"É uma série construída em torno de duas mulheres, que conta a história a partir do seu ponto de vista", afirmou D'Arcy sobre a prequela de 'A Guerra dos Tronos', cuja ação se passa cerca de 200 anos antes da popular série adaptada a partir dos livros de George R.R. Martin.
"Perguntei como iam mostrar o ponto de vista destas duas pessoas quando elas estão num mundo que não lhes dá espaço", disse D'Arcy, que ponderou bastante antes de aceitar o papel. "Como iam mostrar o seu desejo de realização e autodeterminação num mundo que não lhes dá espaço para essa questão ser levantada".
D'Arcy, que se identifica como pessoa não-binária, é uma das figuras centrais da série baseada no livro 'Fogo e Sangue' que George R.R. Martin publicou em 2018, seis meses antes da grande final de 'A Guerra dos Tronos'.
A história foca-se nos Targaryen numa altura em que a família governa os Sete Reinos e comanda 17 dragões, mas a sucessão está em perigo.
Depois de Rhaenys Targaryen (Eve Best) ter sido preterida duas vezes como sucessora do trono por ser mulher, o que lhe vale o epíteto de 'A Rainha Que Nunca Foi', a questão da sucessão volta a colocar-se com o rei Viserys Targaryen (Paddy Considine).
"Quando Viserys tem de escolher, apesar da precedência do Grande Conselho, escolhe a sua filha", disse o co-'showrunner' e produtor executivo Ryan Condal, numa mesa-redonda em que a Lusa participou. "E essa é uma escolha muito progressista e audaz, que desafia a noção de que os homens vão sempre governar o reino".
No entanto, o patriarcado prefere destruir-se que coroar uma mulher, como Rhaenys Targaryen diz à princesa Rhaenyra.
"O centro desta história é algo que a minha personagem diz, que os homens prefeririam destruir o reino que sentar uma mulher no Trono de Ferro", notou a atriz Eve Best. "Removam trono de ferro dessa frase e estarão a expressar a minha realidade como mulher".
Para a atriz que interpreta a 'Rainha Que Nunca Foi', tornou-se muito interessante "explorar o desemaranhar do 'status quo'" e os paralelos com o mundo atual, incluindo a derrota eleitoral de mulheres altamente qualificadas por homens com pouca ou nenhuma qualificação para os cargos.
Foi essa a história que os corresponsáveis Ryan Condal e Miguel Sapochnik quiseram explorar.
"Sabemos que um patriarcado em que o líder é o primeiro filho homem não é algo de que se desiste facilmente. Os homens que foram colocados no poder por este sistema não vão render-se", frisou Condal.
"A história desta série é sobre quem deve ocupar o trono: é o descendente mais velho? Quem o rei manda? Quem o povo quer? Uma escolha mais democrática?", questiona o produtor executivo. "E até onde as pessoas irão para que o seu lado vença?"
Lançada 11 anos depois da primeira temporada de 'A Guerra dos Tronos', que foi criticada pela brutalidade, esta série aborda a misoginia, o poder, a exploração sexual das mulheres e a violência contra elas de uma forma diferente, numa era pós 'Me Too'.
"Penso que estamos fundamentalmente num clima diferente, o que afeta tanto a execução da série como a forma como será recebida", disse Emma D'Arcy. "Penso que a questão da série, que me parece muito pertinente neste momento, é como se convence um eleitorado", elaborou.
"Como é que desmontamos as etiquetas prejudiciais que impedem as mulheres de ascenderem a posições de liderança?", continuou. "Porque ainda estamos, de forma evidente, a escolher homens para nos liderarem".
A outra protagonista feminina é Alicent Hightower (Olivia Cooke), uma mulher com características diametralmente opostas a Rhaenyra Targaryen, que "não teve liberdade e foi doutrinada pelo pai desde nova", disse a atriz. É alguém que apresenta "uma profunda repressão e rigidez".
As duas personagens são inicialmente interpretadas por Milly Alcock (Rhaenyra) e Emily Carey (Alicent), porque a história começa quando são muito jovens. Ambas as atrizes eram demasiado novas para ver "A Guerra dos Tronos" quando surgiu.
"Nesta série houve muito cuidado, cada cena de sexo que aparece é válida e teve um longo processo de preparação", disse Milly Alcock, referindo que havia um coordenador de intimidade. "Penso que 'House of the Dragon' está a tentar criar uma perspetiva diferente de 'A Guerra dos Tronos' e fazer justiça às mulheres que serviu mal no original".
O que Emily Carey ressalvou é que este é um mundo em que existia violência sexual. "A questão é se era necessário mostrá-la para as histórias que estamos a contar", frisou.
A atriz disse ainda que as personagens femininas são tão fortes que "se [se retirar] a narrativa da misoginia continua-se a ter uma narrativa e elas ainda têm características e personalidade fora disso". Ou seja, "não estão ali apenas para servir a narrativa da misoginia", porque foram construídas "como personagens complexas, multifacetadas, todas capazes de bem e mal, e não apenas como forma de mostrar que a misoginia existe".
'House of the Dragon' estreia-se na segunda-feira, dia 22, na HBO Max Portugal.
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