"O Facebook não teve uma comunicação completa com o conselho em relação em relação ao seu sistema de revisão de decisões de conteúdo que afetam os utilizadores de alto nível", escreveram os 20 membros do órgão de fiscalização, cujas recomendações a empresa prometeu implementar.
Esta é a primeira vez que o Conselho Fiscal da Facebook, criado pela própria de tecnologia em 2020, se referiu diretamente à agitação provocada pela divulgação de informações internas na imprensa, que, entre outras coisas, detalha como os internautas famosos estão isentos de medidas de controlo de conteúdos.
O órgão de fiscalização também disse que aceitou um pedido do Facebook para conferir a prática e emitir recomendações sobre como pode ser alterada.
Entre as revelações sobre o funcionamento interno da empresa destaca-se uma lista de celebridades de vários setores (atletas, músicos, políticos, ativistas, jornalistas, etc.) que não estão sujeitas ao mesmo controlo de conteúdos que os restantes utilizadores.
Por exemplo, quando em 2019 o futebolista brasileiro Neymar partilhou imagens nas redes sociais Facebook e Instagram (propriedade do Facebook), nas quais aparecia uma mulher nua que o havia acusado de violação sexual, as suas contas não foram encerradas e o conteúdo demorou mais de um dia a ser removido.
Para qualquer outro utilizador, uma situação idêntica à do atleta do clube francês Paris Saint-Germain teria sido considerada pornografia de vingança, o conteúdo seria eliminado imediatamente, quando os algoritmos o detetassem e as contas teriam sido encerradas, de acordo com as políticas comunitárias da própria rede social.
Em setembro, o jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou uma série de artigos sobre os documentos internos do Facebook facultados pela ex-funcionária da empresa Frances Haugen, que testemunhou no Senado dos Estados Unidos sobre esta e outras práticas da rede social.
No seu testemunho no Senado, a ex-funcionária France Haugen pintou um retrato impiedoso da empresa, afirmando que durante o seu tempo de trabalho no Senado se percebeu de uma "verdade devastadora": o Facebook retém informações do público e dos governos.
"Os documentos que forneci ao Congresso provam que o Facebook enganou repetidamente o público acerca do que a sua própria investigação revela sobre a segurança das crianças, a eficácia da sua inteligência artificial, e o seu papel na divulgação de mensagens divisórias e extremistas", afirmou.
Haugen, que anteriormente divulgou documentos internos da empresa ao The Wall Street Journal, disse que o Facebook esconde que as suas plataformas são prejudiciais para as crianças, fomentam a divisão social e minam a democracia.
Em 05 de outubro, o diretor executivo e co-fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, defendeu a empresa das acusações de uma denunciante que disse ao Congresso dos EUA que o gigante das redes sociais dá prioridade aos lucros em detrimento da segurança.
"No cerne destas acusações está a ideia de que damos prioridade aos lucros em detrimento da segurança e bem-estar. Isto simplesmente não é verdade", disse Mark Zuckerberg num longo post na sua página do Facebook.
O chefe do Facebook também disse que "muitas das acusações não fazem sentido" e que não reconhece "o falso quadro da empresa que está a ser pintado".
"O argumento de que promovemos deliberadamente conteúdos que enfurecem as pessoas para obterem lucro é ilógico. Ganhamos dinheiro com a publicidade e o que os anunciantes nos dizem constantemente é que não querem que os seus anúncios apareçam ao lado de conteúdos que sejam prejudiciais ou que gerem raiva", frisou.
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