Das promessas ao fatídico 8 de setembro. A mentira do Villa Athletic Club

Uma subida ao mais alto patamar do futebol, a profissionalização rápida da equipa, um projeto sustentável e amigo do ambiente. Tudo o que Fábio Lopes prometeu acabou por não ser cumprido. O plantel do clube, sediado no Alentejo, tem salários por receber, alguns jogadores estão sem condições de vida e não parece haver solução à vista. O Desporto ao Minuto foi saber mais sobre esta história.

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© Instagram Fábio Lopes

Tiago Antunes
20/10/2022 11:21 ‧ 20/10/2022 por Tiago Antunes

Desporto

Exclusivo

Nasceu a 14 de Junho deste ano e corre sério risco de fechar portas depressa. O Villa Athletic Club foi fundado sobre uma premissa: “prestigiar o futebol português”. Contudo, daquilo que se viu até agora, já falhou.

O clube concebido por Fábio Lopes, conhecido como Conguito, bateu à porta da Associação de Futebol de Portalegre para conseguir uma inscrição. O organismo, bem como a Câmara Municipal de Ponte de Sor, abriram todas as portas ao clube que, apesar de participar no futebol alentejano, tem como ‘base de operações’ a cidade de Lisboa.

O plantel, constituído por atletas com experiência no Campeonato de Portugal, foi entregue em mãos a Albert Meyong, antigo jogador de Sp. Braga e Vitória FC. O técnico foi convencido a abraçar o projeto, tal como os futebolistas Edinho e André Carvalhas, com passado nos principais escalões do futebol nacional, que se juntaram a um clube que se vendeu com um mote ambicioso: #SobeVilla. 
 
Um plano ambicioso, talvez demais 
 
Desde que começou a atividade, o Villa Athletic só teve problemas. Quem o conta, em exclusivo ao Desporto ao Minuto, é Alexandre Costa. Contratado pela direção do clube para a função de Team Manager, Alexandre entrou no projeto com grande entusiasmo, mas igualmente com um pé atrás pela magnitude de um plano que se revelou irrealista.

“O projeto do Villa Athletic chegou até mim por parte do Pedro Campos Ribeiro, que é o diretor desportivo. Ele foi contratado pelo Fábio e ficou responsável por fazer a equipa dele para o departamento desportivo, e foi nesse sentido que ele falou comigo, para ficar responsável pela parte mais técnica e de team management do clube. Foi nessa altura que me foi apresentado um plano estratégico brutal, um plano que, no papel, muitos clubes de I e II Ligas não adotariam em grande parte”, começou por dizer.  

O plano, que o deixou de boca aberta, à primeira vista, era bastante ambicioso e aliciante para quem abraçou o projeto.

“A nível desportivo, o grande objetivo era profissionalizar o clube, logo da estaca zero, independentemente da divisão que estaríamos a disputar. O plano era termos um plantel que pudesse simbolizar um Campeonato Nacional de Seniores ano zero. Queríamos fazer um plantel bastante competitivo, que pudesse transitar para a outra divisão, evitando construir a equipa de início. Teríamos já uma forte base. A equipa técnica vai também nesse registo. O objetivo do Fábio era ter uma pessoa que, não só tivesse a capacidade de orientar uma equipa de futebol, como tivesse a imagem para trabalhar num plano mais estratégico e comunicacional. Daí ter-se optado pelo Meyong como treinador principal da equipa”, acrescentou.

O mercado do Villa Athletic é o futebol, mas o plano que Alexandre folheou tinha vários pontos de incidências, todos virados para uma gestão de uma start-up e não de um clube de futebol tradicional.

