Mobilidade e segurança são as principais prioridades do projeto de Vladimiro Feliz para o Porto. O candidato do PSD à Invicta quer recuperar o espírito transformador do concelho e promete ainda devolver dinamismo ao setor turístico e à restauração no pós-pandemia.
Depois de mais de sete anos enquanto braço direito de Rui Rio na Câmara, Vladimiro Feliz atira-se agora para a frente na corrida prometendo um projeto alternativo para a cidade.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, confessa que se orgulha do percurso enquanto vereador e vice-presidente da Câmara, mas recusa que seja um "ventríloquo" do presidente do partido, como acusou Rui Moreira.
Apesar de ter apoiado o atual presidente da Câmara na corrida em 2013, o candidato considera agora que Rui Moreira se tornou "um autarca vulgar".
Quanto ao futuro do PSD no pós-autárquicas, o candidato defende que Rio "fará as suas escolhas de forma sensata" e "sem qualquer apego ao lugar", mas acredita que o líder do partido ainda vai ser primeiro-ministro.
Estava à espera do convite do PSD para ser candidato nestas autárquicas? O que o fez aceitar?
À espera, não digo que estaria. Estava com a minha vida profissional organizada, que muito gosto e que muito me motiva. De qualquer forma, acompanho muito a cidade, sou do Porto, escolhi viver no Porto e mesmo a minha opção profissional passou pela cidade. Mas não estava no meu horizonte ser candidato. Obviamente, quando me foi apresentado o desafio pelo presidente do PSD, pelas estruturas locais do partido e por muitas pessoas da sociedade civil, que me começaram a sensibilizar para a causa, quem é portuense tem muita dificuldade em dizer que não à sua cidade.
Aquilo que me mobilizou foi, acima de tudo, sentir que havia esta dinâmica no partido e na sociedade civil para encontrarmos uma solução alternativa ao atual modelo de governo da cidade. Foi por isso que aceitei, pela minha cidade e por todos aqueles que me incentivaram a fazê-lo, aliado ao facto de sentir que o meu nome tinha uma grande unanimidade.
Considera que a sua passagem na Câmara Municipal do Porto também lhe deu a experiência e a confiança necessárias para abraçar este desafio?
Sim. Já fiz muitas coisas interessantes na vida, em diferentes setores, muito relacionadas com a minha área de formação, mas sinto que uma das coisas que mais me realizou na vida foi ser vereador e vice-presidente da Câmara. Tive pelouros muito desafiantes. No primeiro mandato tive a área da Juventude, Educação e Inovação, no segundo mandato, tive no Turismo, Inovação e Lazer, numa parte do Ambiente e no gabinete de Estudos e Planeamento. E é, de facto, muito desafiante e recompensante podermos atuar no desenvolvimento da nossa cidade e termos esta capacidade de desenvolver políticas de proximidade que nos permitem perceber que estamos a mudar a vida das pessoas. Isso é muito importante.
Rui Moreira disse, recentemente, numa entrevista, que os próximos quatro anos vão ser a sério, o que revela que os últimos oito foram a brincar
Quando o atual secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, foi apontado como a opção do PS para o Porto, disse que estava claro que era o único candidato capaz de vencer Rui Moreira. Ainda acredita nestas declarações?
Claro que acredito. Quando vou a jogo, é sempre para ganhar. Tenho andando na rua a falar com a sociedade civil, com as entidades e com as pessoas e sinto que há um grande distanciamento deste executivo em relação àquilo que é a realidade da cidade. Este é um executivo muito baseado em propaganda e nalguma altivez, até de ação, que agora, ao longo dos últimos oito meses, tem mudado um pouco. Digo muitas vezes: 'Benditas eleições que trouxeram de novo ação à cidade'.
