Chegou ao Sporting pela mão de Godinho Lopes, em 2011, transitou para a gerência de Bruno de Carvalho e decidiu demitir-se por não se rever na “faceta autocrática e sectária” do presidente. Poucos dias depois dos incidentes registados na Academia, em Alcochete, Frederico Varandas assumiu a intenção de concorrer à presidência dos leões.
Aos 38 anos, o antigo diretor clínico leonino acredita ter o projeto certo para "pôr o Sporting a vencer" e, em entrevista ao Desporto ao Minuto, revela os traços de uma "candidatura diferenciada", assente em "valores, disciplina, regras e paixão".
A menos de uma semana das eleições no Sporting, com que percentagem de confiança entra para esta reta final?
Confiança máxima! Confiança de que já houve debates e entrevistas suficientes para se perceberem as diferenças das candidaturas. Não quero, nem é de forma alguma minha intenção, medir o sportinguismo, porque isso é algo que fica mal a quem quer que seja, mas temos que medir coisas objetivas, que se possam medir, tais como ideias, programa, conteúdo e conhecimento. E aqui, a nossa candidatura, com todo o respeito pelas restantes, é muito diferente.
Sente que a sua candidatura saiu reforçada desta campanha eleitoral?
Sim. Qualquer pessoa com experiência num ato eleitoral, seja na eleição de um clube, numas legislativas ou numas presidenciais, sabe que quando uma candidatura começa a ser alvo à direita, à esquerda, em todo o lado, a ser atacada com 90% de calúnias, invenções, etc, é sinal de que os adversários nos veem como a candidatura mais forte.
Encara esse "ataque" como um ato estratégico por parte dos seus rivais?
Eu percebo que haja ataque a quem vai à frente. Eu não percebo é a forma desse ataque. E aí não tem a ver com quem lidera ou com quem está atrás, mas sim com a formação das pessoas. E eu, aí, já mais faria uma candidatura com uma que está a ser feita, onde se afirmam coisas de forma indireta e depois têm que se desmentir passado algumas horas.
Refere-se a José Maria Ricciardi...
Sim, muitas vezes não é fácil não responder e não entrar no que essas pessoas querem. Mas uma pessoa tem que meter os interesses do Sporting acima de tudo e acho que essa conduta, esse tipo de campanha, sobretudo, mais do que a eles, porque isso a mim pouco me importa, envergonha o Sporting.
Frederico Varandas recebeu o Desporto ao Minuto em sua casa para uma entrevista exclusiva.© Fábio Aguiar
Num momento tão delicado para o Sporting, como se explica que tenham surgido tantos candidatos?
Não sei... Eu vejo que há realmente quem tenha a preocupação, a urgência e a necessidade de ser presidente do Sporting. É o que vejo quando vejo a forma como se reage. É o que me dá a entender. Agora, se uma pessoa entende que tem condições para ser presidente... Não vou julgar nem comentar as decisões dos outros.
Considera que nesta campanha eleitoral se falou muito mais das outras candidaturas do que dos próprios projetos?
Sem dúvida. Basta ver os meus debates. A maioria deles foram entrevistas, com um entrevistador oficial e um entrevistador convidado. Sempre que queria discutir alguma coisa do programa, foi o que se viu. Mas aqui eu também percebo porque para se discutir é preciso perceber e conhecer a realidade atual do Sporting, da formação, das modalidades e do futebol português. E para se discutir é preciso ter esse conhecimento. Isso é difícil. Eu não conseguia discutir consigo sobre os foguetões da NASA, por exemplo. Porque não faço ideia. É um pouco assim...
O polémico áudio de uma conversa privada de Pedro Silveira agitou a última semana de campanha. Teme que esse incidente afete a sua candidatura?
Não, como já disse, foi o próprio Pedro a tirar as consequências do ato e foi ele próprio a assumir. Mas também não haveria outra hipótese. Se não partisse dele, partiria de mim. Nós temos princípios éticos de que não abdicamos, de que não abdico, e o que eu exijo a mim mesmo exijo aos meus.
Mas Pedro Silveira era, de facto, o seu braço direito?
Não! Isso é... Repare em todos os nomes que já foram falados. O dele foi falado apenas agora. Miguel Cal, Francisco Zenha, Pedro Lencastre, João Sampaio, enfim... [Pedro Silveira] Era um sócio com muito conhecimento do clube, é presidente do Núcleo de Palmela há mais de 10 anos, está muito ligado aos eSports, que é uma área em crescimento. Agora, isso de ser braço-direito...
Se for eleito presidente no próximo dia 8, Pedro Silveira continuará a fazer parte da sua equipa?
Não, se for eleito será substituído pelo membro suplente, que está abaixo.
Ao longo desta campanha, a sua candidatura tem sido associada a outro nome: Godinho Lopes. Qual é o real papel do ex-presidente do Sporting?
