Tekever, drones e satélites das Caldas para o mundo e o espaço

Líder na área da vigilância autónoma a Tekever é conhecida por fornecer drones para a Ucrânia, mas da empresa instalada nas Caldas da Rainha saem aparelhos para vigilância de oleodutos, controle de pirataria e até componentes para satélites no espaço.

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Lusa
18/01/2025 10:54 ‧ há 7 horas por Lusa

Tech

Caldas da Rainha

Quando foi fundada, em 2001, a Tekever "não tinha nada a ver com drones", lembra o CEO da empresa, Ricardo Mendes, um dos cofundadores que, então, convictos de que "a computação ia ser altamente distribuída, não se ia passar apenas nos computadores", apostaram na criação de 'software' "capaz de correr em coisas com uma capacidade de processamento de dados mais baixa.

 

Com o objetivo de desenvolver 'software' que pudesse estabelecer a ligação em rede entre vários dispositivos diferentes, a Tekever começou por desenvolver sistemas para a banca, saúde, seguros e telecomunicações. Entre eles, "o primeiro sistema 'mobile banking', ou o primeiro sistema mobile para os colaboradores da EDP que iam fazer instalação ou leitura de contadores", exemplificou Ricardo Mendes.

"Este tipo de coisas permitiu-nos ganhar dimensão, ganhar capacidade de investimento", contou à Lusa o CEO da empresa que em 2009 avançou para a produção e operação de sistemas aéreos não tripulados (Unmanned Aerial Vehicle - UAS), mais conhecidos como drones, para os setores da segurança e defesa.

Ao setor dominado por empresas que se focavam mais no 'hardware', a Tekever trouxe, na altura "o fator determinante que é a computação, a comunicação e a inteligência artificial (IA)", aliando-o à área mecânica e da aeronáutica para começar a construir os seus próprios drones.

O papel dos drones AR3 e AR5 no apoio à guerra da Ucrânia trouxeram a Tekever para bocas do mundo, mas muito antes já a empresa que exporta 99,9% da sua produção, tinha drones a voar por todo o mundo em missões de monitorização de áreas de difícil acesso, utilizando a IA para detetar ameaças à vida humana e ao ambiente.

Entre os clientes contam-se governos, agências civis e militares e empresas privadas. O Home Office inglês e a Agência Europeia de Segurança Marítima, para a qual desenvolveram, em 2017 "o maior projeto da altura", são alguns dos exemplos destacados por Ricardo Mendes. Mas há mais.

Na América do Norte, os drones da Tekever monitorizam infraestruturas críticas de petróleo e gás, trabalhando em paralelo com a proteção civil no combate a incêndios. No Norte de África, vigiam as águas ao largo da costa para detetar pirataria e efetuam missões de vigilância de oleodutos.

Na Europa, monitorizam o Canal da Mancha e a costa portuguesa, em colaboração com a GNR, para detetar ameaças como o tráfico de seres humanos, o contrabando de droga e a pesca ilegal. São também usados para monitorizar a vida selvagem marinha no santuário protegido de Pelagos, ao largo da costa de Itália.

Tal como os drones, a própria empresa atravessou fronteiras, abrindo em 2013 o seu primeiro escritório em Southampton, no Reino Unido, a que se juntou uma unidade de produção no Aeroporto de West Wales, em Aberporth e, mais recentemente, instalações em França.

Por cá, às instalações de Lisboa e Porto, acrescentou os centros de produção das Caldas da Rainha (onde prepara a expansão para um terceiro espaço na zona industrial) e em Ponte Sor, onde se concentra a maior parte da produção.

Atualmente, a equipa da Tekever tem mais de 800 pessoas e Ricardo Mendes estima que "deverá ultrapassar os 1.000 trabalhadores até ao final de 2025", face ao crescimento da empresa cujas receitas "duplicaram em 2023 e tornaram a duplicar em 2024".

Em 2024, a massa salarial ascendeu, só em Portugal, a 25 milhões de euros e a expectativa é de que em 2025 esse valor ascenda a 40 milhões de euros.

"Na Tekever, o salário mínimo é de 1.000 euros, ninguém, desde o setor da limpeza, aos escritórios ao trabalho mais especializado, ganha abaixo desse valor", afirmou, sublinhando não ser "o maior fator de atratividade da empresa que tem nos seus quadros pessoas de mais de 20 nacionalidades" e uma relação muito próxima com universidades e centros de investigação.

Além da criação de emprego, a Tekever efetuou em 2024, em Portugal, compras no valor de 12 milhões de euros e planeia gastar no país, até 2027, cerca de 100 milhões de euros.

No que toca a drones, 2025 será marcado pela estreia comercial do ARX, o primeiro drone capaz de coordenar um "enxame" de drones mais pequenos a partir de um drone maior.

O sistema está a ser desenvolvido no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e irá potenciar as capacidades de vigilância e de salvamento, combinando missões de longo alcance e de longa duração com a capacidade de observar pontos de interesse a curtas distâncias e de vários ângulos.

Para a empresa líder na Europa o desafio é agora "manter a agilidade para escalar" num setor onde a evolução tem que ser cada vez mais rápida.

A par dos drones, a Tekever está agora envolvida em três missões espaciais com a Agência Espacial Europeia (ESA). A tecnologia ISL (Inter-Satellite Link) empresa foi utilizada na primeira missão de defesa planetária da ESA, a Hera, que ajudará a determinar se um dia se poderão desviar asteroides que se dirigem para a Terra.

A tecnologia da empresa já demonstrou "com sucesso a sua resistência ao ambiente eletromagnético do satélite" e, para Ricardo Mendes, o foco é agora desenvolver "redes de pequenos satélites que colaboram entre si para atingir objetivos", área em que a Tekever é a principal "fornecedora de sistemas de comunicação entre satélites da Agência Espacial Europeia e da Agência Espacial Francesa".

Leia Também: Depósito de petróleo na região russa de Voronezh atacado com 'drones'

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