Investigação sobre escritora Fernanda Botelho tem em vista Casa-Museu

A obra da escritora Fernanda Botelho está a ser estudada para reedição, e o espólio de interesse literário está a ser inventariado, com vista à futura Casa-Museu, que a família quer abrir no Cadaval, disse a coordenadora.

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Lusa
07/03/2020 09:07 ‧ 07/03/2020 por Lusa

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"A ideia é reeditar tudo, sempre com prefácios de pessoas que trabalharam sobre Fernanda Botelho", afirmou à agência Lusa a investigadora Paula Morão, que coordena o trabalho no âmbito do projeto "Textualidades" do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).

"As obras estavam esgotadas há muitos anos, justificou, acrescentando que "é fundamental pôr de novo a obra disponível, com um enquadramento através dos prefácios que sejam de informação suficiente para quem não conhece a obra", para se ler Fernanda Botelho.

Para a investigadora, "é importante ler Fernanda Botelho", não só pela "visão crítica e ácida", ao fazer o "retrato social da época que representa desde os anos 50 do século XX, seguindo a tradição da literatura realista, do século XIX", como também pelos "processos narrativos de alto nível, que permite ver o interior das personagens".

A reedição das obras publicadas, por parte da editora Abysmo, não obedece a uma ordem cronológica, segunda a docente da Faculdade de Letras, mas a uma "ordem que, do ponto de vista crítico, entende que pode chamar leitores".

A expectativa é reeditar este ano o último livro da autora, 'Gritos da Minha Dança', e pela primeira vez uma antologia das crónicas, dispersas pela imprensa, que escreveu.

"O que vai ser inédita é a antologia das crónicas que estão dispersas pela imprensa e que, se não forem reunidas numa seleção, ficam perdidas", sustentou Paula Morão, sublinhando tratar-se de "crónicas de grande qualidade".

Desde 2017, foram reeditados 'Esta Noite Sonhei com Brueghel' (1987), 'A Gata e a Fábula' (1960) e 'Lourenço É Nome de Jogral' (1971), prefaciados respetivamente por Paula Morão, Marcelo Oliveira (FLUL) e Paulo Pereira (Faculdade de Letras da Universidade do Porto).

Sob coordenação de Paula Morão, está a ser concluído o projeto de conservação e inventariação do espólio de interesse literário que a escritora reuniu na casa de família no Cadaval, no distrito de Lisboa, onde residiu nos seus últimos anos de vida.

"O espólio é composto por documentos manuscritos ou dactiloscritos, recortes de jornais e correspondência [com outros escritores], que são materiais preparatórios para os volumes que vieram a ser editados em vida pela Fernanda Botelho, e que são respeitantes à obra literária da escritora", explicou a investigadora, acrescentando que não foram encontrados inéditos por publicar.

O projeto foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e tem em vista a futura Casa-Museu em que a família da escritora está a trabalhar.

A casa, na freguesia da Vermelha, "mostra o ambiente cultural e pessoal em que a escritora vivia", explicou à Lusa a neta Joana Botelho, e começou a estar aberta ao público e às escolas, mediante marcação.

Foi criada a Associação Gritos da Minha Dança, que tem como fim a salvaguarda, conservação e divulgação do acervo bibliográfico e documental da escritora.

Pela primeira vez, a associação elaborou um programa para este ano, com atividades nas escolas locais, visitas à casa, espetáculo de dança "Transeuntes", pela companhia Seller Danza, e um curso livre de literatura dedicada a Fernanda Botelho, em julho, na FLUL.

Em conjunto com a Câmara do Cadaval, instituiu ainda o Prémio Literário Fernanda Botelho.

Fernanda Botelho, que se estreou como poetisa, em 'Coordenadas Líricas', distinguiu-se porém como romancista, com obras como 'Xerazade e os outros' e 'Terra sem Música'. Nasceu no Porto, em 1926, e morreu em Lisboa, em 2007, tendo deixado uma obra extensa que lhe valeu vários prémios ao longo de mais de meio século de carreira.

Entre eles, destacam-se o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores com 'As Contadoras de Histórias', o Prémio Camilo Castelo Branco atribuído por 'A Gata e a Fábula', o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários por 'Esta Noite Sonhei com Brueghel', o Prémio PEN Clube Português de Ficção para 'Dramaticamente Vestida de Negro'.

Estudou Filologia Clássica nas Universidades de Coimbra e Lisboa, cidade onde se fixou. Pertenceu ao grupo de fundadores da revista Távola Redonda, que reuniu escritores como David Mourão-Ferreira, Ruy Cinatti e Alberto de Lacerda.

'O Enigma das Sete Alíneas', 'O Ângulo Raso', 'Calendário Privado', 'Festa em Casa de Flores' são alguns dos outros títulos da obra de Fernanda Botelho.

Em 1989, recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.

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