É zero. E tem sido associada, como eu digo, no submundo. A minha candidatura começou a ser associada ao Dr. Álvaro Sobrinho. Depois, o Dr. Álvaro Sobrinho veio a público dizer que não apoiava ninguém e que até gostava de ver uma candidatura de Luís Figo. Enfim! Depois apareceu o Dr. Ricciardi, que supostamente era o meu associado, que estava por detrás de mim, até que o Dr. Ricciardi surge e candidata-se contra mim e faz o belo espetáculo que está a fazer. E é então que aparece a terceira via. Já não é o Álvaro Sobrinho, nem o José Maria Ricciardi, mas sim o Eng. Godinho Lopes. Posso dizer que a última vez que vi o Eng. Godinho Lopes foi há um ano, no Estoril Open. Foi presidente do Sporting, saiu do cargo há cinco anos e nunca falei com ele sobre o Sporting.
Mas surgiu uma história sobre a famosa fotografia...
No dia da sede da candidatura, surgiu uma fotografia da nossa candidatura e há alguém que diz: 'Está aqui o Eng. Godinho Lopes.' É uma fotografia giríssima, onde está, de facto, um membro efetivo do Conselho Fiscal, Pedro Cabral Nunes, que realmente é careca, tem cabelo branco e tal... Mas o mais ridículo é que nesse dia estavam lá todos os meios de comunicação social. Se, de facto, o Eng. Godinho Lopes lá estivesse, ninguém o ia entrevistar? Por isso, agarraram nesta fotografia desfocada e começou tudo isto. É a calúnia, a invenção e esta é mais uma. Quando não se tem nada por onde atacar, faz-se isto. E, atenção, não tenho nada contra o Eng. Godinho Lopes! Nem sei quem ele apoia, lembrei-me no outro dia que ele está expulso e como tal nem pode votar.
A sua lista conta com o apoio de nomes fortes do universo sportinguista. É esta aposta em referências do clube que falta neste momento?
Claro que sim. Nomes como Aurélio Pereira, Hilário, Manuel Fernandes, Beto, Júlio Rendeiro são figuras do clube e isso demonstra a confiança que as pessoas sentem na minha equipa. Obviamente que é muito importante ter estas pessoas ao lado, não lhe vou mentir.
Porque decidiu escolher Beto para team manager?
O Beto é um homem da casa, foi formado no Sporting, percebe o que é a formação, foi bicampeão. Para ser team manager é preciso conhecer as suas valências. E o team manager tem que ser uma espécie de pára-choques para o treinador no dia a dia. E o Beto é um grande pára-choques! É uma pessoa com pulso, respeitada no grupo de jogadores, que se tiver que meter ordem, mete ordem, e que sabe proteger o treinador.
Médico chegou ao Sporting em 2011, pela mão de Godinho Lopes, e transitou para a gerência de Bruno de Carvalho.© Global Imagens
As sondagens colocam-o como um dos favoritos, tal como João Benedito. Sente isso no feedback que tem tido dos sócios?
Vou ser muito sincero, respeitando as pessoas e as empresas que fazem isso: Eu não ligo muito às sondagens. Além disso, essas sondagens foram feitas antes dos debates de um para um. E acho que aí ficou mais evidente a diferença das candidaturas. Por isso, tenho confiança na equipa que eu represento, no valor e no conhecimento que temos sobre o Sporting e o desporto português.
Na sua opinião, qual dos candidatos está melhor posicionado para ser o seu grande rival?
Não sei... Bem, se olharmos para as tais sondagens, diria que será o João Benedito. Mas eu não ligo muito a isso.
Se não pudesse votar em si e fosse obrigado a votar outro candidato, em qual seria?
Bem... É uma boa pergunta. Ficaria um bocadinho desiludido, não tanto com as pessoas. Gosto muito do João Benedito, gosto do Dias Ferreira, o Rui Rego não conheço tão bem, o Fernando Tavares não conheço bem mas gostei da pessoa. Mas eu aqui não estou a ir tanto pelas pessoas, mas sim pelo programa. E vejo muitos programas que são feitos de sportinguistas mas com discursos muito redondos, que qualquer sportinguista diria. Acho que é preciso mais para este Sporting. Temos que pensar porque é que em 40 anos vencemos três campeonatos apenas. Eu sou um sportuinguista informado. Qual é a diferença de massa adepta, de lealdade da massa adepta, da força enquanto clube para os nossos rivais? Desde que 'rebentou' esta crise, todos os dias se fala do Sporting na comunicação social. Tenho quase a certeza que se isto acontecesse a um dos rivais ninguém falava. Isto demonstra a força do Sporting. Agora não me digam que o Sporting existe só para polémica, não pode ser. O Sporting tem que existir para vitórias e para isso é preciso acreditar e ter competência.