“Este plano que nos foi apresentado tinha as vertentes comunicacional, de marketing e de responsabilidade social. No fundo, a grande aposta deste projeto era, sem dúvida, a parte da comunicação, do digital, e, tendo em conta as pessoas que estavam nele, nunca duvidámos que, no momento em que fosse apresentado à comunicação social e nas redes sociais, teria um ‘boom’ enorme. Tendo em conta essas pessoas, com influência no digital, na rádio, na televisão, foi-nos vendida a ideia de que, no momento em que o Villa fosse apresentado, 100 pessoas, consideradas sócios-embaixadores do clube, para além de contribuírem financeiramente para o clube, iriam promovê-lo nas suas redes sociais. Estamos a falar de pessoas como o RicFazeres, como o Daizer, que são youtubers bastante conhecidos, entre outros influencers. A verdade é que, quando o clube foi anunciado, nada disso aconteceu. Viu-se uma partilha ou outra de uma pessoa relativamente conhecida, mas nada disto chegou a concretizar-se", disse.

A produção de um documentário sobre a fundação do clube também foi apresentada a Alexandre Costa e aos restantes membros do departamento de futebol.

“No plano comunicacional, tinham várias ideias, como os jogadores mais influentes terem um episódio no documentário do clube onde pudessem falar da sua vida, da sua carreira, das dificuldades que passaram longo da vida. No fundo, com uma grande produção audiovisual, e que também nunca chegou a concretizar-se. Estava ainda previsto um documentário sobre o clube chamado ‘How to make a football club’ [Como criar um clube de futebol, em português]. Disseram que o documentário já estava a ser negociado com a NOS e que seria exibido no final de 2023 ou 2024 em duas salas de cinema em Lisboa e no Porto. O clube ia ser diariamente acompanhado por câmaras, com filmagens que acompanhassem o dia-a-dia do clube, o que só se viu nos primeiros dois dias de vida do clube. De resto, nunca mais se concretizou”, contou ainda.

A divulgação do Villa Athletic estava bem estudada e o público-alvo bem definido no plano estratégico. Contudo, as campanhas agendadas nunca saíram do papel.

“Estava previsto, a nível da cobertura nacional, a ideia de usar a comunicação social como meio de credibilização do projeto. Iríamos ter uma parceria com um jornal, uma rádio e uma estação de televisão, coisa que nunca aconteceu. Estavam planeados vários eventos de ativação da marca do Villa em várias cidades durante o verão, em locais onde o público-alvo do clube estivesse, como praias. Dessa forma, desenvolvia-se e partilhava-se a imagem do Villa, algo que também nunca aconteceu”, contou.

O facto de ser sustentável e amigo do ambiente fez do Villa Athletic um clube ainda mais acarinhado pela comunidade digital. Contudo, os planos, pelo que Alexandre concluiu, nunca passaram de meras ideias.

“Um dos grandes pilares do projeto, além do plano desportivo, era o plano comunicacional, que estava definido e que nunca se concretizou. Claro que havia ainda pontos da responsabilidade social, como a apresentação de uma carta às Nações Unidas a garantir que o clube seria ‘net-zero’ [sem emissões de líquidas de gases de efeito de estufa], não iria utilizar adubos nos relvados naturais onde o clube treinava e jogava. Ainda havia o plano para a construção do Villa Park, que seria uma espécie de uma Cidade do Futebol no Alentejo. A primeira pedra seria lançada em 2023 e disseram-nos que já estava apalavrado com uma consultora de projetos, a Concept Fusion, garantindo que o Villa Park iria arrancar. Assim, a vida do clube passaria de vez para o Alentejo, a médio prazo, e a questão da descentralização não seria uma ‘balela’. Percebeu-se que era mentira e duvido que houvesse alguma conversa com qualquer consultora seja para que fosse”, acredita.

Alexandre Costa, depois de rever toda a história, colocou alguns pontos de interrogação no plano que, admite, deixou uma boa impressão inicial.

“O plano estava muito bem delineado e era bastante ambicioso. Se era fazível, surgiram várias dúvidas. Mas o Fábio sempre nos garantiu que tinha acordos fechados com marcas, algumas já contratualizadas, e que seria possível iniciar a época já com uma boa almofada financeira que nos pudesse garantir o início da temporada e os meses seguintes. Foi por aí que acreditámos no projeto. Já nos finais de 2021, eu e o Pedro Campos Ribeiro deslocávamo-nos várias vezes a Lisboa para reunir com o Fábio, limar arestas, definir coisas do plano desportivo que não eram tanto do conhecimento dele. Sem dúvida que fomos desenvolvendo uma relação de confiança e o Fábio garantiu que tinha condições para arrancar. Não duvidámos que era possível colocar este projeto na prática”, disse, falando ainda o ponto que maiores dúvidas suscitou.  

