"Sem oportunidades na equipa A, não fazia sentido continuar no FC Porto"
Luís Mata era o capitão da equipa B dos dragões mas aceitou o desafio do Pogoń Szczecin e mudou-se para a Polónia. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o lateral de 23 anos garante manter o sonho de jogar pela equipa principal do FC Porto e explica os motivos pelos quais aceitou terminar a ligação de 14 anos com o clube do coração.
© Reprodução Twitter Pogoń Szczecin
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Ao fim de 14 anos, Luís Mata colocou um ponto final na ligação contratual que mantinha com o clube do coração, o FC Porto. O lateral de 23 anos era o capitão da equipa B dos dragões e o jogador mais utilizado por Rui Barros, mas recebeu um convite oriundo da Polónia e decidiu juntar-se ao Pogoń Szczecin.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Luís Mata explica os motivos pelos quais decidiu sair do FC Porto, ao mesmo tempo que garante que mantém vivo o sonho de um dia poder jogar ao serviço da equipa principal.
Numa conversa em que foram abordados vários temas, o jogador de 23 anos atribuiu mérito a Sérgio Conceição pelo título de campeão nacional conquistado esta época e deixou muitos elogios aos antigos companheiros Fábio Vieira e Vitinha.
O meu ciclo no FC Porto já se tinha esgotado
O que o levou a deixar o FC Porto ao fim de tantos anos e aceitar o convite do Pogon?
Antes de mais, a minha ligação ao FC Porto já tinha 14 anos, mas achei, em conjunto com o meu representante, que já não fazia sentido continuar. O meu ciclo no FC Porto já se tinha esgotado. Fiz recentemente 23 anos e estava na altura de ter um novo desafio. Era a altura ideal para sair, sendo que o meu sonho era jogar pela equipa principal do FC Porto. Não consegui realizar esse sonho e é altura de seguir em frente. Depois analisei as propostas que tinha. Por um lado, podia ficar em Portugal na I Liga, mas poderia ter algum risco, e apareceu esta proposta do Pogón. As condições são boas numa I Liga polaca. Acho que pode ser uma rampa de lançamento para a minha carreira.
Então saiu por acreditar que não tinha abertas as portas da equipa A do FC Porto?
Eu estava no FC Porto desde os meus nove anos, era uma criança. Estive emprestado ao Cartagena e ao Portimonense, mas sou portista e o meu objetivo foi sempre chegar à equipa principal do FC Porto. Tive que analisar a minha carreira, apesar de ter disputado os jogos todos da equipa B e de ser o capitão. Como não tive oportunidades na equipa A, e mesmo tendo mais um ano de contrato, achei que o caminho não era aqui. Não é um passo atrás. É um passo firme para outros palcos. Estou preparado para isto.
Mas mantém vivo o sonho de um dia jogar na equipa principal?
Sim, isso nem está em questão (risos). Se um dia houver essa vontade do FC Porto e eu trabalhar para isso, não há como rejeitar. Para além dos anos de ligação, sou portista desde nascença e e esse continua a ser um dos meus maiores sonhos.
O que espera alcançar no futebol polaco?
Quero afirmar-me e tentar adaptar-me o mais rápido possível. Vou para uma cultura diferente, mas quero fazer bons jogos, golos e assistências. Sei que nos primeiros meses vai ser uma adaptação complicada, mas também tenho um jogador português que me vai ajudar. Sinto-me preparado. Já estive em Espanha e gostei muito. O que custa são os primeiros meses, não em campo, mas no país. Em campo é sempre mais fácil.
Com que impressões ficou daqueles dois dias em que esteve na Polónia a fazer os testes médicos e para assinar contrato?
Passei a maioria do tempo em exames médicos e no hotel, mas também tive oportunidade de dar alguns passeios pela cidade. Não conhecia nada da Polónia. Estetino não é uma cidade como Lisboa ou Porto, mas é uma cidade com todas as condições. Fui muito bem tratado e o primeiro feedback é positivo. Claro que não é como o Porto, que é a minha cidade, mas gostei muito daquilo que vi naqueles dois dias.
Passou por algum tipo de burocracia na Polónia por causa da pandemia da Covid-19?
