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"Lidar com a morte tão cedo relativiza muita coisa"

Aos 13 anos perdeu o pai e, desde então, ficou ainda mais próxima da mãe, como "unha e carne". Hoje, Iva Domingues tenta dar os melhores conselhos à filha, baseados nas experiências e lições que teve ao longo da vida.

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Marina Gonçalves
08/08/2017 12:43 ‧ 08/08/2017 por Marina Gonçalves

Fama

Iva Domingues

Apesar dos imprevistos e das surpresas - boas ou más -, Iva Domingues contou sempre com o apoio incondicional da mãe, que acabou por fazer também o papel de pai. 

Ao Fama ao Minuto, a apresentadora recordou que não teve tempo de se despedir do progenitor, que partiu cedo, quando ainda tinha 13 anos. Atualmente, as mulheres da família são quem comanda e, tal como aprendeu com a mãe, Iva prepara-se para enfrentar um mundo desconhecido, apenas para poder ver a filha seguir o seu sonho.

A Iva mostra ser uma mãe muito presente e faz questão de acompanhar os sonhos da filha. Qual é para si o significado de ser mãe? 

É tudo. É conhecer o amor maior, a soma de todos os medos. Perceber que desde aquele momento se é um bocadinho eterna, há um bocadinho de nós noutra pessoa, é perceber o milagre da vida... Ser engolida por um amor que é muito maior do que tudo.  

Tento educar a minha filha na base do respeito, primeiro por ela e depois pelos outrosQue tipo de educação que tem dado à sua filha. Quais os principais conselhos? 

Tento educar a minha filha na base do respeito, primeiro por ela e depois pelos outros. Na tolerância pela diferença e na aceitação dessa diferença, e no entender que isso só a enriquece. Na liberdade, o nosso bem maior para se fazer o que se ama, o que se gosta, que se sonha, sem nunca questionar a liberdade do outro.  

Os conselhos que lhe dá refletem-se no que ouviu dos seus pais e nas experiências que vivenciou?  

Claro. Nós somos fruto da nossa educação. É a mulher e as suas circuntâncias. Aqui também. Eu fui educada nesse respeito, nessa tolerância, nessa liberdade, e acredito profundamente nesses valores essenciais e no amor pelo próximo.  

As pessoas acham sempre que nunca vão morrer, por isso é que nunca morrem nos sonhosTer de lidar com a morte desde cedo muda a forma de encarar a vida? 

Absolutamente. A partir desse momento conhece-se a finitude, sabe-se o que é. As pessoas acham sempre que nunca vão morrer, por isso é que nunca morrem nos sonhos. Há ali um mecanismo de defesa. Mas, de facto, lidar com a morte tão cedo relativiza muita coisa. Não dou importânica a coisas que não têm importância. Revejo, sei bem as minhas prioridades. Nunca deixo para amanhã, mesmo, o que quero dizer hoje. Fazer e sobretudo dizer. Aproveita-se mais os momentos de felicidade. Queixamo-nos menos e agradecemos mais o facto dos que nós amamos estarem bem, de estar toda a gente com saúde. Acordar e perceber que hoje é um dia bom. Isso fica presente para o resto da vida.  

Perder o pai é uma dor que permanece. Como se consegue atenuá-la? É o tempo o nosso maior amigo? 

O tempo atenua. Transforma uma dor que é no início insuportável e dilacerante, falo no meu caso e acredito que seja assim. Com o tempo o que fica é uma saudade que no início dói e depois é doce, bonita, porque se fica com as melhores memórias, todas as que se consegue ter.  Uma saudade que às vezes só dói em momentos muito importantes. Quando a minha filha nasceu, quando acabei o meu curso, quando recebi o meu primeiro ordenado, momentos fundamentais e fulcrais na minha vida pessoal ou profissional. Há momentos em que pensamos: ‘Queria tanto que estivesses aqui’. 

Recebi a melhor herança que podia ter. Quando a vida me foi acontecendo, fui reagindo a elaNessa altura, quais os principais medos que a assombravam? 