“A questão da descentralização do futebol é que me deixava com um pé atrás, já que o clube tinha a vida quase toda em Lisboa. Mas, tendo em conta que o Villa Park estava bem definido no projeto para transferir o clube no todo para o Alentejo, deixou-me mais tranquilo quanto a essa questão”, afirmou. 


 
Alentejo: descentralização do futebol ou facilitismo competitivo? 
 
Sobre a premissa de tirar o futebol das grandes cidades do país e devolvê-lo, na sua essência, ao interior do país, Fábio Lopes levou o Villa Athletic até ao Alentejo. Alexandre Costa conta que a descentralização da modalidade foi sempre o foco, mas assumiu que a fraqueza competitiva do Campeonato Distrital de Portalegre acabou por ser aproveitada pelo clube.

“Quando o projeto foi apresentado, já estava definido que o clube seria inscrito na divisão de Portalegre e que seria sediado em Ponte de Sor. No que diz respeito às motivações, sem dúvida que a questão da descentralização pode ser romântica, mas, tendo em conta o projeto, acreditei que era possível pôr em prática. Eu, sendo do Norte, sinto mais a questão da descentralização do futebol, mas estaria a mentir se dissesse que o facto de a AF Portalegre ter apenas uma divisão de futebol e o seu nível competitivo ser bastante fraco não chamou a atenção. Ao mesmo tempo, sei que as pessoas não podiam apontar o dedo, porque o plano tinha a visão de criar desenvolvimento desportivo, de infraestruturas no Alentejo", disse.  
 
Um balão de problemas prestes a estoirar 
 
Tempos depois de ter aceite o convite para trabalhar no Villa Athletic, Alexandre Costa bateu com a porta. Hoje, de cabeça arrefecida, conta os episódios que, à data, lhe tiraram dinheiro do bolso e até a saúde mental.

“No fundo, foi um acumular de situações. Saí do projeto há cerca de três semanas, mas foram vários os momentos em que comecei a desconfiar do que se estava a passar. Cheguei a um ponto em que se tornou insustentável para mim, tanto financeiramente, porque gastei muito do meu dinheiro em coisas necessárias para a vida do clube e nunca recebi sequer um cêntimo do valor que estava acordado para mim, e também nível psicológico. Mudei a minha vida para Lisboa em prol disto e cheguei a um ponto em que achei que tinha atingido o meu limite”, começou por contar, elencando vários episódios que viveu dentro do clube.  

“Inicialmente, iriamos treinar na Cidade Universitária de Lisboa, onde há vários campos de sintético e um de relvado natural. Depois, chegou-se à conclusão que seria bastante caro e o Fábio dizia que não havia grande abertura [da Universidade de Lisboa] tendo em conta o nosso horário. Arranjámos outra solução e fomos para as instalações desportivas do Grupo Desportivo Samora Correia. Quando estávamos a cerca de uma ou duas semanas do início da pré-época, o Fábio disse que estava em conversações com marcas, além das já tratadas, para aumentar aquela almofada financeira. Disse-nos, ainda, que estávamos em negociações com a Digital Decor que, por exemplo, preparou o estágio da AS Roma cá em Portugal. Foi dito pelo Fábio que o complexo desportivo do GD Samora Correia iria ser decorado por essa empresa com várias placas, autocolantes, tarjas alusivas ao Villa, no fundo, para nós sentirmos, ao entrar ali, que aquilo era o nosso espaço, a nossa casa. A verdade é que se chegou ao primeiro treino e nada disso aconteceu nem nunca mais ouvi falar de qualquer negociação com a empresa ou de qualquer trabalho deles para o clube”, contou.  

