Para Mário Nogueira a questão é simples: quem afirma que a Fenprof exerce controlo sob o Ministério da Educação só pode ser alguém “que não tem argumentos” e “que não pensa”. Sem grandes ambições para o futuro, fala orgulhosamente sobre as conquistas da Fenprof. Em relação ao polémico cartaz da JSD, garante que avançar com um processo pessoal seria "dar muita confiança a essa garotada".
A nova luta da Fenprof, o regime especial de aposentação dos professores, ainda não foi conseguida. Como é que isto é visto aos olhos do Governo?
Pois não sei, mas tem de ser visto. Hoje estamos numa situação verdadeiramente insustentável. Ao longo dos últimos 10 anos, os professores passaram de uma aposentação que se fazia aos 36 anos de serviço e que se atingia entre os 56 /58 para os 66 anos. Ou seja, em 10 anos, a aposentação aumenta dez anos. Isto é até um dos motivos para que o desemprego se mantivesse, porque o que era normal era que à entrada de pessoas a aparecer no sistema, havia outras a sair. E houve entrada de gente, mas não houve ninguém a sair. Hoje temos um corpo docente extremamente envelhecido, dificilmente numa escola existem professores com menos de 30 anos. Não está em causa a qualidade dos professores, mas sim o desgaste.
Mas os professores são diferentes do resto da administração pública?
Tem a ver com o tipo de trabalho. As exigências de que os alunos cheguem a um exame e o façam não são exatamente as mesmas que outra pessoa tem. E hoje temos de facto situações muito complicadas de pessoas que não se podem aposentar mais cedo e o corpo docente das escolas está envelhecido, está cansado, está com um desgaste psicológico tremendo e existe simultaneamente uma ótima geração de ótimos professores que estão a fazer tudo menos serem professores.
Mais duas medidas aplicadas pelo Governo, o fim da PACC e das bolsas de contratação das escolas. Mais uma conquista para a Fenprof?
Não, não é uma conquista para a Fenprof - é uma conquista para os professores. A PACC não servia para nada, era uma coisa completamente absurda, era uma idiotice. A PACC era uma coisa que foi criada com um único objetivo, que era pôr na rua professores. E pôs no primeiro ano.Cinco mil professores foram retirados dos concursos, até de uma forma ilegal e no segundo ano, dois mil professores. (...) As BCE’s a mesma coisa. Aliás, há vários casos em tribunal, porque criaram no regime de concursos de professores tremendas injustiças e ultrapassagens e introduziram fatores de discricionariedade complicados. Houve gente que por conta das BCE’s foi colocada com zero dias de serviço ou um ano de serviço no máximo, e depois conseguiu renovar cinco vezes consecutivas o seu contrato e hoje está nos quadros. Contrariamente, houve colegas que tem 15 ou 18 anos de serviço, mas que não conseguiram entrar nas BCE’s nem podiam concorrer.
Há quem diga que o Ministério da Educação é uma marioneta nas mãos da Fenprof. Isto é uma acusação sem fundo? Se formos ver, têm sido só vitórias.
Quem faz o seu curso na universidade de Castelo de Vide, a única coisa que pode ter como saída profissional é a bancada parlamentar do PSD, porque a universidade de Castelo de Vide não dá para mais nada.
Não, não têm sido só vitórias até agora. Há momentos em que as políticas vão num sentido e que noutros momentos, vão noutro. Penso que quem diz isso é porque não tem outros argumentos e é a direita que o diz. Compreendo que a direita o diga, porque é assim: as pessoas para terem argumentos têm de ter preparação, têm de ter formação, têm de pensar. E quando as pessoas não pensam… E hoje de facto a direita não tem qualidade nenhuma. Podemo-nos lembrar de pessoas que foram ministros e líderes do PSD, que eram pessoas que nós podíamos dizer assim: “Discordamos daquilo, mas ele tem um projeto”. Ou seja, eram pessoas que tinham um projeto para a educação. Hoje da direita não se pode esperar muito. Quem faz o seu curso na universidade de Castelo de Vide, a única coisa que pode ter como saída profissional é a bancada parlamentar do PSD, porque a universidade de Castelo de Vide não dá para mais nada. O que hoje existe de novo não é a Fenprof - acho que a direita ainda não o percebeu - mas sim uma maioria que não é de direita.
Em relação ao cartaz da JSD, em que o comparam a Estaline, acha que foram ultrapassados limites? A Fenprof disse que iria processar. Será uma ação a nível pessoal?
A haver um processo, não seria um pessoal, porque isso até era dar muita confiança a essa garotada.
Não, eu não disse isso. Na altura, eu até estava em reuniões com colegas no Funchal e só vi esse cartaz dois ou três dias depois, porque me disseram. Quem anunciou esse processo foi de facto a Federação porque sentiu que estava a ser enxovalhada perante uma coisa deste tipo. (…) Acho que não são capazes de fazer mais do que aquilo. É uma paródia. Um faz um desenho e admito que alguns até tenham jeito para o desenho. É aquilo a que eles reduzem a discussão política. Não sei se vai haver processo, porque não sou eu que estou a tratar disso. A haver um processo, não seria um pessoal, porque isso até era dar muita confiança a essa garotada.
Pensa ser um líder não contestado?
Eu espero ser um líder contestado! Quando em 2007 cheguei e fui eleito, foi num congresso onde tivemos duas listas e tivemos muita discussão política. (…) Acho que independentemente de as pessoas criticarem, as pessoas reconhecem o trabalho que temos feito. (…) Temos sido importantes para que os professores não levem ainda mais pancadaria e para que a escola pública não se tivesse degradado ainda mais.
E quando acabar o seu mandato, imagina-se a voltar a ser professor? Ou a ambição não morre aqui?
Não, eu não tenho ambição nenhuma. Só estou aqui por ser professor e porque os professores têm votado. A única coisa que vai acontecer é que quando acabar o meu tempo de estar aqui, vou para a minha a escola. Isso até podia não acontecer se a reforma fosse como era dantes. (…) Não tenho plano nenhum em termos sindicais de estruturas superiores, nem em termos de partidos ou de governo, de governo então era incapaz mesmo.
Agora ir para um governo para ser empregado dos que mandam ‘lá de Bruxelas’, de certeza que não tinha jeito para isso.
Porquê?
Quer dizer, seria capaz se tivéssemos num país em que Portugal fosse um país soberano e as políticas fossem claramente políticas de esquerda. Agora ir para um governo para ser empregado dos que mandam ‘lá de Bruxelas’, de certeza que não tinha jeito para isso. Não era para onde eu estaria virado. Preferia estar a combater esses mandadores de cima porque de facto Portugal tem deixado que outros decidam por nós aspetos muito importantes da vida nacional.