Sinto que Rui Moreira parte de um legado consolidado, com contas certas, uma casa arrumada e uma dinâmica de desenvolvimento económico de médio longo prazo - como o próprio disse, por exemplo, no seu discurso de tomada de posse em 2013 - e o que fez foi navegar ao sabor do vento e não apostou em iniciativas disruptivas, transformadoras ou reformadoras que o Porto exige para recuperar o seu papel de líder nacional e de referência global em muitas áreas da gestão autárquica.
A sociedade civil tem a sua vida própria e isso valeu de muito à cidade, mas sentimos que o Porto estagnou, podia ser muito mais do que foi nos últimos tempos, até porque estes últimos oito anos foram de um ciclo económico de maior desenvolvimento no país, porque os recursos estavam disponíveis.
Quando estava na Câmara, enfrentámos a recuperação do investimento do Euro 2004 e lidámos com o período da troika e, ainda assim, deixámos a casa arrumada e com uma dinâmica de projeção da cidade de médio/longo prazo. Portanto, é preciso reavivar a memória dos portuenses e sente-se algum nervosismo no movimento de Rui Moreira, que tem reagido a tudo aquilo que se vai criticando, iludindo as pessoas. Mas, os portuenses já deram provas no passado de que não se deixam iludir.
A mobilidade é uma das nossas principais prioridades, bem como a necessidade de recuperar a liderança e influência metropolitana que o Porto perdeu
Não é a primeira vez que afirma que Rui Moreira não soube aproveitar a oportunidade de ter herdado "uma casa arrumada". Propõe-se continuar, como uma extensão, o trabalho desenvolvido por Rui Rio?
Tenho muito orgulho naquilo que é o legado do PSD no Porto e Rui Rio foi reconhecido na cidade por muitas pessoas, deixando um legado exemplar de gestão autárquica a nível nacional. Contudo, já passaram oito anos e há muitos princípios e valores que temos de recuperar, mas o mundo mudou e hoje vivemos num mundo pandémico, que exige uma resposta para os problemas do presente, mas, acima de tudo, de uma visão para o futuro.
Rui Moreira disse, recentemente, numa entrevista, que os próximos quatro anos vão ser a sério, o que revela que os últimos oito foram a brincar. Comprometeu-se a tentar fazer agora em quatro anos o que prometeu nos anos anteriores e tem estado a tentar acelerar o passo nos últimos oito meses. Mas o Porto precisa de uma visão diferente, por exemplo, para a mobilidade, que já foi uma referência na cidade. Relembro que, por exemplo, segundo o índice da Tom Tom - uma entidade insuspeita em termos de indicadores - o Porto, mesmo em contexto pandémico, é a pior cidade em termos de mobilidade no contexto europeu.
E em que mais é que o Porto tem de mudar?
Por exemplo, na questão da segurança. Vemos hoje moradores e cidadãos a recorrerem a soluções de segurança privada para protegerem as suas habitações e bens pessoais. Isto é digno de um país de terceiro mundo e não da Europa Ocidental. Portanto, é preciso termos segurança 24 horas e criarmos sinergias para que as pessoas vivam seguras, tanto na via pública como nos seus espaços privados.
A questão de cuidar de quem mais precisa, como os seniores, cidadãos com necessidades especiais e as crianças, também tem de ser repensada. Temos, por exemplo, de olhar para uma rede de creches que seja uma verdadeira resposta para as famílias. Vemos o Porto a perder habitantes e estudantes a cada dia que passa e isto significa que o Porto está a perder dinâmica, a juventude e os seus residentes, por muito que Rui Moreira tente mascarar esses números. Depois, a Câmara aplica a fiscalidade máxima em termos de IRS aos seus munícipes, mesmo tendo os cofres cheios e num momento de desenvolvimento económico. Comprometo-me desde já a reduzir a taxa de IRS durante o primeiro mandato para o qual serei eleito.
