira.
O Brasil caiu da 107.ª para a 111.ª posição no último Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa e, pela primeira vez, ficou na zona vermelha, a mais crítica desse índice elaborado anualmente pela RSF.
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