“Depois, tínhamos atletas que precisavam de transporte e tínhamos definido dois pontos de transporte para o início dos treinos. Íamos ter uma carrinha no Parque da Nações e outra no Montijo, carrinhas essas que, mais de uma semana antes do início dos treinos, o Fábio disse que estavam garantidas, incluindo motoristas. No primeiro dia de treino, eu já estava instalado na zona de Samora Correia, a viver lá, desloco-me às instalações desportivas mais cedo para preparar o que fosse preciso e vejo que quem trouxe os jogadores dos dois pontos combinados para transporte foram o João Rosa [vice-presidente do clube], e o pai do Fábio, ambos nos carros particulares dos próprios. Ou seja, não havia qualquer tipo de transporte ou motorista garantidos pelo clube e, desde esse momento, os transportes foram sempre garantidos por estas duas pessoas. Por vezes, quando não era possível um deles oferecer transporte, houve jogadores de carro próprio a irem até ao complexo com a garantia de que as despesas seriam pagas”, revelou ainda.

No primeiro dia da pré-época, com os tradicionais exames médicos, Alexandre voltou a surpreender-se... pela negativa.

“Os exames médicos foram pagos pelo Pedro Campos Ribeiro, que nunca mais viu o seu dinheiro de volta. Estamos a falar de uma quantia bastante significativa. Foi o Fábio quem pediu ao Pedro para adiantar esse valor e, prontamente, iria fazer a transferência desse valor, algo que nunca aconteceu. Ainda nesse dia, não tínhamos material desportivo para treinar. Não havia cones, não havia bolas, não havia coletes, material de preparação física, e isto foi tudo pedido várias vezes com três semanas de antecedência ao Fábio. Ele dizia que estava em negociações com a Decathlon para garantir todo este material. Se não fosse o GD Samora Correia a emprestar o material, não teríamos treinado. As únicas coisas que o clube tinha eram os equipamentos e as meias. Até se torna um bocado irrisório, mas, por causa da presença das câmaras e das sessões fotográficas nos primeiros treinos, eu próprio tive de dizer aos jogadores para usarem os coletes do avesso, porque tinham escrito o nome do GD Samora Correia”, contou.

Alexandre ficou desconfiado, mas manteve-se no projeto pelo bom ambiente que se vivia no plantel, antagonicamente ao vivido nos bastidores.

"Estes pequenos indícios, logo desde o início da nossa pré-época, fizeram-nos desconfiar um pouco, mas seguimos o nosso trabalho com naturalidade, até porque os pequenos-almoços com os jogadores iam correndo bem, eles gostam sempre destas coisas, sentem-se confortáveis em momentos destes. À vista dos jogadores, não havia grandes problemas. A verdade é que, com o passar do tempo, eu, o Pedro e outro membro que também pertencia ao departamento desportivo tivemos gastos que não era suposto termos tido, seja para garantir os alimentos no pequeno-almoço, seja para uma coisa simples como o gelo para os banhos de gelo no final da semana de treino. Começou a ser recorrente, quase parecia que o Fábio ignorava que essas coisas eram necessárias porque sabia que nós íamos garantir essas coisas. Não queríamos, de todo, que os jogadores soubessem que algo se passava de mal e que o clube nem sequer conseguia garantir um banho de gelo. Fui sempre colocando o contribuinte do clube e fui guardando as faturas, e o clube disse que só dava o dinheiro de volta com a apresentação dessas faturas. Foi tudo entregue e o dinheiro não foi devolvido”, disse.  

A situação contratual de todos os membros do clube nunca ficou resolvida. Alexandre conta que nem sequer os jogadores tinham assinado contratos de prestação de serviços com o Villa Athletic.

“Foi prometido, a mim e ao Pedro, que iríamos ter contrato de trabalho, que nunca foram apresentados, sempre com a desculpa de que os advogados estavam atrasados na redação da minuta. Talvez tivessem a noção de que, a partir do momento em que nos apresentassem um contrato e assinássemos, o clube, juridicamente, estava obrigado a pagar os valores até ao termo do mesmo”, revelou ainda.  

A gota de água

Alexandre garantiu que o plantel, a equipa técnica de Meyong e o departamento de futebol nunca faltaram aos seus compromissos, e que, mesmo com a situação vivida dentro do clube, continuaram dedicados à causa. Até que, um dia, caiu a gota de água que fez o copo transbordar.