Outra prioridade na nossa campanha prende-se com a zona Oriental, que Rui Moreira diz que é uma prioridade mas que, na verdade, é uma zona que foi esquecida, ao longo das últimas décadas. Nós queremos efetivamente investir e ter um projeto de desenvolvimento focado para aqueles que lá vivem, mas queremos também atrair jovens e a classe média para essa zona da cidade. Planeamos ainda criar conteúdos de lazer e culturais que dinamizem essa zona, estendendo o Parque Oriental e criando uma unificação com o concelho de Gondomar, que faz fronteira com essa zona da cidade. Para isso, queremos atrair investimentos âncora como um parque temático de referência, que transforme verdadeiramente a zona. Olhando para aquilo que foi a transformação da Baixa e da cidade, queremos hoje olhar para a Campanhã e para a zona Oriental como o nosso compromisso de transformação e já temos provas dadas no passado. Durante as diferentes fases do mandato, teremos metas claras e bem definidas para cumprir a nossa visão.
Queremos criar uma 'Broadway' que ligue, por exemplo, o Teatro Nacional São João, o Coliseu, o Maus Hábitos, o Passos Manuel, o Teatro Sá da Bandeira e o Rivoli de forma a que um portuense, ao final da tarde, se possa dirigir a estas zonas da cidade e tenha sempre algo por que optar
Pode adiantar algumas bandeiras mais específicas da sua candidatura?
A mobilidade é uma das nossas principais prioridades, bem como a necessidade de recuperar a liderança e influência metropolitana que o Porto perdeu. Uma política de mobilidade para o Porto tem de ser articulada com os concelhos mais próximos. Tem de haver uma rede de alta densidade que sirva a cidade e, depois, uma outra rede que funcione numa lógica complementar, focada no conforto das pessoas e que funcione em torno das necessidades territoriais e de frequência. Também na mobilidade, defendemos que, antes de discutirmos pontes para a travessia do Douro, temos de rentabilizar as infraestruturas que já existem.
A questão da A41, a circular externa do Porto, é algo que nos preocupa porque é um equipamento que está subutilizado, para o qual é preciso encontrar soluções que desviem o trânsito que vem de Sul para Norte, evitando que passe pelo centro da cidade, nem que para isso seja necessário renegociar a concessão, que ficará sempre mais barata do que uma ponte.
E, depois disso, posso já adiantar, que, ao contrário da decisão do autarca de Gaia e do autarca do Porto em fechar o tabuleiro inferior na Ponte D. Luís, defendemos uma solução alternativa que se baseia em criar uma ponte pedonal que ligue os dois centros históricos, permitindo que o trânsito possa circular pelo tabuleiro inferior da Ponte D. Luís, resolvendo uma parte da necessidade de escoamento do trânsito. E, assim, já podemos olhar para outras soluções de pontes, caso a construção destas se venha a justificar em termos de alterações de hábitos de mobilidade. Quando falamos que estamos a trabalhar para reduzir o tráfego automóvel na cidade, estamos ao mesmo tempo a projetar a construção de pontes para o futuro e, portanto, a coerência deste pensamento é relativa. Por isso, temos de ir acompanhando a evolução, em função da otimização dos recursos que já temos e das soluções com menor custo possível.
E por falar em mobilidade, tem alguma proposta pensada na sequência das obras de expansão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro?
Segundo a ANA, estas obras aumentaram cerca de 60 a 70% da capacidade do aeroporto, o que vai exigir que a cidade tenha forma de absorver este aumento de capacidade. A nosso ver, temos de trabalhar com os agentes económicos num plano estratégico para potenciarmos esta expansão do aeroporto que não se esgota no Porto. O Porto tem de ser o farol de uma região que inclui Bragança, Vila Real, Viana, Braga, Guimarães, Aveiro e até Coimbra, contando com uma ligação forte à Galiza. O Aeroporto Francisco Sá Carneiro tem de ser o centro de referência de uma região para Portugal e para o mundo, mas, funcionando em complementaridade e não concorrendo.
