Está no segundo mandato como eurodeputado e é um dos deputados europeus mais mediáticos em Portugal. Na segunda parte da entrevista ao Notícias ao Minuto, Nuno Melo falou sobre a saída de Paulo Portas da liderança e explicou por que 'abdicou' de assumir os destinos do partido a favor de Assunção Cristas.
De que batalhas travadas na Europa mais se orgulha?
Eu tenho tido um mandato muito transversal, não me resumo às comissões que integro e tenho tentado promover iniciativas que não são muito comuns. Antes de integrar a comissão da Agricultura, tive sempre vontade de promover em Bruxelas aquilo que de melhor se faz em Portugal, designadamente no setor agroalimentar. Já vou na quarta edição de uma iniciativa que se chama ‘O Melhor de Portugal’ e na terceira do Congresso Europeu de Jovens Agricultores. A primeira leva a Bruxelas empresários e produtores do setor agroalimentar e a segunda junta jovens agricultores de toda a Europa, que se apresentam a concurso. Noutras áreas, uma das minhas marcas é uma diretiva aprovada que permite que um magistrado de um país possa dar indicação às autoridades de outro país para que os meios de prova sejam recolhidos. De resto, a minha atividade também está muito direcionada para o setor bancário. Há muito no meu mandato de que me orgulho.
Considerei que Assunção Cristas seria alguém que, na mudança de ciclo de Paulo Portas, estaria em melhores condições de desempenhar o cargo
O facto de ser eurodeputado travou uma possível candidatura à liderança do CDS ou foi a convicção de que Assunção Cristas era a melhor pessoa para o cargo que o fez não avançar?
Eu diria que foram ambos. O facto de ser eurodeputado inibia-me, tendo em conta os reparos que eu próprio fiz nos tempos da liderança de Ribeiro e Castro, por considerar que era importante o líder de um partido estar na Assembleia da República a travar os debates principais com o primeiro-ministro. Não poderia exigir menos a mim do que exigia a Ribeiro e Castro. E depois porque considerei que Assunção Cristas, sendo mulher, tendo tido um papel visível no governo, tendo um trajeto mais tardio, beneficiando de uma grande simpatia da comunicação social e tendo essa vontade, seria alguém que, na mudança de ciclo de Paulo Portas, estaria em melhores condições de desempenhar o cargo.
As mulheres têm hoje um peso político que não tinham noutros tempos. Ser mulher na política é hoje mais um trunfo do que um entrave?
Francamente acho [que sim], mas vejo isso como um facto normal. O que não acharia normal é que ser homem pudesse ser, na política como na vida, um handicap. Não vejo nenhum inconveniente em que ser mulher funcione como um apelativo. Nas últimas décadas, têm sido várias as mulheres particularmente fortes e carismáticas nas lideranças de Estado ou Governo. Temos os exemplos de Margaret Tatcher, no Reino Unido, e Angela Merkel, na Alemanha. Contudo, nós somos um conjunto de características, o facto de ser mulher, só por si, não é um critério.
Agora que está Assunção Cristas à frente do CDS, que principais lutas estão em cima da mesa?
O CDS tem, com a Assunção e vários outros dirigentes, conseguido marcar muito a agenda política, desde as políticas do envelhecimento às matérias de natureza económica e financeira, à agricultura e área social. Isso é talvez o fator mais demonstrativo da eficácia desta liderança.
Paulo Portas assumiu o cargo de conselheiro estratégico na Mota-Engil e mais recentemente na mexicana Pemex. Houve quem levantasse a voz e lhe apontasse o dedo. Considera legítima a opção de ingressar no setor empresarial privado ou as funções são incompatíveis com os cargos que desempenhou?
Muitas pessoas mantiveram impressionante silêncio durante décadas em relação a recorrentes nomeações de governantes para empresas de áreas que tutelaram. Acho curioso que agora tenham comentado em relação a Paulo Portas. Parece-me um caso distinto, porque não foi convidado para o conselho de administração de uma empresa, foi escolhido para uma área que eu teria como de consultoria ou aconselhamento.
Considero, aí sim, particularmente grave que, num momento em que o setor bancário mais precisa de independência absoluta do poder político, se opte por recrutar pessoas que foram governanteAlém disso, há, por seu intermédio, uma multiplicidade de pessoas que podem ajudar as empresas portuguesas a criarem oportunidades de negócio e postos de trabalho, bem como gerar riqueza. Se tivesse de identificar um problema estrutural em Portugal invocaria o setor bancário. Considero, aí sim, particularmente grave que, num momento em que o setor bancário mais precisa de independência absoluta do poder político, se opte por recrutar pessoas que foram governantes. Posso referir casos como os de Teixeira dos Santos, Elisa Ferreira, Vítor Constâncio, António Vitorino ou Luís Campos e Cunha.
Ribeiro e Castro, Anacoreta Correia e Manuel Monteiro faziam parte de uma corrente crítica à liderança de Paulo Portas. As vozes discordantes tendem a esbater-se com a ascensão de Assunção Cristas à liderança?
Eu não teria como líquida essa discordância. Ribeiro e Castro continuou a ser deputado, integrando listas a convite de Paulo Portas. Anacoreta Correia é hoje deputado da Assembleia da República numa oportunidade que lhe foi dada por Paulo Portas. E foi assim com muitos outros, porque se há característica que Paulo Portas sempre teve foi a de, independentemente das disputas, tentar agregar o essencial do partido. Sendo um temível opositor, foi sempre um tremendo conciliador.
*Leia a primeira parte desta entrevista aqui.