"O grande problema, e grande razão do afastamento e das quezílias entre o departamento de futebol e a direção, deu-se quando chegou o dia 8 de setembro, o dia do pagamento aos atletas, à equipa técnica, ao staff e ao departamento desportivo. É-nos dito pelo Fábio que no dia 8 todos esses pagamentos seriam liquidados, apesar de nenhum jogador ter assinado qualquer contrato de prestação de serviços como também estava prometido. Não foi feito qualquer pagamento, nem nesse dia, nem nos seguintes”, contou.

A situação parecia descontrolada e Alexandre, com o restante departamento, foram pedir esclarecimentos a Fábio Lopes.

“No final de um treino, o departamento teve uma reunião com o Fábio e com o João Rosa para perguntar o que se passava, que tinham de ser claros connosco. O Fábio começou por pedir desculpa e disse que o dinheiro que entrou até ao momento no clube foi zero. Nunca nos disse que o clube estava sem dinheiro porque tinha medo de nos perder. No fundo, colocou os interesses dele à frente das nossas vidas e do nosso bem-estar. Nós ficámos surpreendidos, a conversa desenrolou-se e certos pagamentos começaram a surgir. Num dia, era pago um jogador, noutro dia, pagavam a outro. A verdade é que ficou por pagar o salário o mês de setembro a todos no clube”, disse.  

Para piorar, o GD Samora Correia deixou de ser 'amigo' do Villa Athletic.

"O GD Samora Correia tinha acordado com o Villa o pagamento de uma renda mensal pela utilização do espaço, valor que não foi pago na totalidade. Nós não tínhamos muito a noção desta questão porque era o Fábio quem tratava com o presidente do outro clube, até que viemos a saber que o Fábio andava a ignorar as chamadas do presidente do GD Samora Correia. Soubemos por parte da direção desse clube, chegámos a reunir com eles e contaram que ainda faltava pagar uma verba gigantesca das rendas. Caso esse valor não fosse pago até X dia, os portões seriam fechados e o Villa deixaria de treinar no complexo, o que, na minha opinião, é mais grave. Sempre se mostraram muito amigos, nunca mostraram qualquer entrave na cedência do material para os treinos, algo que nem sequer estava previsto no acordo entre as duas partes. Aí, percebemos que algo de errado se passava e que o Fábio não podia continuar a atirar areia para os olhos, era preciso tomar uma decisão”, contou. 
 
Um discurso "péssimo" 
 
Em busca de respostas, o grupo de jogadores e do staff conseguiu uma reunião com Fábio, que contou aquilo que ninguém esperava ouvir.

“Na semana que antecedeu a minha saída, o Fábio marcou uma reunião com os jogadores no balneário e teve um discurso completamente derrotista. Disse que o clube está sem dinheiro, que não há marcas garantidas, que não há almofada financeira nenhuma e que tem de haver uma restruturação da folha salarial do plantel, coisa com a qual o departamento desportivo nunca, mas nunca concordou. Era impensável, depois do projeto apresentado e da quantidade de coisas que falham desde o início, termos de reduzir os valores que tinham sido acordados com os jogadores. Ia contra tudo o que estava definido no projeto, contra aquilo que me tinha motivado a mudar a minha vida e a ir para Lisboa. Foi um discurso péssimo por parte do Fábio e que fez com que os jogadores olhassem para ele de lado e a relação da nossa parte com a direção azedasse”, contou.

Todas as dúvidas persistiam e Alexandre, a começar a ficar perdido mentalmente, resolveu reunir com a família e decidir o fim da sua ligação ao Villa Athletic.

“Decidi ir embora porque tinha atingido o meu limite. Gastei todas as minhas poupanças no clube e só consegui continuar lá até à saída por ter a sorte de ter uns pais que foram compreensivos comigo e que me suportavam a nível financeiro. Desta feita, decidi vir embora, fui buscar as coisas ao apartamento onde estávamos. O Pedro Campos Ribeiro tomou a decisão, com outro membro do departamento desportivo, de continuar no clube porque achou que conseguiria solucionar os problemas do clube juntamente com os jogadores. Sentiu também um pouco a responsabilidade pelos miúdos que estavam na casa que o clube alugou em Vila Franca de Xira, porque tinha sido ele a contratá-los e não queria abandoná-los. Ele tinha medo que não tivessem onde ficar no momento em que o projeto explodisse. A partir desse momento, deixei de estar ligado ao clube, mas vou estando sempre a par e acompanhando os acontecimentos”, revelou, admitindo saber do que se passou ultimamente no Villa.  