Ainda que a obra esteja prevista estar pronta até ao final de 2021, defendemos também que, ao longo dos próximos anos, terá de ser estudado um outro plano de expansão do aeroporto do Porto para a possível construção de uma segunda pista. Esta segunda pista permitiria que o Porto se afirmasse com um elo de ligação aos grandes centros europeus, à América do Norte e do Sul e à Ásia, evitando assim que tenhamos de ir apanhar o avião a Lisboa ou a Madrid.
E no âmbito da recuperação económica para mitigar a crise provocada pela pandemia, já tem alguma medida preparada?
Outra das nossas bandeiras será a dinamização da cidade no período pós-pandemia, sobretudo, do sector turístico e da restauração. Um desafio que faço é que se circule pelos restaurantes da cidade e se verifique o abandono em que estes se sentem, em especial, os que não têm espaço exterior para exercer a sua atividade. Nesta matéria, para além de querermos trabalhar políticas de proximidade com estes setores mais afetados, queremos criar uma nova dinâmica que aproveite aquela que também foi a transformação da Baixa, que operámos quando éramos governo.
Queremos criar uma 'Broadway' que ligue, por exemplo, o Teatro Nacional São João, o Coliseu, o Maus Hábitos, o Passos Manuel, o Teatro Sá da Bandeira e o Rivoli de forma a que um portuense, ao final da tarde, se possa dirigir a estas zonas da cidade e tenha sempre algo por que optar. Ao mesmo tempo, esta iniciativa irá fazer a ligação ao outro lado da Avenida dos Aliados, no sentido de criar sinergias culturais e de lazer, que reavivem também a restauração e que ajudem os sectores mais afetados a recuperarem. O período pós-pandemia irá obrigar a que transformemos a configuração e os espaços da cidade e temos de nos abrir mais ao exterior. Esta será uma aposta muito forte da nossa candidatura.
O Porto é silencioso, mas não perdoa determinadas atitudes de distanciamento, arrogância e de altivez e confesso que se estivesse assim tão difícil de ganhar não veríamos tanto nervosismo no movimento de Rui Moreira (...) Farei das tripas coração para que o Porto volte a ser o Porto
Concorda que a final da Champions tenha sido realizada no Porto? Tinha feito alguma coisa diferente?
A ter de a fazer, em primeiro lugar, nunca me desculparia dizendo que em nada tinha tido a ver com o evento. Um presidente de câmara não pode reagir desta forma passiva. Nada tem que ver, muito reclama e pouco faz. A ter de fazer a Champions, articulava o evento com as autoridades devidas e exigiria que se cumprisse aquilo que foi prometido pelo Governo, que era o funcionamento em bolha com os adeptos a terem linhas dedicadas para o seu transporte de forma isolada, do aeroporto para hotéis, dos hotéis para o estádio, e assim consecutivamente.
Tinha também apostado em zonas de serviços que envolvessem os agentes económicos locais, para que pudéssemos dinamizar a economia local, mas sempre em bolha. Da forma desorganizada que foi não o faria obviamente.
Mas, agora, é favor da presença de público nos estádios?
Sempre fui. A partir do momento em que abrimos diversos setores, sempre me opus à proibição da presença de público nos estádios. Aliás, na altura da Champions, critiquei isso. Como é que recebemos a final da Champions, mas não permitimos que os adeptos portugueses possam estar nos estádios? O que critico, acima de tudo, é o facto de nunca ter havido uma política coerente e estável de comunicação com os portugueses e quando não há essa claridade as pessoas têm muita dificuldade em perceber e, consequentemente, em cumprir. Ninguém tem a receita mágica para resolver a pandemia, mas o que se exige é rigor, coerência e boa comunicação, o que não tem acontecido.
Voltando à corrida às urnas, de acordo com as últimas sondagens, está em terceiro lugar com piores resultados do que o PSD alcançou em 2017. Como é que encara estas previsões?
