É já hoje a noite mais ‘dourada’ do ano no cinema, chegada a 89.ª edição dos Óscares, que vai ter lugar no Teatro Dolby, em Los Angeles, com apresentação a cargo de Jimmy Kimmel. O aguardado evento pode ser visto na SIC, que ficará encarregue da emissão em Portugal, na noite de 26 para 27.
Os nomeados nas 24 categorias foram divulgados no dia 24 de janeiro e, logo na casa de partida, o destaque foi para uma só longa-metragem. O musical 'La La Land', realizado por Damien Chazelle, somou 14 nomeações, igualando o mesmo número de nomeações que teve ‘Titanic’ e ‘Eva’ no ano em que estrearam.
A terceira obra de Damien Chazelle arrebatou, no ano passado, o público do Festival de Cinema de Veneza com um fulgor que acabou por funcionar de forma inversa. O burburinho tornou-se em fenómeno e o fenómeno tornou-se um pouco negativo. Ainda assim, ‘La La Land’ arrecadou sete Globos de Ouro e cinco prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão (BAFTA). Aqui estava nomeado para 11 categorias.
E há as guildas. 'La La Land' ganhou o prémio de Melhor Filme do Sindicato dos Produtores (PGA Awards) e do Sindicato dos Realizadores (DGA Awards), ficando a faltar apenas o importantíssimo prémio de desempenho excecional de elenco do Sindicato dos Atores (SAG Awards) para fazer o pleno. Acontece que este, um dos grandes indicadores para Melhor Filme dos Óscares, foi entregue a 'Hidden Figures'. Ainda assim, o musical de inspiração tradicional foi o favorito dos produtores e dos realizadores, o que é de ter em conta.
Com um número recordista de 14 nomeações para os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, há quem já tenha determinado que será ‘La La Land’ o grande vencedor da noite. Mas, quem sabe?
E quando chuva de nomeações é mau agouro?
Já não seria a primeira vez que um filme é banhado em nomeações e depois sai do Dolby Theater de mãos a abanar. Veja-se ‘The Color Purple’ (1985), de Steven Spielberg, que conseguiu 11 nomeações e não ganhou um único Óscar. Um pouco mais para a frente, ‘Gangs of New York’ (2002), de Martin Scorsese, conseguiu 10 nomeações e ganhou zero estatuetas. Em 2014 ‘American Hustle’, de David O. Russell, foi agraciado com 10 nomeações, assim como ‘Gravity’, de Alfonso Cuarón, mas enquanto Cuarón viu a sua obra ganhar sete Óscares, Russell não viu nada.
‘And that’s how the cookie crumbles’ nestas lides de eventos de prémios, umas vezes o favorito confirma-se, outras não. Uma vezes ganha o merecedor, outras ganha a agenda. Mas há mais concorrentes na calha, oito, precisamente: ‘Moonlight’, de Barry Jenkins, ‘Manchester by the Sea’, de Kenneth Lonergan, ‘Arrival’, de Denis Villeneuve, ‘Lion’, de Garth Davis, ‘Hell or High Water’, de David Mackenzie, ‘Hidden Figures’, de Theodore Melfi, ‘Hacksaw Ridge’, de Mel Gibson e ‘Fences’, de Denzel Washington.
‘Moonlight’ e ‘Hidden Figures’ são mais regularmente apontados como os sérios concorrentes a ‘La La Land’ na categoria de Melhor Filme. ‘Moonlight’, baseado na peça ‘In Moonlight Black Boys Look Blue’, está nomeado para oito Óscares e foi o maior premiado Sindicato dos Argumentistas (WGA Awards). O filme trata o tema fraturante da homossexualidade num contexto social adverso e a Academia pode considerar importante celebrar(-se) (n)este sentimento de esclarecimento e, também, a luta transversalmente reconhecida que é a aceitação da própria identidade e a (por vezes) ingrata procura por um lugar no mundo.
Por outro lado, tanto ‘Moonlight’ como ‘Hidden Figures’ marcam um ruptura com a polémica que marcou eventos anteriores, conhecida como #OscarsSoWhite. O movimento ‘Black Lives Matter’ continua uma ferida aberta que os vários quadrantes da sociedade já não podem ignorar. Nem as artes.
Denzel Washington a caminho do terceiro Óscar?
Nas categorias dos principais protagonistas dos filmes que saíram no ano passado, talvez seja a de Melhor Atriz, provavelmente, a mais complicada de prever. Estão nomeadas Emma Stone, por ‘La La Land’, Natalie Portman, por ‘Jackie’, Isabelle Hupert, por ‘Elle’, Ruth Negga, por ‘Loving’ e Meryl Streep, por ‘Florence Foster Jenkins’.
Isabelle Huppert ganhou o Globo de Ouro por ‘Elle’, onde interpreta uma resiliente vítima de violação. A francesa de 63 anos compete com a favorita Emma Stone, que canta, dança e representa em ‘La La Land’. Emma tem na bagagem o título de Melhor Atriz do Sindicato dos Atores (SAG Awards) e da BAFTA, tendo perdido o Globo para Isabelle. É incerto, mas a batalha será apenas entre estas duas senhoras.
Na categoria de Melhor Ator estão nomeados Casey Affleck, por ‘Manchester by the Sea’, Denzel Washington, por ‘Fences’, Ryan Gosling, por ‘La La Land’, Andrew Garfield, por ‘Hacksaw Ridge’ e Viggo Mortensen, por ‘Captain Fantastic’.
Denzel Washington, que este ano está nomeado como Melhor Ator e Melhor Realizador, com ‘Fences’, e Casey Affleck, que interpreta um homem assolado por uma situação traumática em ‘Manchester by the Sea’, são os favoritos.
Casey ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA para Melhor Ator mas Denzel levou o prémio do Sindicato do Atores (SAG Awards), que nos últimos 22 anos acompanhou o vencedor do Óscar por 18 vezes. Não é de menosprezar.
O ator de 62 anos pode muito bem conseguir o seu terceiro Óscar - 'Glory' (1989), como Melhor Ator Secundário, e 'Training Day' (2001) - com uma portentosa e encorpada interpretação de um jogador de basebol falhado que mantém uma inglória batalha interna com as expetativas de vida, onde paira o fantasma da discriminação.
Trump diz que não vai ver os Óscares. Mas vai lá 'estar'
As principais categorias, ao contrário do que tem acontecido em anos anterior, espelham diversidade, algo que se torna particularmente importante tendo em conta o atual enquadramento político norte-americano.
É esperada alguma pintura política nesta 89ª edição dos prémios da Academia, conforme tem acontecido noutros eventos similares - recorde-se o crispado discurso de Meryl Streep nos Globos de Ouro.
Recorde-se ainda que realizador iraniano do filme 'The Salesman', Asghar Farhadi, cuja longa-metragem está nomeada para Melhor Filme de Língua Não-Inglesa, não vai comparecer à cerimónia em protesto contra as medidas anti-imigração do presidente dos Estados Unidos.
Entretanto, o jornal norte-americano New York Times divulgou que fez o seu primeiro anúncio televisivo. Será sobre Trump, transmitido durante os Óscares e vincará sobre "verdades difíceis".
Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, já afirmou que o presidente dos Estados Unidos não deverá assistir à cerimónia. O que não quer dizer que esteja completamente ausente. É esperar para ver - e manter o Twitter ligado.
Pode ver a restante lista de nomeados para esta noite aqui.