Viveu e cresceu rodeada por música e desde criança que fez das melhores casas de fado de Lisboa uma segunda casa. Aos 13 anos, ganhou um dos concursos mais importantes do meio fadista ‘A Grande Noite do Fado’ e agora, aos 25, lança o primeiro disco em nome próprio.
Teve o privilégio de cantar e aprender ao lado de grandes nomes do fado e usou essas referências para este registo, que pretende que seja o seu cartão de apresentação como fadista.
O projeto foi criado em parceria com o produtor Diogo Clemente e conta com a participação de músicos como Ângelo Freire, na guitarra portuguesa, Marino de Freitas, no baixo, e Vicky Marques, nas percussões.
O álbum tem lançamento marcado para esta sexta-feira e em conversa com o Notícias ao Minuto Sara Correia passou em revista a sua carreira e o percurso que fez até este momento.
Cresceu numa família de fadistas e rodeada de músicos. De que forma é que isso impactou a sua escolha de carreira?
Comecei a cantar em casas de fado desde muito cedo, desde muito novinha. Com 11 anos já trabalhava aos fins de semana e desde sempre me lembro de cantar, não tenho lembrança de não o fazer, foi sempre a minha estrada, o meu caminho.
Em que momento é que decidiu que queria dedicar-se ao fado a tempo inteiro?
Tenho uma tia, a Joana Correia, que canta fado desde sempre e por isso oiço fado desde os três anos, sempre fui aos fados, sou do fado. Quando cheguei aos nove anos comecei a cantar e depois, em 2007, com 13, inscrevi-me na Grande Noite do Fado e acabei por ganhar. Foi aí que tive mesmo a certeza de que queria ser fadista e seguir esta vida.
Como é que é para uma menina daquela idade ganhar um concurso tão antigo e importante para o meio fadista?
Foi incrível, porque a minha tia já tinha vencido em 1997 e eu ganhei dez anos depois. Foi uma emoção muito grande. Mas só fui ganhando perceção do que aquilo representava ao longo dos anos.
Sente que foi aí que tudo começou mais a sério?
Sim, foi nessa altura que percebi que era aquilo que queria fazer. Mas a carreira veio devagar e com tempo, com muito fado à mistura, a cantar todos os dias em casas de fado. Foi aí que desenvolvi e entendi quem era enquanto fadista.
Lembra-se da primeira vez que lhe pagaram para cantar?
Não me lembro muito bem, acho que cantei muito de borla, porque cantava por gosto, porque precisava de cantar, era uma necessidade. Mas mais tarde, depois do concurso, aos 14 anos, convidaram-me para ir para uma casa de fados aos fins de semana e terá sido aí que comecei a ganhar o meu cachet.
Que papel desempenharam as casas de fado, que frequenta desde criança, na fadista em que se tornou?
Foram muito importantes e acho que é um caminho que tem de se fazer. Cantar em casas de fado, ouvir os fadistas mais conceituados e ter noção de que é necessário fazer esse percurso antes de ir para um palco. Foi uma grande escola, sem dúvida alguma.
O xaile e o uso do preto são características também muito associadas ao fado. Apesar de ter crescido rodeada por essa tradição, hoje, com 25 anos, cumpre-a ou não é nada tradicional?
Tento ao máximo não me carregar tanto, acho que há um tempo e idade para isso. Visto-me de forma simples, tento usar algumas cores, acho que faz sentido pela idade que tenho e porque a melhor forma de mostrar o fado é a cantá-lo.
Em 2007 gravou o disco ‘Destino’, mas considera que este é que é o seu primeiro álbum. Porquê?
Porque hoje tenho muito mais maturidade, alcancei outras coisas que naquele momento ainda não tinha conseguido. Este disco foi uma escolha e uma recolha de temas que fazem parte da minha vida, foi um álbum que quis gravar desde sempre e é o disco que mais me define.
O ‘Destino’ foi muito importante na minha vida porque marcou o meu percurso até aqui, mas o novo é aquele com que me quero apresentar como fadista.
Numa altura em que tem sido apelidada como uma das novas grandes vozes do fado, como é que foi o processo de lançamento do álbum ?
Há cerca de três, quatro anos, disse ao Diogo Clemente, o meu produtor, que me conhece desde criança e acompanhou todo o meu percurso, que gostava de gravar um disco e ele também achava que estava na altura. Depois houve um dia em que estava a cantar na Tasca do Chico, no Bairro Alto, e, por sorte, estava alguém da Universal Music na plateia, gostou de me ouvir e marcámos uma reunião. O álbum levou cerca de três anos a ser construído e estou muito feliz, acho que ainda nem tenho palavras para descrever o disco que tenho.
Como é que define este novo disco?
Em nome próprio. É um álbum de alguém que trabalhou e cantou a vida inteira, é produto das minhas experiências. É um disco com força, irreverência e garra.
O fado é um misto de emoções, por isso canto do amor, à solidão, à dor, canto coisas alegres e faz tudo parte. Algumas das canções vêm da minha vida, outras de pessoas de quem gosto muito e de referências do fado que tenho, como a Beatriz da Conceição ou Lucília do Carmo.
Vai ter o seu nome ‘Sara Correia’. De onde veio esta escolha? É uma biografia?
Tenho alguns temas, se não forem quase todos, que definem histórias da minha vida e por todo o trabalho que tive de pesquisa e de escolha para fazer um bom disco, achei que fazia sentido dar-lhe a força do meu nome. É quase uma biografia, sim.
O que é que os fãs, e quem ainda não a conhece, podem esperar daqui para a frente?
Espero mostrar aquilo que mais gosto de fazer, que é o fado, quero mostrar essencialmente que é possível mostrar quem somos se cantarmos com alma e se trabalharmos para isso.