Encaro com expectativa. Em eleições autárquicas, já vimos muitas vezes as sondagens surpreenderem. Lembro-me que Rui Rio começou com 13% das intenções de votos, em 2001, e acabou por ganhar a Câmara. Rui Moreira, em 2013, partia como um chanllenger e também ganhou a Câmara, quando tínhamos Luís Filipe Menezes como um vencedor antecipado. Os portuenses já nos habituaram à surpresa. O Porto é silencioso, mas não perdoa determinadas atitudes de distanciamento, arrogância e de altivez e confesso que se estivesse assim tão difícil de ganhar não veríamos tanto nervosismo no movimento de Rui Moreira, que é evidente em todas as ações de comunicação e que noutros momentos autárquicos não vi acontecer.
Este nervosismo revela que há aqui uma tentativa de agarrar o poder e uma preocupação com o que pode vir a acontecer. Uma coisa é certa: temos vindo a deixar marca na cidade, porque muitas das críticas que temos vindo a fazer em vários pontos da cidade, que divulgamos nas nossas redes sociais, têm sido resolvidas logo após as nossas visitas e muitas das propostas que fazemos têm tido uma reação imediata por parte do atual executivo. Portanto, se fôssemos tão insignificantes não estariam tão preocupados.
Acredito muito naquilo que é o nosso projeto, mas cabe sempre aos portuenses decidir e cá estarei para aceitar o resultado que vier. Farei o melhor que sei e que posso pela cidade. Os portuenses que me conhecem sabem o nível de compromisso e de capacidade de entrega que tenho e aquele que é o meu amor pela cidade. Farei das tripas coração para que o Porto volte a ser o Porto.
Se a minha candidatura está fragilizada a do PS está muito mais. Teve três falsas partidas, uma desistência e conseguiu ter um nome graças à dedicação à causa socialista de Tiago Barbosa Ribeiro, que veio dar o peito às balas
Ainda assim, neste momento, tudo aponta para uma maioria absoluta de Rui Moreira mais forte do que há quatro anos. Está arrependido de ter dito que não assumiria pelouros ou que não faria um acordo pós-eleitoral com Rui Moreira?
Não, porque o que me move não são lugares. Não quero ser vereador a troco de não sei bem o quê. Se quisesse ser vereador ou ter um lugar executivo fácil, se calhar tinha seguido outro caminho. Se estou aqui como candidato é porque tenho um projeto alternativo para a cidade. Nenhum interesse pessoal está em jogo. É uma questão política. Se tenho um projeto alternativo, dificilmente iria integrar outro. Obviamente, que estarei sempre cá para defender os interesses da cidade, mas não me arrependo de nada, até porque, como disse, acredito muito que vamos vencer estas eleições e a 'procissão ainda vai no adro', como se diz muito aqui no Porto.
O PSD abordou primeiro Rui Moreira e Paulo Rangel, não sente que a sua candidatura está fragilizada aos olhos dos eleitores desde o início?
Se a minha candidatura está fragilizada a do PS está muito mais. Teve três falsas partidas, uma desistência e conseguiu ter um nome graças à dedicação à causa socialista de Tiago Barbosa Ribeiro, que veio dar o peito às balas até contra a proteção centralista do PS nacional a Rui Moreira nesta aliança escondida que o atual autarca tem com António Costa. Aí, sim, há alguma fragilidade e admiro a coragem de Tiago Barbosa Ribeiro - que é um jovem de grande futuro na política da cidade - em ter vindo ocupar esse espaço.
No meu caso, não vejo dessa forma. Paulo Rangel é uma pessoa de excelência no quadro do PSD, uma pessoa que admiro muito e que esteve na minha apresentação de candidatura, na qual teceu considerações sobre mim de que me orgulho muito. Recordo que o meu nome foi aprovado por unanimidade por todos os órgãos do partido e contou com o apoio do presidente do PSD, que é também uma referência na cidade, e ainda com o apoio de Paulo Rangel, que é eurodeputado e, como todos os sociais-democratas, gosta de cumprir o mandato até ao fim, o que só honra o PSD e a nossa cidade.
