Web Summit. 'Whistleblower' do Facebook participou na abertura do evento
Frances Haugen partilhou documentos internos sobre a empresa, que revelaram alguns dos problemas da tecnológica liderada por Mark Zuckerberg.
© Eóin Noonan/Sportsfile for Web Summit via Getty Images
Tech Web Summit
Teve início esta segunda-feira, dia 1, uma nova edição da Web Summit em Lisboa. Ainda que o evento propriamente dito só comece dia 2, a cerimónia de abertura deste feriado foi ainda assim 'palco' de uma participação muito esperada.
Trata-se de Frances Haugen, ex-trabalhadora do Facebook e 'whistleblower' que, depois de partilhar documentos internos da empresa, revelou o funcionamento da gigante tecnológica e os maiores problemas da atualidade.
A Web Summit foi o primeiro evento ao vivo onde Haugen discursou depois de partilhar dezenas de milhares de documentos internos à Securities and Exchange Commission (SEC), reguladora dos mercados financeiros nos Estados Unidos, e ao 'Wall Street Journal'. Foi acompanhada pela CEO da Whistleblower Aid, Libby Liu.
"Estou feliz por ter trazido esta história. Há um padrão de comportamento do Facebook, em que dão prioridade aos luros", afirmou Haugen. Sobre a revelação dos dados internos do Facebook, Haugen notou que é uma "dança delicada" a avaliação da informação de que tinha conhecimento até à decisão de abandonar a gigante tecnológica.
"Há um custo humano no que o Facebook fez", declarou Haugen, explicando que o Facebook encontrou uma forma de fazer lucro em amplificar desinformação e tirar partido do ódio. "O Facebook não tem qualquer segurança em alguns territórios, alguns deles muito frágeis", notou Haugen.
Haugen deu o exemplo da Etiópia, "onde um incidente de violência étnica está a acontecer agora e está a ser amplificado nas redes sociais", onde há 100 milhões de pessoas, que falam seis línguas e 95 dialetos. "Quando a base de segurança é língua por língua, essa não chega aos lugares mais frágeis do mundo".
A ex-trabalhadora do Facebook admitiu que, num primeiro momento, não planeou tornar-se 'whistleblower' e revelar os documentos internos sobre a gigante tecnológica. No entanto, Haugen revelou que o apoio da Whistleblower Aid ajudou a tomar a decisão que acabou por tomar.
Sobre o que importa reter em relação a estes documentos, Haugen enalteceu que "o Facebook tentou reduzir a decisão sobre conteúdo a querer ou não querer censura". A 'whistleblower' explicou que "o Facebook tornou-se dependente de determinados grupos e anda de mãos atadas com eles", referindo que "é uma questão de quem tem o megafone maior".
"Temos de ter organizações mais saudáveis. Uma coisa que o Facebook tem que o Twitter não tem é o facto de as decisões passarem por apenas uma pessoa [Mark Zuckerberg], o que faz com que as pessoas não queiram deixar provas sob formas de documentos ou provas", afirmou Haugen.
A ex-trabalhadora e atual 'whistleblower' do Facebook destacou a importância de empresa ser mais transparente, um problema que (de acordo com Haugen) não acontece com outras tecnológicas como o Twitter ou a Google. "O Facebook não é a primeira rede social em que trabalho, é a quarta. O que me fez vir a público foi o facto de ter visto coisas que não tinha visto nas outras empresas por onde passei", afirmou Haugen.
Haugen também falou sobre a mudança de nome do Facebook - para Meta e os objetivos de desenvolver o metaverso, a 'whistleblower' afirmou que o Facebook tem um "metaproblema" uma vez que a empresa "escolhe recorrentemente expansão em vez de melhorar as plataformas que já tem".
Sendo o fundador e CEO da empresa com a maioria dos votos de decisão sobre o futuro, Mark Zuckerberg é visto como parte do problema. Haugen acredita que o Facebook estaria melhor entregue a alguém que "tenha a segurança como prioridade".
"Tenho fé que o Facebook pode mudar. [O Mark Zuckerberg] tem um sonho muito bonito - ligar as pessoas - e é coisa muito humana focar-se no positivo em vez do negativo", afirmou Haugen. "Há uma grande oportunidade para nós termos uma rede social de que gostamos. Estou ansiosa por ver como o Facebook será daqui a cinco anos, acredito que o que estamos a fazer agora possa ter uma grande influência no futuro".
Já Liu, sobre a importância do estatuto de 'whistleblower', afirmou que é preciso criar "mais proteções, para que mais pessoas se cheguem à frente" e ajudem a denunciar este tipo de situações.
[Notícia atualizada às 22h35]
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