Vou relatar exatamente o que aconteceu. O meu representante marcou as viagens com o clube e quando cheguei ao aeroporto nem tive de medir a temperatura. Tinha só de usar a máscara e na chegada à Polónia também não houve nenhum procedimento diferente. Quando regressei ao Porto tive que preencher um papel com os meus dados para o caso de alguém estar infetado naquele voo poderem avisar as pessoas. Não fiz nada assim de diferente.
Que cuidados viu na Polónia?
Pelo que percebi, eles metem 25% dos adeptos nos estádios. Ou seja, já estão numa situação mais avançada do que a nossa. O número de casos está mais estável. Na rua não notei nenhuns cuidados especiais, mas nos sítios fechados o uso de máscara é obrigatório. Acho que conseguiram estancar melhor no início esta pandemia. Eles acabaram a época na semana passada e já tinham os estádios com 25% da capacidade.
A pandemia também foi a responsável pelo fim antecipado da II Liga. Como encarou a decisão da Liga em terminar a época mais cedo apenas no segundo escalão?
Se analisar de um ponto de vista pessoal, posso dizer que não gostei da decisão. Depois do que vi nestes meses de retoma da I Liga, acho que era possível fazer o mesmo na II Liga com os mesmos cuidados. Mas, por outro lado, entendo que a I Liga gera mais dinheiro e é o escalão que mais importa à maioria das pessoas. Ainda por cima tem os três grandes e a luta pela Liga dos Campeões. Mas fiquei triste, claro. Acho que com um esforço maior a II Liga também poderia ser retomada em total segurança para todos. Temos de, acima de tudo, respeitar as decisões tomadas.
O Benfica nunca conseguiu apanhar o comboio do FC Porto
Considera que o FC Porto foi um justo campeão?
Acho que o FC Porto voltou muito bem depois da pandemia, apesar de não ter somado resultados positivos em Famalicão e na Vila das Aves. Mas era o retomar da competição, tiveram de fazer uma nova pré-época. Por outro lado, o Benfica nunca conseguiu apanhar o comboio do FC Porto. O Benfica não conseguiu encontrar o futebol praticado na primeira volta, que foi excelente. O FC Porto em termos físicos e mentais foi, sem dúvida, um justo vencedor. Além disso, o FC Porto tem conseguido jogar bom futebol nestes últimos jogos. O Benfica nunca se conseguiu encontrar. O FC Porto é um justo campeão.
A época ter sido interrompida explica o baixo rendimento de muitas equipas?
Foi uma experiência diferente para todos. É completamente diferente uma equipa jogar em casa com 40 mil adeptos, como no Dragão ou na Luz, ou com o estádio vazio. Parece que estás num treino e não sentes aquela pressão dos adeptos. Os adeptos fazem parte do futebol. Acho que a ausência deles acabou por tornar as coisas mais equilibradas e o fator casa não teve tanto efeito. Houve equipas que se adaptaram melhor e outras pior.
O FC Porto conseguiu estar à frente da concorrência em termos físicos e a aguentar esta reta final.
Qual foi o papel de Sérgio Conceição neste título?
O FC Porto rodou vários jogadores e eu tive colegas meus, como o Fábio Vieira que ainda nem se tinha estreado, a jogar para além da equipa base. Isso foi importante. Neste mês e meio fizeram estes jogos todos e o FC Porto teve esta frescura. Claro que se não corresse tão bem, iam questionar o porquê de ter apostado no jogador x ou y. Mas temos que analisar o que aconteceu. O Sérgio Conceição teve mérito nisto. E depois a parte física. As pré-épocas dele são a prova disso, ele puxa pelos jogadores ao máximo. Na quarentena, eu sei que o FC Porto teve muito cuidado e os jogadores cumpriram ao máximo. O FC Porto conseguiu estar à frente da concorrência em termos físicos e a aguentar esta reta final. Aliás, o FC Porto nem fez período de férias na quarentena.
Com que impressão fica de Sérgio Conceição?