Conhecendo-me como me conhece, penso que é uma forma de Rui Rio de me picar e estimular. Rui Rio sabe que não vou a jogo para marcar passo e considero que está a dar-me um boost adicional de energia
Mas foi o próprio Rui Rio que afirmou que “o PSD não tem a obrigação de ganhar a Câmara do Porto”. Ainda assim, foi noticiado que a sua campanha é das mais caras. Porquê então este investimento na sua candidatura?
Rui Rio nunca disse que o Porto não era uma aposta do PSD.
Disse, em conferência de imprensa em março, na apresentação de vários candidatos do partido, que o “PSD não tem a obrigação de ganhar a Câmara”…
Conhecendo-me como me conhece, penso que é uma forma de Rui Rio de me picar e estimular. Rui Rio sabe que não vou a jogo para marcar passo e considero que está a dar-me um boost adicional de energia. Quanto aos orçamentos, não conheço os outros, só posso falar do meu*. Mas, face a 2017, temos, para o Porto, uma redução do orçamento em cerca de 43%. No orçamento está contabilizado tudo a que nos propomos e conta com uma parte significativa de donativos. Esses donativos serão sempre geridos centralmente pelo PSD e de forma transparente. Estamos a falar de um corte muito significativo em comparação com a candidatura de 2017. Por isso, sinto-me confortável com estes números.
Quando lutamos contra um incumbente que pode usar meios que não temos para se promover, naturalmente, temos de investir também para fazer passar a nossa mensagem. Considerando que está à frente da Câmara, Rui Moreira tem um conjunto de mecanismos de propaganda que pode usar em seu proveito e o mesmo acontece com o PS, que, estando no Governo, tem muitos meios ao seu dispor. No entanto, aguardo também as contas finais de cada candidatura, essas é que valem.
*A entrevista foi realizada antes de terem sido divulgados oficialmente os orçamentos das campanhas para as eleições autárquicas disponibilizados na página da Internet da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos.
Não há nenhum acordo formal [entre Rui Moreira e António Costa], mas é evidente aos olhos de quem anda atento. Aliás, há provas do passado
Já disse, por diversas vezes, que acredita que vencerá esta corrida às urnas. O que seria um bom resultado para si?
Depende muito, porque depende do equilíbrio de forças de cada candidatura. Mas obviamente que ter maioria é sempre mais confortável. Penso que é um grande desafio, mas é o meu objetivo. Quero ter mais um vereador do que o segundo classificado, para que possa ter capacidade de gestão.
Há pouco falou sobre acordos de Rui Moreira com António Costa. O atual presidente do Porto já veio garantir que não tem acordos secretos com o primeiro-ministro. Rui Rio insiste que sim. Também concorda com líder do partido nesta questão?
Não só concordo, como considero que é evidente. O candidato do PS ao Porto teve a sua apresentação e o líder nacional socialista, que estava perto do local, em Vila do Conde, escolheu não ir ao Porto, quando uns tempos antes, esteve numa cerimónia no Porto, com Rui Moreira, a anunciar o lançamento do concurso público de conceção e construção do metrobus Boavista-Império, tendo disponibilidade para vir à cidade.
Depois, Rui Moreira não apresentou candidatura à Junta de Freguesia da Campanhã, a única Junta de Freguesia socialista da cidade do Porto, mas diz que Campanhã é uma prioridade. Não há nenhum acordo formal, mas é evidente aos olhos de quem anda atento. Aliás, há provas do passado. O parceiro que Rui Moreira escolheu quando teve de fazer uma coligação foi o PS e hoje esconde-se através desta máscara de independente, mas tem o apoio de mais partidos do que a minha candidatura. Rui Moreira é apoiado pelo CDS, pela Iniciativa Liberal, Nós, Cidadãos! e pelo Partido da Terra e acredito que a sua aliança natural com o PS nacional irá acontecer.
