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"Estamos no fio da navalha, qualquer desequilíbrio faz-nos tombar"

António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), é o entrevistado desta semana do Vozes ao Minuto.

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Inês André de Figueiredo
07/09/2016 11:50 ‧ 07/09/2016 por Inês André de Figueiredo

Economia

António Saraiva

Numa entrevista exclusiva ao Notícias ao Minuto, o presidente da CIP recordou que a relação com o Governo do PS não se iniciou da melhor forma mas que, nos últimos tempos, o Executivo "deu a mão" e tem vindo a contar mais com os parceiros sociais. Não privilegiando a relação com o anterior governo de Direita, António Saraiva falou sobre as relações com Costa, sublinhando o facto de a governação portuguesa estar muito limitada pela Europa. 

Como está a relação da CIP com o atual Governo de António Costa?

Está bem, nós não temos relações com os governos porque eles são de coloração A ou B, porque ele é PS ou PSD, melhores ou piores. Nós temos relações institucionais com os governos, tentamos melhorar as políticas desses mesmos governos e, por isso, a relação é normal, institucional e boa.

Crê que o Governo tem dado espaço de negociação aos parceiros sociais?

O Governo teve uma entrada que não foi, na nossa perspetiva, a melhor, com a reversão dos feriados, com a questão do anúncio do salário mínimo sem prévia discussão, enfim, teve alguma entrada que criticámos em algumas medidas. Tem vindo a corrigir, a trazer à concertação os temas que hoje estão em discussão na concertação e que são aqueles que importam. Temos hoje um conjunto de pontos em agenda para discussão que nos levam a reconhecer que o Governo deu a mão, reconhecendo que tinha entrado mal com algumas medidas, e tem hoje uma relação com os parceiros sociais perfeitamente normal.

Numa entrevista recente ao Notícias ao Minuto, Arménio Carlos disse que o Executivo não pode ceder às pressões e chantagens dos patrões. O que acha disto?

Da mesma maneira que não pode ceder às pressões e chantagens dos sindicatos. O Governo tem de estar acima de interesses, sejam deles de um lado ou de outro, o Governo tem de olhar para o desenvolvimento da economia, melhorar os fatores de competitividade, tem de tornar o país um país competitivo e não pode ficar refém de interesses, nem partidários nem de classe, seja ela que classe que for.

Por isso, se o senhor Arménio Carlos disse isso, terá de dizer-se também que o Governo tem de estar liberto e não pode estar refém de nenhum interesse, tem de estar acima dos interesses.

Que diferença assinala ao tratamento das empresas entre o atual Governo e o anterior?

Não vejo diferenças substanciais. Foram anunciadas, até por respeito do programa eleitoral do Partido Socialista, e depois fruto do acordo parlamentar com PCP e Bloco, algumas reversões que vêm ao arrepio dos interesses da economia e, logo, das empresas. Mas não se pode dizer que há, com este Governo, um ataque desta ou daquela natureza às empresas.

Muito se falou sobre o facto de o governo anterior desfavorecer os trabalhadores em prol dos patrões. Não estamos a falar do contrário agora?

Não. Da mesma maneira que era falso dizer isso no governo anterior, seria excessivo dizê-lo agora em relação a este.

O Governo teve uma entrada que não foi, na nossa perspetiva, a melhorEstamos a falar de uma relação perfeitamente normal com algumas medidas que este Governo tomou, comparativamente com o anterior, que, na nossa perspetiva, prejudicam a confiança, prejudicam o investimento porque são mais sinais que foram dados que amedrontam o investimento. Mas admito que o Governo, atento à realidade do que é hoje a globalização, as necessidades que o país tem e o que as empresas atravessam, não vá em cantos de sereia ideológico, seja pragmático e perceba que a economia tem regras que não se compadecem com tiques ideológicos desta ou daquela natureza.

As empresas teriam sido mais beneficiadas com o programa que PSD e CDS apresentavam?

Eu deixaria uma outra pergunta: Qual é o grau de liberdade que o Governo português tem hoje, em termos de legislação, que fuja a regras comunitárias e europeias? Independentemente se o Governo é mais de Centro-direita ou mais de Centro-esquerda, o grau de liberdade que o Governo em Portugal hoje tem é muito diminuto. Não deixa de ter alguma modulação de esta ou daquela dimensão e, por isso, não vamos ser ingénuos e pensar que este Governo vai ter as mesmas políticas e a mesma praxis do governo anterior.

Sendo essa relação com a Europa tão próxima e tão relevante para o país, como viu o desfecho das sanções?

Normal, acho que a União Europeia, mais uma vez, esteve muito mal nesse dossier. Foi perfeitamente desnecessário todo aquele bruaá que se teve à volta do tema, o desfecho foi aquele que devia ter sido, o que foi desnecessário foi a maneira como lá se chegou.

A ideia de segundo resgate continua a pairar. Na sua opinião trata-se de algo possível ou de um cenário inesperado?

É uma solução que não está afastada, não podemos dizer que ‘não, não se verificará’, da mesma maneira que não podemos dizer ‘sim, sim, vai verificar-se’. Nós estamos no fio da navalha, estamos com muitas debilidades, temos de ter muito cuidado com a navegação que estamos a fazer e qualquer desequilíbrio faz-nos tombar e, por isso, sem podermos dizer com rigor que vamos tê-lo ou que não vamos tê-lo, aquilo que temos de ter é muito cuidado, sensatez, serenidade.

O grau de liberdade que o Governo em Portugal hoje tem é muito diminutoA banca portuguesa está numa situação complicada, a recapitalização necessária da Caixa e a dimensão dos outros bancos, a questão do Novo Banco… Estamos com problemas complicados e a União Europeia, mais uma vez, vai ter de ser solidária no encontrar de soluções que acautelem esta fragilidade em que nos encontramos porque, mais uma vez, não é um problema da banca portuguesa quando se sabe que o Deutsche Bank, por exemplo, está com graves problemas.

Quais os objetivos da CIP a curto e a longo prazo e que propostas está a ponderar apresentar ao Governo?

Estamos à espera que o Governo apresente o Orçamento do Estado, mas não letárgicos, estamos expectantes. Aquilo que é o conjunto das nossas preocupações está listado, estamos a elencar um conjunto de medidas que nos preocupa [aos parceiros sociais] e que deve orientar a política portuguesa.

No caso concreto da CIP isto coincidirá com um novo mandato dos nossos órgãos sociais e o nosso programa de candidatura coincidirá com o plano de atividade para 2017 e aí vamos elencar todas essas questões.

Temos de encontrar formas de melhorar e promover o investimento, acelerar a recapitalização das empresas, melhorar o financiamento da economia procurando novos mecanismos de financiamento, melhorar as políticas comunitárias e uma União Europeia diferente. Temos de exigir que a União Europeia seja uma união e que as regras comunitárias atentem a estes fenómenos de investimento, crescimento económico, solidez do sistema financeiro. Por isso há muita preocupação com a Europa.

Pode ler a primeira e a segunda partes desta entrevista aqui e aqui.

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