“Fui sempre falando com o Pedro e soube que, na semana a seguir à minha saída, a equipa continuou a treinar com a promessa de que até sexta-feira o Fábio iria liquidar os valores devidos a todos. Mais uma vez, chegou o dia e nenhum valor foi liquidado, dando-se, de vez, a rotura entre o plantel e o departamento de futebol com a direção. Foi a partir desse momento que a equipa deixou de treinar, começou a exigir a saída do Fábio da presidência do clube, que era uma vergonha o que estava a fazer, que atirou areia para os olhos de toda a gente. Foi aí que tudo começou a descambar e a equipa não foi a primeiro jogo da época, tendo os valores em atraso. Os miúdos que estavam na casa de Vila Franca de Xira deixaram de ver o dinheiro a entrar na conta para as refeições, teve de ser o Pedro a garantir esse valor com outra pessoa do clube. Não tinham gás em casa, estes problemas começam a ultrapassar o futebol e entramos mais na parte humano. Nunca achei que o Fábio fosse ignorar este tipo de problemas”, afirmou. 
 
Sem pernas (nem dignidade) para andar 
 
Já fora do clube, Alexandre acredita que não há condições para que o Villa Athletic continue em atividade. Ainda assim, o ex-Team Manager não duvida que, com o destaque mediático de certos elementos do plantel, certas marcas poderão colocar o lado mau desta história de parte.  

"Até acredito que possam convencer marcas, patrocínios e ter alavancagem financeira porque sei que o Pedro, com alguns jogadores como o Edinho e André Carvalhas, influentes no futebol, de forma conjunta, pode encontrar solução. Mas não posso falar disso de boca cheia porque já não estou lá com eles. No entanto, existem certas burocracias e formalidades que têm de ser ultrapassadas”, atirou, explicando.  

“A verdade é que o Fábio continua como presidente do clube, não mostrou intenções de sair do lugar, não mostrou vontade de resolver os problemas e teve a lata de se dirigir aos jogadores à porta da Mega Hits dizendo que o clube é que lhes deve dinheiro e não ele. Existem formalidades a serem cumpridas para que os órgãos sociais sejam demitidos ou para que o Fábio seja afastado da direção. Outra questão que costumo levantar muito quando penso neste assunto é a dos requisitos necessários para a subida ao Campeonato Nacional de Seniores. É necessário o clube ter os escalões de formação para que tenho o certificado de Entidade Formadora e para que possa inscrever o clube na prova. Na verdade, o clube não tem sequer condições para oferecer à equipa sénior, muito menos para mais dois escalões de formação. Acho que este projeto está condenado. Mesmo sem nós, os lesados, nos termos apercebido, o projeto já estava condenado ao início”, concluiu. 


 
Uma imagem a defender 
 
Em tempo de ‘desculpas’, Alexandre alertou para as “notícias plantadas” para difamar uns e salvar outros.  

“Já circulam notícias, de certo, encomendadas pela direção do clube. O que é dito sobre o Pedro Campos Ribeiro é de mau tom, golpe baixo. Dizem que está envolvido no agenciamento de jogadores, que, quando esteve no Águeda, abandonou o clube a meio do projeto com os investidores, o que originou uma crise financeira no clube. É tudo mentira porque o Pedro, no momento em que entrou no Villa, afastou-se do agenciamento, entregou a empresa dele a outro sócio e, em 2020/21, entrou em janeiro no Águeda e só saiu no final da época. Ele decidiu ficar em Lisboa, responsabilizou-se pelos miúdos. A casa onde estávamos ficou sem luz e água e com a renda por pagar e era responsabilidade era do clube e do Fábio. O Pedro saiu de lá e tem pernoitado na casa de atletas, não os abandonou, mantém-se junto com eles. Se ainda existir alguma esperança de este projeto manter-se em pé e se os atletas ainda estão unidos, é graças ao Pedro e à vontade dele”, acredita.