Era não saber se iria ser capaz de perceber qual era o meu caminho. Tinha ali um apoio, uma bengala, e a partir daí tinha a minha mãe, claro, mas tive receio de não saber fazer sozinha. Mas recebi a melhor herança que podia ter. Quando a vida me foi acontecendo, fui reagindo a ela, reconhecendo essa herança que o meu pai me deixou, de afetos, de forma de estar, pensar e de lidar com os problemas. É muito importante a forma como se encara o problema. Que é: 'Ok. Consigo resolver, ótimo. Não depende de mim, está fora do meu controlo? Não me vou preocupar'. Conseguir distinguir uma coisa da outra e não dramatizar. Grave é a morte e antes disso é a doença, tudo o resto tem solução. 

Neste momento eu sou mãe e agora sei que não é preciso dizer nada. Basta estar, olhar e abraçarNão conseguiu despedir-se, mas se agora lhe fosse dada a oportunidade de estar com ele por uns breves minutos, o que lhe dizia? 

Curiosamente não lhe dizia nada. Só queria estar a olhar para ele, para os olhos dele e dar-lhe um abraço eterno. Neste momento eu sou mãe e agora sei que não é preciso dizer nada. Basta estar, olhar e abraçar. Agora sei que não era preciso, eu sempre disse, verbalizei. Naquele dia tranquei-me, mas até lá tudo foi dito, muitas vezes. Agora não, só queria estar a olhar para ele, acho que nem conseguia falar.  

Sente que ficou mais próxima da sua mãe? 

É natural, ficámos unha e carne. Já éramos, eu sou filha única, mas a relação fica muito mais forte e cúmplice. Tive de cuidar dela e ela de mim. 

Conseguiu desempenhar bem o papel de mãe e pai? 

A minha mãe é a melhor, é minha. Mas, claro, sim. Só nós duas é que sabemos

Tento educar a minha filha no respeito, primeiro por ela e depois pelos outros

Também contou sempre com o apoio da sua mãe em tudo? Mesmo quando disse que queria ser apresentadora? 

Tudo. A minha mãe é a minha maior referência porque é muito forte, muito sólida, e nunca vacilou. Se calhar a tremer por dentro, a sofrer imenso, mas sempre me apoiou em todas as decisões que tomei. Avisou-me de tudo, dos riscos que eu corria ou não, mas nunca pôs em causa nenhuma das minhas escolhas. Sempre teve uma confiança em mim absoluta. Desde que me lembre de ser pessoa. Só quando somos mães é que percebemos uma data de coisas. De facto, é difícil e ela é uma mulher incrível. É a minha melhor amiga e será sempre.  

Nunca escondi nada. Reservei-me no direito de ter a minha intimidade para mim, mas de ser coerente desde o princípio até ao fimA relação com Ângelo Rodrigues foi muito falada na imprensa. Como é que se gere as emoções daquilo que se lê do que se escreve de uma relação que é acompanhada de perto pelos meios de comunicação?   

Quando a nossa profissão tem uma exposição pública tem de se estar à espera disso, sobretudo quando o nosso companheiro também a tem. É gerir de uma forma muito respeitosa e com decoro. Ter uma relação com os media cordeal. Nunca escondi nada. Reservei-me no direito de ter a minha intimidade para mim, mas de ser coerente desde o princípio até ao fim. Foi isso o que eu tentei fazer e o Ângelo também. Foi público. Quando foi necessário dizer que tinha acabado, não é que tivessemos assim tanta importância para fazer comunicado, mas é uma questão de respeito pelos órgãos de comunicação e pelas pessoas que no início acharam estranho e improvável. No final, fomos muito acarinhados. Portanto, acho que sobretudo com respeito, dando e exigindo, e coerência.  

A Iva já disse que o amor é quem nos salva. Neste momento, qual é o seu porto seguro, o seu anjo da guarda? 

Aqui em baixo é a minha mãe e a minha filha, ela também me salva todos os dias. Lá em cima não tenho a menor dúvida de quem é, sempre foi ele, o meu pai. Acho que na companhia do meu avô, mas o meu pai. Não tenho a menor dúvida.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui

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