André Teixeira viveu em 2018/19 uma temporada de grandes emoções. O defesa português de 25 anos ajudou o AEL Limassol a conquistar a Taça do Chipre, algo que não acontecia há 30 anos, e diz-se realizado fora de Portugal, não deixando de admitir que precisou de arriscar no verão de 2017, altura em que aceitou o convite feito pelo treinador Bruno Baltazar.
Em entrevista ao Desporto ao Minuto, André Teixeira fala abertamente do futuro e deixa a garantia que pretende continuar a viver no Chipre.
O futebolista português refere ainda que será improvável regressar ao futebol português num futuro próximo e explica o porquê de tantos portugueses terem de se mudar para o estrangeiro.
André Teixeira aborda ainda a importância de poder contar com o amigo e compatriota Leandro Silva no plantel do AEL Limassol e enumera os treinadores que o marcaram ao longo da carreira.
Foi fantástico a festa que as pessoas fizeram na cidade. Fiquei sem palavras
Que balanço faz desta temporada que acabou com a conquista da Taça do Chipre?
Esta época foi muito melhor do que a primeira [no Chipre]. Joguei praticamente os jogos todos. Tanto a nível individual como coletivo, as coisas correram muito bem. A nível coletivo foi muito bom. Conseguimos entrar na pré-eliminatória da Liga Europa e ganhámos a Taça, que eram os objetivos ao início da nossa época.
E qual a sensação de ganhar a Taça?
Foi uma sensação fantástica e espetacular. Foi um momento único viver aquela festa, tanto para os jogadores como para os adeptos, porque o clube já não ganhava a Taça há 30 anos. Era algo que o clube e que os adeptos queriam muito. Foi fantástica a festa que as pessoas fizeram na cidade. Fiquei sem palavras.
Como é a relação entre jogadores e adeptos?
A relação é boa… Este ano os adeptos não foram tanto aos jogos porque há um problema com os cartões. A maior parte dos adeptos não aderiu e está contra isso, acabando os estádios por estarem mais vazios. O clube tem bastantes adeptos, como se viu na festa da cidade, mas no estádio isso, infelizmente, não acontece. Ainda assim, na rua os adeptos reconhecem-me e abordaram-me. É uma relação boa. Sinto-me bastante acarinhado.
André Teixeira e a esposa após a conquista da Taça do Chipre.© DR
O Chipre é um bom país para viver?
Tem sido um país muito bom para mim. Só tenho boas coisas a dizer do Chipre. O clima é muito bom. Está sempre muito calor e raramente chove. No inverno faz algum frio, mas não se compara a Portugal. É um país bastante seguro. Às vezes, na época de maior calor, até deixo o ar condicionado do carro ligado e ninguém rouba o carro (risos). À noite pode andar-se tranquilamente pelas ruas. Gosto muito de viver no Chipre. É seguro e a adaptação foi fácil.
E em relação à língua?
A língua… A língua não sei nada (risos). Sei poucas palavras de ouvi-los a falar, mas manter uma conversa com alguém em grego não consigo. É muito difícil. No entanto, estou a pensar em tentar aprender e quem sabe daqui a algum tempo já consigo falar (risos). Para já, só sei algumas palavras, mas é realmente difícil.
A comunicação é feita em inglês?
Sim, toda a gente fala a língua inglesa. Os jogadores, os treinadores, as pessoas. Com o inglês conseguimos comunicar com toda a gente.
Tem um compatriota e um amigo no plantel, o Leandro Silva. O quão importante é ter alguém do mesmo país na mesma equipa quando um jogador está a jogar no estrangeiro?
É muito bom. Eu e a minha mulher somos os padrinhos do filho dele que nasceu há pouco tempo. Estamos sempre juntos. Passamos a maior parte do tempo juntos. É uma ajuda muito grande e ajudamo-nos uns aos outros. Como estamos longe das nossas famílias e dos nossos amigos, é bom ter alguém com quem conversar. Eu tenho os meus companheiros de equipa, mas a minha mulher não tem ninguém e assim conta com alguém com quem pode conversar e com quem passear. Ou seja, ter uma amiga com quem falar. É sempre uma mais-valia. Fazemos imensas coisas juntos como, por exemplo, explorar a ilha.
Os cipriotas têm curiosidade em relação a Portugal?
Sim, claro. Às vezes perguntam como é o nosso país, a gastronomia, o clima. Eles demonstram algum interesse, sim.
Voltando aqui um bocadinho atrás. Como se deu este convite para ingressar no Chipre há dois anos?
Estava no Leixões e recebi a proposta por parte do treinador do clube, que era o Bruno Baltazar. Contactou-me e perguntou-me como estava a minha situação. Disse-me que tinha bastante interesse em que fosse para lá. Falei com a minha mulher e decidimos partir. Ir para o estrangeiro era um sonho que eu tinha e sentia naquele momento que tinha de arriscar. Surgiu a oportunidade e nem pensei muito. Era um sonho sair de Portugal e viver uma aventura fora do nosso país. Acho que tomei a decisão certa.
