"Factory of Dreams: Benfica [Fábrica dos Sonhos]" é o nome da série documental portuguesa que dá conta dos bastidores do clube encarnado, através de quatro episódios, cuja estreia acontece, esta sexta-feira, na plataforma de streaming 'Amazon Prime Video', desvendando muitos dos segredos da formação do Benfica.
O Desporto ao Minuto esteve presente no Benfica Campus, esta quinta-feira, na antestreia da série, num evento que contou com a presença de jogadores como António Silva e Henrique Araújo, bem como Pedro Mil-Homens, diretor-geral da formação do Benfica, além de outras personalidades ligadas às águias.
Desde a paciência na espera pela oportunidade ao suporte familiar, abordaram-se muitos dos 'ingredientes' que conduziram ao crescimento do Benfica entre as melhores academias, sendo que, para isso, muito contribuíram as mais recentes conquistas das águias na Youth League e na Taça Intercontinental.
Ao longo dos últimos anos, pelo centro de treinos do Seixal, passaram vários craques portugueses que aproveitaram para se potenciar e partir para outros voos mais altos fora de Portugal. Desde João Félix a João Cancelo ou Rúben Dias, internacionais portugueses que contribuíram com testemunhos pessoais para a realização do documentário relativo ao percurso dos jovens prodígios na formação do Benfica.
António Silva chegou, oscilou e 'pegou de estaca'
Instantes depois de saber que o seu nome estava entre os 26 eleitos por Fernando Santos para representar Portugal no Mundial do Qatar, António Silva subiu ao palco do Benfica Campus para uma breve conversa moderada por Pedro Pinto, diretor de comunicação dos encarnados, com algumas revelações.
"Sem dúvida que o suporte dos meus pais foi muito importante para mim enquanto jogador. Passei momentos muito difíceis no Benfica e, olhando para trás, vendo aquilo que estou a conquistar, é curto para o que ambiciono. Mas posso dizer que o apoio dos meus pais foi crucial, tenho de lhes agradecer muito porque é graças a isso que estou aqui a falar e a presenciar isto", começou por dizer.
O defesa de 19 anos - que começou a época nos bês e rapidamente se afirmou na equipa principal para render Morato - confessou que olhou para o Benfica Campus como uma "segunda casa" e autodesignou-se como "um caso à parte".
"Não podendo os meus pais estar perto de mim, o Benfica Campus era a minha segunda casa. Foi aqui que vivi os meus anos quase todos. Não me lembro de viver com os meus pais. O suporte de toda a gente que trabalha na instituição foi, sem dúvida, muito importante para mim. Não sou um menino especial, mas fui um caso à parte. Terei sido um dos atletas com mais dificuldades no percurso e, nesse sentido, houve muitas pessoas a ajudar-me.", acrescentou.
Desafiado a contar um episódio marcante no percurso pelos escalões de formação, António Silva 'empurrou' a iniciativa de recordar alguma história para o "professor" Pedro-Mil-Homens, que não hesitou em garantir que "os 'Antónios Silvas' têm sempre lugar" no Benfica.
"Lembro-me do campeonato de iniciados de 2017 e eu não o conhecia. No Benfica, apesar de ser importante ter títulos como a Youth League, é preciso olhar primeiro para os jogadores. Os 'Antónios Silvas' têm sempre lugar. A palavra mais importante é a 'paciência'. É preciso saber esperar e a melhor coisa que aconteceu neste ano foi abrir espaço para vários jogadores que, por questões maturacionais, parecem ter dois ou três anos a menos que a idade cronológica. Essa é, creio eu, a melhor história do António", realçou.
António Silva bisou diante do Estoril, no passado domingo, num jogo em que Henrique Araújo entrou para disputar os últimos 25 minutos da partida do campeonato.© Getty Images
Henrique Araújo entre "as escondidas" e a ascensão
O avançado de 20 anos cruzou-se com António Silva nas camadas jovens das águias, desde os juvenis e os juniores até aos sub-23 e aos bês, sendo de realçar que ambos jogaram a final da Youth League (triunfo por 6-0 frente ao Salzburgo). O primeiro ângulo da conversa prendeu-se às origens madeirenses e à adaptação a uma nova realidade.
"Vim para o Benfica numa fase diferente da do António, mais tarde, já com 16 anos. Sentia que não estava preparado para vir mais cedo. É um pouco diferente sair do norte ou do sul do país e mudar para Lisboa, por comparação a quem vem da Madeira. Mas sempre tive o apoio dos meus pais e toda as pessoas do Benfica Campus, que trabalham muito bem e preocupam-se com o nosso bem-estar. Isso é fundamental para conseguirmos chegar dentro de campo e sorrir", frisou.