E não é, portanto, inevitável que todos esses apoios à candidatura de Rui Moreira prejudiquem os resultados da sua?
Não, não acho que me prejudiquem. Há claramente uma diferença entre alguém que tem um projeto para a cidade, com provas dadas e de um partido que tem história na cidade, em oposição de um movimento pseudoindependente.
Rui Moreira acomodou-se, tornou-se num autarca vulgar e não naquilo que esperava, na altura, que era de que iria ‘vestir a camisola’, reformar o Porto e transformar a cidade
No entanto, a questão da candidatura ser independente, bem como o caso Selminho, parecem não estar a afetar as intenções de voto em Rui Moreira, apesar das críticas que deixa. Podem estas acusações estar a ter o efeito contrário junto dos eleitores para o seu lado?
Nunca trouxe o caso Selminho para a praça pública. No dia da apresentação da minha candidatura foi o próprio movimento de Rui Moreira que disse achar estranho que a minha candidatura fosse anunciada no mesmo dia em que o Ministério Público se tinha pronunciado sobre o processo. Falei zero do tema.
Mais, no dia em que foi proferida a acusação do Tribunal de Instrução Criminal, foi Rui Moreira que optou por fazer uma comunicação política, a partir da Câmara, com todo o seu executivo ao lado, sem que que me tivesse pronunciado sobre o caso. Contudo, no momento em que Rui Moreira trouxe o processo para a esfera política, tornou-o num caso político. Hoje, penso que corrigiu o rumo e retirou o caso da política.
Como Rui Moreira disse, é humano que se defenda, mas se ele próprio decidiu trazer o caso para a esfera política eu não o podia ignorar. Desde que Rui Moreira deixou de usar o seu espaço de comentário ou o tempo que deveria dedicar à cidade, deixei de me pronunciar sobre a matéria. É importante sublinhar este histórico. Não me viram, nem me verão a fazer julgamentos antecipados do que quer que seja.
Ainda assim, já deixou diversas críticas sobre outras matérias a Rui Moreira e o atual presidente do Porto já se disse surpreendido com esses ataques, quando foi uma das pessoas que o apoiou no passado. Como encara esta reação de Rui Moreira?
Considero que tem de ficar bem claro que nunca fiz um ataque pessoal a Rui Moreira. A divergência é política e prende-se com o projeto e a visão que tenho para a cidade. Em 2013, apoiei Rui Moreira em conjunto com outras pessoas que queriam assegurar que havia um projeto de continuidade do legado que existia, com um olhar sustentável, de projeção e de evolução para o futuro. O nome que apareceu foi o de Rui Moreira e obviamente que o apoiei, sempre dei a cara que o fiz.
Contudo, sinto que, ao longo dos últimos anos, Rui Moreira acomodou-se, tornou-se num autarca vulgar e não naquilo que esperava, na altura, que era de que iria ‘vestir a camisola’, reformar o Porto e transformar a cidade. Rui Moreira preferiu surfar a onda, ter uma atitude mais reativa e acelerar nos momentos mais próximos de campanha eleitoral. A minha crítica, tem, acima de tudo, a ver com opções políticas e com o modelo de desenvolvimento escolhido para a cidade.
Penso que Rui Moreira não me pode levar a mal por ter visões diferentes das suas, acredito que é até de saudar e natural. Rui Moreira é que já não estava habituado a isso, depois de oito anos sem praticamente ter uma oposição consistente e sólida, porque foi fazendo acordos aqui e ali, adormecendo todos à sua volta. Penso que era preciso a cidade acordar e foi a esse apelo que também reagi.