André Teixeira em ação pelo AEL Limassol. © DR
Nunca surgiu algum arrependimento durante estes últimos dois anos?
Não, nunca me arrependo das minhas decisões. Até ao momento, sinto que foi a decisão mais acertada no momento. Sentia que precisava de arriscar e dar o salto para um nível diferente. Acho que está a correr bem…
O futuro passa então pelo AEL Limassol?
Sim. Renovei contrato com o clube para os próximos três anos e o objetivo é ficar aqui, mas nunca se sabe o dia de amanhã. No futebol as coisas mudam rapidamente e têm de se pensar dia a dia e ver como correm as coisas.
Não pondera um regresso a Portugal?
Não sei... Neste momento estou bem no Chipre. Tinha de ser uma proposta muito boa e um projeto muito bom para regressar a Portugal. Sinto-me bem no AEL Limassol e esta conquista da Taça do Chipre também ajudou. Sinto-me feliz lá.
Passou pelos juniores do FC Porto antes de dar o salto para o Belenenses e depois chegar ao Leixões. De que forma estes clubes o marcaram?
Guardo um bocado de cada um. No Belenenses foi onde comecei a minha carreira como profissional. Era um balneário fantástico e tinha um treinador muito bom, o Van der Gaag. Ele jogava na mesma posição que eu e ensinou-me muito. Trabalhávamos muito a organização defensiva. Não jogando muito, sinto que aprendi muito. Depois passei um período de alguns empréstimos: Mafra, Trofense, Leixões. Foram anos bons e em que ganhei mais experiência por jogar na II Liga. Depois acabei por regressar ao Leixões antes de ir para o Chipre. Foi um ano muito bom, fiz quase todos os jogos e era um dos capitães de equipa. Foi um clube que me marcou muito. Só quem passa no Leixões aprende a gostar do clube que tem uma massa adepta fantástica. Tenho um carinho especial por todos os clubes onde passei.
Já falou de Bruno Baltazar e de Van der Gaag. Pergunto-lhe que mais treinadores o marcaram?
É difícil escolher apenas um… Aprendi com todos. Todos, da melhor ou da pior forma, deixam-nos sempre alguma marca. Gostei muito do Van der Gaag, gostei também do Lito… O Filipe Coelho que me levou para o Leixões de novo e que agora é adjunto do Paulo Bento na seleção da Coreia. É um treinador com bastante potencial. Espero não estar a esquecer-me de nenhum (risos). E, claro, o Dusan Kerkez que é o meu treinador no AEL Limassol e que me deu esta oportunidade de jogar mais esta temporada.
Este ano foi particularmente feliz para os jogadores portugueses que jogam no estrangeiro. É a prova de que os portugueses estão preparados para qualquer desafio?
Acredito que sim. Vemos isso nas seleções jovens. Ganharam os campeonatos da Europa sub-17 e sub-19 e o FC Porto que foi campeão na Youth League. Há muito potencial em Portugal, mas às vezes não se aposta tanto nos jogadores portugueses. As equipas preferem ter resultados no imediato e não querem ter tempo para apostar no jogador da casa e dar uma oportunidade para ver o que pode sair dali. Depois esses jogadores têm de emigrar e acabam por continuar a fazer carreira fora do país. Ou seja, há potencial, mas quando há transição para o futebol sénior não existem oportunidades para se mostrarem.
André Teixeira num duelo entre Leixões e Benfica B. © Global Imagens
Acompanhou o futebol português durante esta última época? O que achou do campeonato?
Acho que foi um campeonato disputado até ao fim. O FC Porto perdeu por culpa própria porque tinha uma vantagem muito grande. O Benfica trocou de treinador e recuperou muito bem. Desde que o Bruno Lage entrou, o Benfica fez um excelente campeonato. Ainda assim, acho que foi mais demérito do FC Porto, sem tirar o mérito ao Benfica que trabalhou muito na recuperação. O Moreirense foi uma boa surpresa e jogou bom futebol. O Vitória SC também esteve bem. O Santa Clara também surpreendeu a jogar bom futebol e com uma boa classificação.
Acho que em Portugal há uma diferença grande entre os três grandes, mais o Sporting de Braga, e as restantes equipas. Mas não deixa de ser um campeonato bastante competitivo e é um muito bom de acompanhar.
Que desejos tem para a próxima época?
Tentar fazer melhor do que este ano a nível individual. A nível coletivo é chegar à fase de grupos da Liga Europa, o que não é fácil. Temos três eliminatórias pela frente, mas seria bonito conseguirmos um lugar na fase de grupos. Gostava muito de ajudar o AEL Limassol a conseguir isso.