"Aquilo que senti mais diferença ao mudar-me para o Benfica foi a orientação que o clube tem, não só na equipa principal, mas também nas etapas de formação. Senti-me sempre muito bem acompanhado e, assim, as coisas acabam por ser mais fáceis, tanto na parte social e educativa, como na forma como os treinadores trabalham os detalhes", acrescentou relativamente ao processo de adaptação, antes de deixar um conselho a gerações futuras: "Aconselho os mais novos a trabalharem muito e a ouvir sempre os treinadores. Aquilo que valorizei mais ao chegar ao Benfica foi ter pessoas ao meu lado a aconselhar-me e a ajudar-me a melhorar. A partir daí, o trabalho tem de vir de dentro para fora".
Ao contrário do companheiro de equipa, Henrique Araújo não hesitou em recordar um episódio na formação, provocando alguns sorrisos no público presente no Benfica Campus: "Recordo-me quando os jantares não eram bem o que queríamos, até porque preferíamos mandar vir hambúrguer ou pizza, por exemplo (risos). Ir ali um bocadinho às escondidas, basicamente. As pessoas percebiam e deixavam passar um bocadinho", confessou.
O discurso impactante de 'quem manda'
Pedro Mil-Homens chegou ao Benfica em 2017, e, como diretor-geral da formação encarnada, assumiu um papel preponderante para elevar a notoriedade do Benfica Campus, tendo assumido, no evento desta quinta-feira, estar muito contente com o trabalho desenvolvido e retratado na série documental.
"Recordo-me das primeiras conversas sobre o projeto há um ano. No início, pensei para mim mesmo: 'Como vamos fazer um documentário agradável e atrativo para um benfiquista?'. Fiquei na dúvida, não conheço outro documentário semelhante. Já vi os quatro episódios e tenho que dizer que ficou um trabalho top. Acho que o benfiquista que se interessa pelo futebol de formação, o pai dos jovens atletas que estão no Benfica e os jovens que querem concretizar os sonhos (como o António Silva e o Henrique Araújo) e as pessoas que se interessam pelo desporto e pelo futebol irão certamente querer ver", vincou.
Pedro Mil-Homens chegou ao Benfica em 2017, numa altura em que Luís Filipe Vieira ainda era presidente das águias, tendo assumido um papel preponderante no crescimento da academia dos encarnados.© Global Imagens
"Houve a capacidade de mostrar, na primeira pessoa, um conjunto de coisas que aqui se passa. Ouviram-se os pais, com dúvidas naturais em deixar o filho ir para mais de 300 quilómetros de distância, como aconteceu no caso do António Silva", acrescentou antes de relembrar a importância da Youth League e da Taça Intercontinental: "Evidentemente que a sorte também faz parte do desporto e, neste caso, da escolha de uma época. Não podíamos ter escolhido melhor época para ilustrar o trabalho de formação do Benfica, com o sucesso na conquista da Youth League e a Taça Intercontinental. Tudo isso foi a cereja que se conseguiu no topo deste bolo num ano que é de ouro para o futebol de formação do Benfica".
No seguimento desse raciocínio, Pedro Marques, um dos realizadores da série da 'Amazon Prime Video', a par de Ricardo Carbonero, 'Head of Content da Prime Video Espanha', descreveu todo o processo do projeto e sublinhou que não fazia ideia que a formação do Benfica iria 'dar cartas' com duas conquistas internacionais consecutivas.
"Temos uma grande personagem, que é o Benfica Campus. É a figura. Não sabíamos que o Benfica ia ganhar a Youth League ou a Taça Intercontinental, mas já tínhamos um bom background, através de grandes jogadores que saíram daqui e com quem iríamos falar. Começámos a filmar, fizemos entrevistas e falámos com protagonistas, sendo que fomos até Nyon na Youth League. O primeiro episódio é mais dedicado à iniciação do Benfica Campus, o segundo mais virado para os métodos de treino, o terceiro centra-se no scoutting e, por fim, o quarto dedica-se à Youth League e toda essa caminhada", confessou.
Pedro Mil-Homens recordou que o principal objetivo do Benfica Campus passa pela formação de jogadores e recordou o exemplo de António Silva como um momento de superação que quer ver replicado noutros casos.
"O nosso principal objetivo é ajudar a promover e a ascender os jogadores ao patamar da equipa principal. Falta cumprir uma missão e somos novamente candidatos este ano. O Benfica já recebeu por duas vezes o prémio de melhor academia do mundo e, este ano, repete-se a candidatura", admitiu.
"Não são muitos os jogadores que conseguem atingir os mesmos patamares do Henrique Araújo e do António Silva. A série transmite a ideia de que não se pode desistir à primeira dificuldade. O António não desistiu e também teve a compreensão do Benfica de que era melhor dar um passo atrás para depois dar dois à frente. Faz parte da nossa vida superarmo-nos e a primeira superação é em relação a nós próprios", finalizou.
De recordar que apenas Henrique Araújo e António Silva estiveram presentes no evento, que contou com a presença do presidente Rui Costa, mas não faltaram referências a outros testemunhos pessoais de jogadores com passagens marcantes pelo Benfica, como foram os casos de João Félix, Rúben Dias ou João Cancelo.
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