"A fotografia documental e o fotojornalismo, em Portugal, ao contrário de outros países, nunca conseguiram afirmar-se e ganhar posição de relevo nas galerias e nas coleções de arte", lê-se no texto de apresentação da mostra promovida pela associação CC11 e o projeto Narrativa, de promoção e divulgação do fotojornalismo, com a Galeria Santa Maria Maior, que acolhe a exposição.
As três entidades têm por objetivo "apresentar anualmente uma exposição coletiva" e "criar um ambiente favorável para que a fotografia jornalística e documental nacional também seja vista como um objecto adquirível e coleccionável, por particulares e instituições", porque já "era tempo de [a] valorizar".
A primeira exposição reúne alguns dos melhores e mais premiados fotojornalistas portugueses, como Adriano Miranda, Alfredo Cunha, António Pedro Ferreira, Bruno Portela, Clara Azevedo, Daniel Rocha, Fernando Veludo, Luísa Ferreira, Manuel Almeida, Paulo Alexandrino, Sara Matos e Tiago Miranda, num total de 66 profissionais e 66 imagens, que documentam as muitas realidades do mundo.
O coordenador do projecto, Tiago Miranda, citado pelo texto de apresentação da mostra, recorda que "o circuito das galerias de arte e das coleções públicas e privadas" estão "há muito tempo (...] de costas voltadas para o fotojornalismo", em Portugal, por isso, esta mostra coletiva traz "uma proposta de entendimento sobre esse espaço comum" e reclama "um direito tão antigo quanto a própria invenção da fotografia."
Num depoimento que acompanha a apresentação de "Edição Limitada", a museóloga Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC), questiona-se sobre a falta de "interesse comercial e coleccionista, em relação ao registo operado pelos repórteres fotográficos" portugueses, para arriscar que, "sem resposta concreta", suspeita que "tal desinteresse se meça pela mesma bitola que resiste a considerar arte o design - por ter função".
"Vários escritores passaram do jornalismo à literatura, fazendo daquele ampla escola estilística e artística. Mas, em relação à imagem fotográfica, resiste-se à sua categorização estética, como se, por quotidiana, distasse do Olimpo artístico", escreve Emília Ferreira, contrapondo que tal "não será por falta de qualidade das obras ou dos autores".
A diretora do MNAC recorda porém que "muitos dos representados nesta exposição veem há muito as suas imagens expostas e estudadas em espaços institucionais", e que "o registo do fotojornalismo vai (...) além do banal", pois "exige assumir o 'fardo da verdade visual'".
"Mais do que respostas, ocorrem-me mais perguntas. Se não nos profissionais, cuja exigência é medida quantas vezes à custa das suas próprias vidas, para nos trazerem o conhecimento dos desvairados rostos do mundo, em quem confiaremos para registar a verdade visual?", interroga-se Emília Ferreira.
"Quem a captará e problematizará e a fará chegar a nós de modo fidedigno? Quem levantará a sua voz pelos direitos humanos, pela ética e pela urgência?", prossegue a diretora do MNAC, recordando que Francisco de Goya, o pintor do Romantismo espanhol, que registou "Os Desastres da Guerra", o fez "com o múltiplo que tinha à mão no seu tempo, a gravura".
"Nas imagens em que documentou a guerra [Goya] deixou o seu testemunho. Não as consideramos nós dignas de valor artístico? Porque resistiremos a considerar arte esta disciplina da fotografia? Não tenho resposta", conclui a museóloga e historiadora de arte.
Entre os fotojornalistas reunidos na mostra contam-se ainda, entre outros, Alexandre Almeida, Ana Baião, Ana Brígida, Céu Guarda, Daniel Rodrigues, Diana Quintela, Diana Tinoco, Enric Vives-Rubio, Horacio Villalobos, Mariline Alves, Marisa Cardoso, Marisol Gonzalez, Matilde Fieschi, Miguel Manso, Miguel Riopa, Natacha Cardoso, Nuno André Ferreira, Rui Gaudêncio e Rui Soares.
"Edição limitada" foi inaugurada em 17 de dezembro e fica patente até ao próximo dia 21, na Galeria Santa Maria Maior, na Rua da Madalena, 147, em Lisboa. Pode ser vista das 15h00 às 20h00.
Leia Também: [1-0] Fulham-Chelsea: Já se joga a segunda parte