Se vencer estas eleições, quais são as mudanças prioritárias?
Acima de tudo, tornar o Sporting profissional à dimensão e valor desportivo do clube. A exploração da marca Sporting está muito aquém das suas possibilidades e basta ver que temos o nível de receita em 3,9 milhões de euros em merchandising, enquanto um dos nossos rivais têm 5,4 e o outro quase 10. Não faz sentido, pois estamos a viver no mesmo país, com as mesmas pessoas. Temos que ser mais competentes.
Que balanço faz do trabalho da Comissão de Gestão?
Eu acho que foi um trabalho muito difícil, em condições bastante complicadas. Eu gostei de ter visto a forma como assumiram. Infelizmente há pessoas para quem a palavra não significa muito, pessoas dessa Comissão que eu ouvi dizer que nunca iriam entrar para nenhuma lista e depois isso não se veio a confirmar. Mas isso é uma forma de estar na vida. A minha palavra significa muito.
José Peseiro é o seu treinador para o imediato ou mesmo a médio prazo?
José Peseiro é o meu treinador. Como treinador do futebol que é, o José Peseiro sabe o que é o treinador a curto prazo, a médio prazo ou a longo prazo. Vai depender de nós, acima de tudo. Se por alguma coisa José Peseiro falhar, não será José Peseiro a falhar, mas sim nós. O futebol é muito injusto e sabemos com isto é.
"Unir o Sporting" é o lema da candidatura de Frederico Varandas à presidência dos leões.© Global Imagens
Nestas fases de campanha eleitoral é muito comum os candidatos surgirem com reforços como trunfos. Uma vez que nesta altura o mercado está fechado, tenciona trazer novos jogadores na janela de transferências de inverno, caso seja eleito?
Sim, em janeiro, se houver necessidades de acertos, assim o faremos. Já nos estamos a preparar, caso venha a acontecer isso.
Acredita que o Sporting pode lutar pelo título esta temporada?
Pode... Em três jornadas já demos esse sinal. Tivemos o calendário mais difícil dos três grandes, estamos na frente do campeonato, tivemos três jogos, sendo que dois foram fora, um deles no terreno de um dos nosso rivais, onde jogámos apenas com três titulares em relação à época passada. Isto demonstra o que a equipa ainda pode crescer.
A crise financeira é o maior desafio da direção que entrar no clube?
Não o acho. O maior desafio é pôr o Sporting a vencer. Continuar a vencer nas modalidades e passar a vencer no futebol. Esse é o maior desafio. O que estamos a falar é de questões técnicas. Segundo vi nos programas, todos têm praticamente as mesmas ferramentas para combater essas necessidades de tesouraria que são evidentes. As armas não diferem muito de candidatura para candidatura, sendo que apenas um se atravessa já com a vinda de um investidor para financiamento estrangeiro. De resto, assinamos todos pelo mesmo diapasão, em traços gerais. Mas esse não é o problema real financeiro. Isso não é a causa, é a consequência. Temos necessidades de tesouraria, sim, mas porque a empresa Sporting fica muito aquém das suas receitas.
A solução passa pelo sucesso desportivo, é isso?
As receitas vêm do desempenho no futebol. Basta olhar para os nossos adversários e vemos que, de 2013 a 2017, um faturou 910 milhões de euros em receitas do futebol e o outro 785. Nós ficámos pelos... 410. É difícil competir assim, quando, feitas as contas, temos menos 60 a 70 milhões de euros por época em relação aos nossos rivais. E isto faz diferença dentro de campo. Temos essas ferramentas, com o empréstimo obrigacionista até 60 milhões de euros, a reestruturação do passivo bancário, a compra e venda de jogadores e a securitização do contrato da NOS. Não são só estas quatro, mas os sportinguistas têm que ter noção que são estas quatro que utilizaremos para resolver o problema de tesouraria. Temos que resolver a causa e não a consequência. E isso consegue-se com mais prémios pela participação nas competições europeias, mais bilheteira - e isso obriga a ter melhores equipas - e a compra e venda de jogadores - e isso obriga a ter conhecimento de futebol. É esse o maior problema do Sporting nas últimas décadas. Enquanto não se perceber isso, o Sporting andará de reestruturação em reestruturação. Anda a apagar fogos, mas a causa do fogo nunca é eliminada.
E acredita que os sócios já perceberam isso, que a solução poderá estar no rendimento desportivo?
Não tenho a menor dúvida. Repare que ninguém diz que vai pôr dinheiro. Já ouvi dizer: 'Ah, aquele candidato é o homem do dinheiro.' Mas nem um cêntimo alguém vai pôr. Ninguém! O que se vai fazer é encontrar armas para superar esta questão da necessidade financeira. Depois pergunta-se como se vão gerar receitas e aí não oiço ninguém a ter soluções. Só oiço soluções para apagar este fogo. Mas depois deste fogo apagado, a gerar o que geramos, daqui a dois anos haverá outro. E depois há especialistas a apagar fogos, mas nós precisamos é de especialistas em vitórias.
