Depois de sujeito pela autarquia a uma reabilitação orçada num milhão de euros, o renovado espaço museológico desse concelho do distrito de Aveiro continua a funcionar na freguesia de Válega, ocupando a antiga escola primária construída com donativos de Manoel e José Oliveira Lopes (1868-1936 e 1850-1924). Esses dois mecenas eram oriundos de uma família local de lavradores e na segunda metade do século XIX emigraram para o Brasil, onde fizeram fortuna como comerciantes de cereais.
"O museu reabriu no final de julho com uma nova aparência e já tem cativado a visita de muitos portugueses e emigrantes, sejam eles antigos estudantes da escola construída por estes dois beneméritos, sejam eles profissionais mais jovens interessados nas questões da educação e do ensino", revelou à Lusa o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro.
Raquel Elvas é a diretora do renovado equipamento e defende que essa crescente procura se deve ao facto de que ele "está totalmente diferente: até 2016 o museu estava confinado a uma sala e agora ocupa realmente todo o edifício, que passou a ter reservas visitáveis, um centro de documentação com publicações recolhidas na Oliveira Lopes e noutras escolas de Ovar entretanto encerradas, e galerias de exposições" como a mostra temporária relativa ao ex-presidente da República e pedagogo Bernardino Machado.
Para o vereador local da Cultura, Alexandre Rosas, essa nova dinâmica deve-se ao trabalho desenvolvido no museu em 2018 e 2019, quando, após a intervenção física no imóvel, também a coleção foi "reorganizada para corresponder aos requisitos de um projeto museológico formal".
Na base do projeto continua, no entanto, a memória de Manoel e José Oliveira Lopes, que, ao regressarem do Brasil para Válega em 1894, se tornaram destacados membros do Partido Republicano de Ovar e aplicaram na sua terra natal parte significativa dos seus recursos financeiros. Financiaram a construção de estradas, custearam obras de restauro e conservação em igrejas e em 1908 deram início à construção da Escola Oliveira Lopes, que abriu ao público dois anos depois - precisamente a 02 de outubro de 1910, três dias antes da proclamação da República Portuguesa.
Com uma traça imponente, espaços técnicos que à época eram "de qualidade superior à média" e recursos materiais que já então incluíam "mobiliário de mogno e ergonómico", o imóvel integrava três alas distintas, ainda hoje perfeitamente identificáveis: uma para o ensino de rapazes, outra para educação feminina e uma terceira para residência dos professores que lecionavam no estabelecimento.
O projeto de musealização do espaço começou, por sua vez, a preparar-se no final na década de 1990, graças ao que Salvador Malheiro descreve como "a iniciativa de docentes e antigos alunos da escola".
Fonte da Junta de Freguesia de Válega realça, aliás, que o projeto se deveu particularmente "à persistência do professor Joaquim de Almeida e Pinho, que foi salvando e preservando o acervo das antigas salas de aulas", protegendo assim o material com que essas foram sendo equipadas desde a inauguração do estabelecimento em 1910.
Inicialmente, o Museu Escolar Oliveira Lopes funcionava em paralelo à atividade letiva normal do edifício, mas em 2014 os alunos que aí tinham aulas foram transferidos para o novo Centro Escolar da Regedoura e o edifício original viu-se com mais espaço disponível. Em meados de 2016 seria encerrado para acolher obras de reestruturação total, no que os espaços libertados pela deslocação de turmas ficaram afetos a depósito de reservas, gabinetes técnicos, um auditório, uma cafetaria, duas galerias de exposições e um polo da Biblioteca de Ovar.
A coleção agora patente ao público inclui peças antigas como mapas e planisférios, globos terrestes da marca Forest, cartografia em relevo, amostras para o estudo das Ciências Naturais, quadros sobre a história de Portugal, caixas métricas Albino de Mattos, ábacos, máquinas de escrever, outro material de escrita e desenho, e até utensílios de cantina.
Realçando que o Museu Escolar Oliveira Lopes integra a Rede de Investigadores em História e Museologia de Infância e Educação, Salvador Malheiro conclui que o renovado equipamento se apresenta agora "mais apelativo e com melhores condições" para receber o público. "Tem sido um sucesso", garante o presidente da Câmara.