"Fazendo justiça à memória e ao legado de Carlos Matos Gomes, e seguindo as suas instruções diretas, prosseguiremos com a edição do seu último livro, 'Otelo, o Herético', manuscrito original que nos deixou e que connosco trabalhou até ao último momento", lê-se no comunicado hoje divulgado.
Carlos Matos Gomes tinha anteriormente publicado, na Tinta-da-China, 'A Conquista das Almas. Cartazes e Panfletos da ação psicológica na guerra colonial' (2016), com o seu camarada de armas Aniceto Afonso. Mais tarde, a par do historiador Fernando Rosas, foi um dos colaboradores de '25 de Abril, quinta-feira' (2023), de Adelino Gomes, também publicado por esta editora.
No novo livro sobre Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021), que tal como Matos Gomes foi um dos militares de Abril, lê-se na introdução: "Sem Otelo aquele 25 de Abril de 1974 não teria existido. Ele foi o fermento que transformou a água e a farinha em pão. Sem Otelo teríamos farinha, água e sal, mas não teríamos pão. Otelo foi e é a figura histórica que fez de um golpe de estado uma revolução, que transformou em pão um biscoito ázimo, sem levedura, sem alma. Uma heresia que o 25 de novembro de 1975 excomungou".
O coronel Carlos Matos Gomes, um dos Capitães de Abril, morreu, aos 78 anos, no passado domingo, num hospital de Lisboa.
Matos Gomes, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz publicou vários livros sobre a temática da Guerra Colonial, entre os quais 'Nó Cego', 'A Última Viúva de África', que lhe valeu o Prémio Fernando Namora em 2018, e 'Os Lobos não Usam Coleira' (1995), que foi adaptado ao cinema por António-Pedro Vasconcelos, no filme 'Os Imortais' (2003).
No ano passado, em nome próprio, Matos Gomes publicou 'Geração D' que, em entrevista à agência Lusa, definiu como uma homenagem e uma autobiografia da sua geração, a que conheceu a ditadura, a Guerra Colonial e fez o 25 de Abril de 1974.
A parceria de Matos Gomes com Aniceto Afonso produziu cerca de 12 títulos, sete deles sobre a participação portuguesa na I Guerra Mundial (1914-1918) e, dentro da temática da Guerra Colonial, 'Guerra Colonial - Um Repórter em Angola' (2001).
Carlos Matos Gomes colaborou regularmente na imprensa e em atividades dos Centros de Histo´ria Contemporânea das universidades de Lisboa e Nova de Lisboa, e com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
O militar, escritor e investigador nasceu em 24 de julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Foi oficial do Exército, na Arma de Cavalaria, tendo cumprido comissões em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, integrado nos Comandos.
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