A paciência tem limites e esgotou-se num beijo que parece eterno. O beijo de Luis Rubiales a Jenni Hermoso feriu não só um país, como um continente. Um Velho Continente onde reclamamos a gritos a igualdade de género, mas em que várias personalidades continuam a prejudicar a evolução dos tempos e a proliferar o machismo e a misoginia.
As atitudes de Luis Rubiales, após o triunfo da seleção espanhola no Mundial Feminino, em Sidney, fizeram ver que este dirigente está a mais no desporto e que o único caminho a seguir passa pela sua demissão. Todos se uniram nesta premissa e apenas o ainda líder da RFEF poderá ver algo de diferente em algo que é "inaceitável" e para as quais as "desculpas não são suficientes".
O ainda chefe de governo do país vizinho, Pedro Sánchez, foi claro e frisou que há ainda muito a fazer: "As jogadoras fizeram de tudo para ganhar, mas houve alguns comportamentos, como o do Sr. Rubiales, que mostram que no nosso país ainda há um longo caminho a percorrer em termos de igualdade e respeito entre mulheres e homens".
A dimensão do 'icebergue' de Rubiales
Rubiales quer normalizar algo que, afinal, nunca normalizou. Considera normal beijar na boca Jenni Hermoso? Então por que razão nunca beijou na boca a Rodri, Gavi ou Pedri, após a mais recente conquista da Liga das Nações? Rubiales agarra uma jogadora pelas pernas, sem qualquer tipo de consentimento, mas alguma vez decidiu agarrar o corpo de Unai Simón e pendurá-lo às costas? Como pode um dirigente, que ocupa um cargo tão importante, pode arranjar justificação para o facto de agarrar as partes baixas, após esta conquista da Roja? E fê-lo tendo a Rainha Letizia e a infanta Sofia ao seu lado. Será que para Rubiales serão comportamentos assim tão normais?
Várias personalidades já responderam a estas perguntas e torna-se até difícil enumerar em um só artigo o lençol de palavras condenatórias contra Luis Rubiales. Em declarações ao La Sexta, o presidente do Atlético de Madrid, Enrique Cerezo, foi claro: "Todos devemos ter consciência do que fazemos e dizemos. Ele terá de fazer o que achar conveniente, mas penso que o mais correto é apresentar a sua demissão". Ancelotti, por exemplo, foi ainda mais longe.
"É uma questão muito sensível, penso que, como cidadão e como a maioria das pessoas, tenho de dizer que foi um comportamento que não me agradou nada, obviamente. Penso que há entidades que vão decidir isto [a sua continuidade no cargo]. Mantenho o que disse antes, não sei se ele se vai demitir ou não, acho que vão tomar a decisão mais adequada e pronto", frisou o treinador do Real Madrid. No que diz respeito ao universo dos futebolistas, Isco Alarcón foi o primeiro jogador a pronunciar-se publicamente. À saída do treino, o jogador do Real Betis foi categórico: "Se não foi consentido, é um abuso de poder. Envio todo o meu apoio à Jenni".
O caso Rubiales excede as fronteiras do país vizinho e também a FIFA colocou a 'boca no trombone', para anunciar que abriu um processo disciplinar ao ainda líder da RFEF. "Os incidentes podem constituir a violação do artigo 13, parágrafo 1 e 2, do código disciplinar da FIFA", avisa o organismo que rege o futebol mundial.
Rafa Benítez, Imanol, Michel, e tantos outros treinadores, seguiram pelo mesmo rumo, mas ganhou notoriedade a reação de Javier Tebas, presidente da La Liga e inimigo crónico de Rubiales. Os seus confrontos nos últimos anos têm sido numerosos e Tebas publicou esta quinta-feira no Twitter uma imagem enigmática que muitos interpretam como uma mensagem subliminar à atual situação de Rubiales.
¡ Buenos días! pic.twitter.com/GMJGhbBTMr
— Javier Tebas Medrano (@Tebasjavier) August 24, 2023
Qual será o final da história?
Uma das perguntas que se repete e que parece difícil ainda descobrir resposta tão sólida. Do poder político já surgiram um 'camião de vozes' a mostra a Rubiales dois caminhos: a demissão imediata ou uma suspensão exemplar.
O CDS (Conselho Superior do Desporto) aguardará a Assembleia Geral da RFEF, agendada para esta sexta-feira, se esta se realizar, para ver qual será o resultado da mesma e do relatório do organismo com os resultados da sua investigação interna. Esse resultado, como salientou o Ministro dos Desportos espanhol, Miquel Iceta, "deve estar à altura. Não podemos olhar para o outro lado. O Governo não o vai fazer".
Se Rubiales continuar a não dar um passo firme e convincente, o CSD atuará. Tem quatro queixas em cima da mesa (de Miguel Ángel Galán, do partido Sumar, Liga F e AFE) e vai estudá-las para ver se a lei foi violada e se pode ser levada ao TAD, que o poderá desqualificar entre dois e 15 anos. A sanção exigida e que se reclama a gritos. O silêncio e o 'nada fazer' não podem voltar a ser a solução.
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