Segundo informação disponível no 'site' oficial do museu, "a nova instalação de Grada Kilomba, '18 Verses of a boat' ['18 versos de um barco', em português], é uma obra que combina madeira queimada gravada, registos áudio e tecido", e se baseia "numa poesia escrita pela artista, que funde passado, presente e futuro numa constelação que sugere o perdurar de um trauma profundo".
"A obra alude à repetição do racismo sistémico, através de uma referência aos barcos utilizados no comércio de escravos, o que traz à memória os trágicos incidentes recentes com migrantes no Mar Mediterrâneo", refere o museu.
'18 Verses of a boat', que estará em exposição no edifício Castello, "surgiu de um trabalho performativo realizado em Lisboa, no outono de 2021".
Em setembro do ano passado, Grada Kilomba apresentou em Lisboa a instalação performativa "O Barco", no âmbito da BoCA - Bienal de Arte Contemporânea.
A obra, explicou a artista na altura, foi criada como "metáfora para produzir um novo futuro", no qual a História da escravatura "seja contada de forma correta", sem apagar o sofrimento de milhões de pessoas.
Num espaço ao ar livre no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), foram dispostos, na forma da estrutura de um barco, com mais de 30 metros, 140 blocos de madeira queimada, em homenagem aos corpos desaparecidos no mar ou vítimas da escravatura, um comércio à escala global, que, lembrou Grada Kilomba, "foi liderado pelos portugueses" a partir de 1444, e ao longo de 70 anos, juntando-se depois outras nações à mesma atividade.
A ideia de criar esta peça multidisciplinar foi preparada com "uma pesquisa intensa, da História, da linguagem, que tem muita importância na criação das identidades, imagens, sons e movimentos", e, por essa razão, Grada Kilomba contactou com a comunidade da diáspora africana em Portugal, para criar uma performance em torno da cerimónia e do ritual, com produção musical de Kalaf Epalanga.
No centro do barco, também inseriu outra linguagem artística, a poesia, escrevendo frases em 18 dos blocos, que foram traduzidas do português para mais seis línguas, além do inglês e do árabe: crioulo, ioruba, quimbundo e tsuana.
A residir em Berlim, a artista portuguesa tem tratado, no seu trabalho, as questões do racismo, do trauma colonial, das vozes silenciadas e das questões de género.
A mostra "Espressioni con frazioni", que estará patente entre 24 de abril de 25 de setembro em vários espaços do Castello di Rivoli, mas também na Collezione Cerruti, na Casa del Conte Verde e na 'sede virtual' do museu, o Cosmo Digitale, inclui obras criadas entre 35.000 a.C. e 2022, nos cinco continentes.
Com curadoria de Carolyn Christov-Bakargiev, Marcella Beccaria, Marianna Vecellio e Fabio Cafagna, "Espressioni con frazioni" faz referência "ao aspeto fraturado e fracionado da vida contemporânea, num momento em que a arte é vivida num cenário de eventos extremamente diferentes, como a revolução digital, a pandemia e a guerra".
A mostra, que inclui, entre muitas outras, obras de Nikita Kadan, Ed Atkins, Richard Bell, Anna Boghiguian, Silvia Calderoni, Agnieska Kurant e Dana Schutz, "questiona as múltiplas formas de expressividade, expressão e expressionismos, que percorrem a história da arte e da sociedade".
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