Ele convocou-me há dois anos para um jogo da Liga dos Campeões e tive oportunidade de treinar diversas vezes com ele durante os últimos três anos. Conheci um pouco dele. Acima de tudo, é uma pessoa com uma paixão imensa pelo clube e que puxa pelos jogadores ao máximo. O rigor que ele tem, a competência, a paixão… Falando do treino, em cada sessão ele puxa o mesmo em todos os exercícios. Pede sempre alta intensidade e isso é bom porque deixa os jogadores sempre em alerta. Nos momentos mais complicados, os jogadores conseguem dar a volta por isso mesmo. É um dos pontos fortes dele: a paixão e a exigência.
Fábio Vieira e o Vitinha são os jogadores que têm mais possibilidades de se afirmarem
Há muitos jovens da formação que aparecem esta época na equipa principal do FC Porto. Acha que alguns têm condições para se afirmarem como titulares na próxima temporada?
Estando de fora, já consigo dar uma opinião mais sincera. Eu acho que, sem dúvida nenhuma, o Fábio Vieira e o Vitinha são os jogadores que têm maiores possibilidades de se afirmarem porque têm muito talento para isso. Claro que há outros jogadores com talento, como o Romário Baró e o João Mário, mas se eu tivesse de arriscar, diria Fábio Vieira e Vitinha. Joguei com os dois e sei que não têm medo e têm muita qualidade.
Imaginando que o Otávio deixa o FC Porto na próxima janela de transferências, o Fábio Vieira ficaria com maiores possibilidade de se afirmar, por exemplo?
Isso é um bocado relativo. Nunca sabemos se o FC Porto vai contratar alguém caso o Otávio saia, mas acho que se o Fábio Vieira continuar a trabalhar como tem trabalhado acabará por conseguir afirmar-se, independentemente da concorrência. Depende apenas dele. Mas sim, claro que poderá ter mais oportunidades se o Otávio sair.
No Pogón encontra um jogador português com quem já se tinha cruzado na formação do FC Porto…
Sim, o Tomás Podstawski! Ele é dois anos mais velho do que eu. Estive em campo com ele apenas em dois ou três jogos [do FC Porto B] porque ele lesionou-se, mas conheço-o bem, é uma pessoa que me vai ajudar até porque fala polaco. Fora do futebol, pode ser muito importante na minha adaptação à Polónia.
O que é que ele lhe contou sobre o clube e os adeptos?
Claro que quando soube da proposta do Pogón, a primeira coisa que fiz foi falar com ele. Ele falou-me da paixão dos adeptos. Os estádios estão sempre cheios. Na Polónia estão sempre 10/15 mil adeptos nos jogos, em condições normais. Depois, claro, falou-me das condições do clube e garantiu-me que era um clube estável. Isso é muito importante. Quando vais para fora, tens de ter a certeza que vais para um clube que é estável e que tem os ordenados em dia. Ou seja, para te preocupares apenas com o futebol. Esse conforto é muito bom. As condições do clube são boas, tal como ele me tinha dito. Tudo o que ele me disse foi ao encontro do que eu vi quando lá estive.
Já se arrisca no polaco?
No meu vídeo de apresentação apareço a falar polaco, mas só depois é que me disseram o que aquilo queria dizer (risos). É uma língua muito complicada. O inglês é a língua que se fala no clube. O Tomás disse-me que para falar minimamente polaco é preciso dois/três anos a dar no duro. O Tomás sabe falar porque o pai dele é polaco, daí o apelido. Acho que no primeiro ano vou ficar-me pelo inglês, mas claro que quero aprender rapidamente as palavras básicas da língua polaca.
O que deseja alcançar na carreira a longo prazo?
O passo a passo no futebol é muito importante, mas também não escondo o sonho de jogar no FC Porto e também desejo jogar a Liga dos Campeões. E, claro, representar a seleção nacional. Mas sei que para isso tenho de trabalhar. Quero fazer uma boa época e depois ir para um campeonato mais competitivo. Agora só quero fazer uma boa época no Pogón para depois ir para outros patamares.
Que mensagem quer deixar aos adeptos do Pogón?
Vou dar o máximo pelo clube e vou lutar sempre pelos meus objetivos e do Pogón. Quem sabe qualificar-nos para a Liga Europa. O que posso garantir é que vou dar tudo pelo Pogón.
Luís Mata era o capitão do FC Porto B e foi o jogador mais utilizado por Rui Barros na época que terminou mais cedo do que previsto. © Getty Images
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