Quando tenho de dizer que não a Rui Rio digo, bem como quando tenho de dizer que sim. Tenho muito respeito e admiração pelo presidente do partido, mas nunca fui nem serei ventríloquo de ninguém
Houve algum momento específico ou uma decisão política particular de Rui Moreira que definiu essa rutura para si?
É um acumular. Não houve um momento particular, isto não é nenhum arrufo. Foi, sobretudo, devido a esta postura de passividade e reativa e da grande aposta na propaganda. São estas as atitudes que me desiludem.
Então, “não leva a mal” quando Rui Moreira lhe chama "um ventríloquo" de Rui Rio?
Tenho muito orgulho naquilo que foi o meu caminho com Rui Rio. Quem me conhece sabe que tenho opinião própria e que o meu projeto não é montado numa sociedade unipessoal como o de Rui Moreira. No projeto de Rui Moreira é que haverá muitos ventríloquos, pois, como se vê, a mensagem é difundida de forma igual por um grande conjunto de elementos do movimento, mostrando quase uma lógica propagandista muito bem estruturada. Quando tenho de dizer que não a Rui Rio digo, bem como quando tenho de dizer que sim. Tenho muito respeito e admiração pelo presidente do partido, mas nunca fui nem serei ventríloquo de ninguém.
Se houver uma derrota será minha, não de Rui Rio. Darei o melhor que sei e posso porque a cidade, acima de tudo, merece
Quais diria que são os seus pontos fortes e fracos como candidato à presidência do Porto?
Essa é uma pergunta difícil. Não gosto muito de falar de mim. Mas, no que diz respeito a pontos fracos, por vezes, penso que sou demasiado emocional e ter uma ligação muito forte à cidade pode desviar-nos da razão. Contudo, tendo consciência desta característica, tento-a sempre contrariar. Quanto a pontos fortes, acima de tudo, aponto a minha capacidade de entrega, de superação e de compromisso.
Afirmou que se perder estas eleições irá encarar este resultado como uma derrota pessoal. Contudo, uma derrota para o PSD no Porto poderá significar o fim de uma liderança. Admite esta pressão adicional?
A pressão existe sempre. Se venho para ganhar, tenho pressão de qualquer forma. Se perdermos o Porto, mas o PSD ganhar todas as outras câmaras, Rui Rio terá um grande resultado. Ainda assim, se perder no Porto é uma derrota para Rui Rio porque também é portuense e, portanto, ficará entregue durante mais quatro anos a Rui Moreira. Mas, não sinto essa pressão. Se houver uma derrota será minha, não de Rui Rio. Darei o melhor que sei e posso porque a cidade, acima de tudo, merece. É com a cidade que estou comprometido, portanto, os resultados nacionais terão depois uma outra análise que não é minha.
Caso [Rui Rio] deixe a liderança social-democrata, penso que Portugal perde uma grande oportunidade de ter um primeiro-ministro que se adequa exatamente àquilo que o país precisa
E se essa derrota acontecer, está disponível para avançar com uma nova candidatura daqui a quatros anos? Rui Moreira estará fora do cenário, considera que seria uma vitória fácil para o PSD?
Espero ganhar agora e recandidatar-me daqui a quatro anos. É nisso que estou focado.
E acha que é possível Rui Rio perder a liderança a seguir às autárquicas, caso o PSD tenha um resultado pior do que em 2017?
O presidente do partido já se pronunciou sobre essa questão. É uma decisão sua. Sei que Rui Rio é uma pessoa que não está agarrada ao poder e que fará as suas escolhas de forma sensata, transparente, e sem qualquer apego ao lugar. No entanto, caso deixe a liderança social-democrata, penso que Portugal perde uma grande oportunidade de ter um primeiro-ministro que se adequa exatamente àquilo que o país precisa, nos dias de hoje.
E verificando-se esse cenário, quem é que apoiaria na sucessão de Rui Rio?
Não faço futurologia, até porque acredito que Rui Rio vai ser primeiro-ministro. É isso que Portugal precisa.
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