O caminho para esse crescimento desportivo passa pela melhoria da Academia?
Sem dúvida! E quando digo Academia falo de toda a formação. A Academia é a arma fundamental do futebol, é a base. Sempre foi e vai ter que ser. Não poderá ser 100% do futebol, pois o Sporting não pode almejar ser campeão com jogadores só da formação. Não dá. Tem que ser a base da formação juntamente com um bom recrutamento, um bom scouting e boas contratações, cirúrgicas, mas de qualidade. A formação, isso sim, é um dos problemas, pois tem perdido muita qualidade nos últimos anos. É preciso saber o que fazer e atuar com valores, disciplina e regras. Depois, na área técnica e no recrutamento. Temos que voltar a ser agressivos, a ir buscar os melhores miúdos e identificar os distritos alvos e os escalões que queremos atacar. Por fim, as instalações, que têm que ser melhoradas.
Haverá, portanto, investimento...
Sim, temos que ter dois campos relvados para ontem. Não podemos ter uma equipa de juniores a treinar num relvado sintético com 15 anos nem ter cerca de 120 miúdos a treinar no polo universitário em condições pouco desejáveis. Como tal, é como lhe digo, é preciso conhecer a formação para fazer isto tudo. Não podemos ter três coordenadores técnicos como no ano passado. Não faz sentido! Tem que haver um único e vários treinadores para os diferentes escalões. Este é um dos exemplos, tal como a rede de transportes, que funciona para a Academia de Alcochete apenas durante a semana. Temos casos de miúdos que falham jogos porque para estarem em Alcochete às 09h00 da manhã têm que acordar as 06h00 para depois se deslocarem. Se os rivais oferecem essas condições, logicamente que os perdemos. É este raio-x que é preciso ser feito que, paralelamente a outras áreas, eu não vejo noutras candidaturas.
Essa espécie de 'adormecimento' da formação do Sporting foi o principal motivo para a 'ultrapassagem' dos rivais?
Sim, o Sporting sempre foi o clube mais formador no futebol, não só na Seleção Nacional, mas também para outros clubes. Basta ver que sempre que jogamos contra outra equipa para a Liga, encontramos dois ou três jogadores formados no Sporting. E isso logicamente deve-se a investimento, pois fomos pioneiros. Mas depois houve desinvestimento e neste momento temos que voltar a ser pioneiros. Já não chega copiar o que se fez no passado. Há que melhorar! E aqui é muito importante a unidade de performance, que eu já idealizo há muitos anos, que já fui implementando nos seniores, mas que agora é preciso ampliar a todos os escalões de formação. É uma unidade que vai melhorar a performance física dos jogadores, que os vai tornar mais robustos, menos propensos a lesões e vai, sobretudo, melhorar a metodologia de treino dos treinadores.
Antigo diretor clínico tem na requalificação da formação um dos principais traços do programa. © Global Imagens
Caso seja eleito no próximo dia 8, admite integrar algum dos restantes candidatos na sua equipa?
Não, nem vejo esse interesse. Há sempre pessoas que farão parte do Sporting, como o João Benedito. O João vai sempre fazer parte do Sporting, quero o João sempre presente no Sporting. É um dos grandes atletas do clube, foi, é e será sempre. A história dos clubes faz-se assim. O grande património está nos atletas e nos troféus, ao contrário dos presidentes, que vão estar no clube sempre de passagem.
Que tipo de presidente será Frederico Varandas?
Vou ser um presidente com uma única missão: pôr o Sporting num patamar digno e de elevação que merece e a vencer. Vou dar tudo o que tenho, tal como fiz enquanto sócio e enquanto diretor clínico.
E estará presente no banco de suplentes?
Não... O banco é para treinador, diretor desportivo, Team Manager, médico e jogadores.
Se for eleito, o que é que os sportinguistas podem esperar para o próximo dia 9 de setembro?
Um Sporting com elevação, coragem, digno e que nunca será submisso a ninguém.
Numa espécie de última mensagem para os sócios e adeptos, o que gostaria de dizer?
Já chega de ganharmos pouco, já chega de ganharmos ocasionalmente. Eu quero um Sporting a vencer, quero um Sporting forte, consistente e digno, que vença nas modalidades, mas também no futebol. Temos capacidade e potencial para isso. Acredito que com uma equipa muito competente e com paixão como a minha o vamos conseguir. Não tenho a menor dúvida. Quer um Sporting único, leão, com 3 milhões e meio de corações. É assim que eu vejo o Sporting e é assim que será invencível.