Toda a história vivida no Villa Athletic deixou Alexandre afetado. Agora afastado do clube e de regresso ao Norte, o ex-Team Manager está mais orientado e pronto para redirecionar a vida e a saúde mental.

“Afetou-me bastante. Depositei bastante confiança neste projeto, achei que era a porta certa a abrir-se para eu entrar, mas, na verdade, saiu ao lado. O futebol é muito feito de oportunidades e não sei quando voltará a chegar a minha. Eu sou licenciado em Direito há cerca de dois anos, sou pós-graduado em Gestão e Organização de Futebol Profissional pela Liga de Clubes e, neste momento, vou trabalhar no escritório do meu pai, numa sociedade de advogados. Estarei atento a uma próxima oportunidade sem nunca deixar de me desenvolver na gestão desportiva, que é a minha grande paixão e onde acredito que ainda vou estar inserido a nível profissional. Quando voltei ao Norte, decidi tirar algum tempo para mim. Precisava de me encontrar um pouco de novo, absorver e perceber o que aconteceu nestes últimos dois meses. Quando me sentisse focado e pronto para começar, iria trabalhar. Comecei nesta semana, mas vou ter sempre a porta do futebol aberta e vou estar preparado quando a próxima oportunidade surgir. 
 
Pouca responsabilização 
 
As entidades competentes tardaram a reagir, mas fizeram-no. A Associação de Futebol de Portalegre, na pessoa de Daniel Pina, seu presidente, ‘comentou’ o assunto em conferência de imprensa, explicando a filiação do Villa.

“O Villa Athletic Club reunia todos os requisitos e solicitou a filiação à AF Portalegre, que, por sua vez, submeteu na plataforma Score toda a documentação exigida para aprovação da Federação Portuguesa de Futebol, a qual veio a acontecer no 1 de agosto. A AF Portalegre, por ser uma entidade pública, não pode recusar sócios, desde que cumpram os requisitos e a validação da FPF”, começou por contar.

“Não foi a AF Portalegre que criou o clube, que fez os estatutos do clube, que elegeu os órgãos sociais do clube, que arrendou um espaço em Ponte de Sor para ser a sede do clube nem que cedeu o Estádio Municipal de Ponte de Sor ao clube. Assim, fica de uma vez por todas esclarecido processo de filiação do clube à AF Portalegre e as razões pelas quais não podia recusar a filiação do clube e de outro qualquer”, disse ainda, apontando o dedo a outro que não a própria associação.  

Daniel Pina garante que conhece os problemas na organização do Villa Athletic Club, “mas a AF Portalegre não se pronuncia sobre questões internas dos seus associados”. Optou, ainda, por deixar uma palavra de apoio e solidariedade aos jogadores, que estão a passar por dificuldades “de acordo com o que foi noticiado na imprensa nacional”, não prometendo, pelo menos em frente aos microfones, qualquer tipo de ajuda da AF Portalegre ao plantel.

Fábio Lopes, por último, publicou um comunicado nas redes sociais a desresponsabilizar-se. Garantiu que “nunca foi um negócio, mas foi o negócio do futebol que o destruiu”, falou sobre um “barco a arder” do qual garante que não vai saltar, ao contrário de outros que o fizeram e em quem diz ter confiado. Fábio abordou uma campanha com “o intuito de destruir o valor do Villa Athletic Club e de denegrir o seu presidente”, pedindo desculpa a todos “por ter acreditado no sonho” e não por ter deixado o clube chegar a este patamar.  

Enquanto se apontam dedos e se medem culpas, o Villa Athletic ficou sem casa, depois de a Câmara de Ponte de Sor ter revogado o acordo de cedência das instalações. O clube vive os seus piores tempos e não há futuro à vista. O sonho, esse, parece impossível. 

Leia Também: Presidente do Villa Athletic reage à polémica: "Nunca foi um negócio..."

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