A saída de Otávio do FC Porto para o Al Nassr é um dado já confirmado. Depois de avanços e recuos em julho - o médio chegou a dizer que ficaria no clube azul e branco -, o internacional português juntou-se a Cristiano Ronaldo e Luís Castro na Arábia Saudita.
Uma baixa de peso no plantel de Sérgio Conceição, que terá agora de, mais uma vez, 'inventar' uma solução para a saída de Otávio. João Moutinho, que chegou a ser apontado ao Sporting de Braga, pode ser o senhor que se segue nos portistas. Jorge Amaral acredita que o ex-Wolverhampton é uma boa aposta, mas assume que haverá uma solução interna para este caso 'bicudo' para os azuis e brancos.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o antigo guarda-redes do FC Porto, admite que a saída de Otávio vai deixar algumas marcas no plantel, muito por causa do papel que o médio tinha não só dentro do balneário como no relvado, mas prevê que Sérgio Conceição consiga resolver a situação.
"Todos os portistas ficam tristes com a saída do Otávio, mesmo aqueles que não são sócios. Até colegas de equipa e staff. Há muita gente triste com a saída do Otávio. Era peça importantíssima no FC Porto. Não é insubstituível, mas será muito difícil de substituir. Mas não acho que o Sérgio Conceição tenha ficado chateado. Ele sabia que as probabilidades de um Otávio ou Diogo Costa saírem, dois dos mais vendáveis, existiam", começou por dizer.
"O FC Porto precisava de fazer uma destas vendas. Já tinham chegado propostas de 40 milhões de euros para o Otávio, mas ele não saiu porque não era aquilo que queria. Perante isto é impossível rejeitar. É uma grande venda para o FC Porto, uma das maiores de sempre, de um jogador com 28 anos. É um encaixe fantástico", acrescentou o ex-jogador, antes de falar sobre o que pode mudar na equipa com esta saída do internacional português
"Agora é o Sérgio e a própria equipa tentarem fazer muitas das coisas que o Otávio fazia. Não é tão simples como isso. O Otávio era o equilibrador dos momentos de jogo, pensava mais rápido que os outros, desequilibrava a equipa contrária com e sem bola. Agora são os colegas que estiveram ali dois ou três anos beberem um pouco daquilo que ele fez. E a própria equipa não pode estar dependente de um Otávio, mas de mais jogadores", vincou Jorge Amaral, salientando que há jogadores que podem dar mais daqui em diante.
"Há alguns que têm de aparecer com muito mais evidência. Um Galeno, um Pepê... O Nico vai dar crescimento àquela equipa em termos de pensar o jogo. O papel do Sérgio é, não conseguindo ir buscar algum parecido a Otávio, fazer com que, dentro da própria equipa, algum jogador aprenda o que o Otávio aprendeu porque ele também não era isto. O FC Porto tem jogadores que são tecnicamente evoluídos e que podem, eventualmente, pensar o jogo e ser diferenciados. Agora iguais ao Otávio é impossível", explicou.
Otávio, de 28 anos, deixou uma marca forte no FC Porto, onde era um dos capitães de equipa, vencendo nove títulos pelos portistas. Jorge Amaral vê em Marcano um jogador com perfil semelhante ao do agora ex-jogador.
"Eu admirava essa postura de Otávio, mas para os árbitros era marcante e só complicava. Muitas vezes era logo punido com amarelos. Mas nem ele nem o Pepe se preocuparam muito com isso e mantiveram-se iguais a si próprios. O Otávio estava no meio-campo e era um líder por natureza. Há jogadores que não precisam da braçadeira para serem líderes. O Marcano tem um feitio totalmente diferente, mas é um líder dentro de campo. Esse ser introvertido e sarcástico como o Otávio, com muita ironia por vezes, são características que são impossíveis de replicar. Faz parte da pessoa. É muito difícil mudar o Marcano para fazer o que o Otávio fazia. Há de aparecer uma nova geração, não se sabe quando, que possa ser igual. Agora não há Otávio e a equipa tem de se unir mais. Alguém tem de assumir a batuta", sustentou.
Questionado sobre se o FC Porto deve agora avançar para a contratação de um sucessor de Otávio, Jorge Amaral considera que, a existir essa possibilidade, os azuis e brancos devem apostar nela. Mas aponta também Pepê como uma alternativa válida para o lugar.
"Se eu encontrasse algum jogador que, na minha perspetiva, poderia dar-me garantias de ser mais parecido com o Otávio, ia buscá-lo de certeza. O Bitello é um jogador muito interessante para ser ir buscar e com características muito parecidas. O Iván Jaime, por exemplo, não tem nada a ver com o Otávio. Mas não havendo essa possibilidade, e correndo o risco de alguns dos alvos ser semelhante a algum que já lá está, é melhor dimensionar a equipa e jogar de outra forma. Se calhar vai ser um jogo mais pensado de trás com o Nico e o Varela e não tão à frente como o Otávio fazia", frisou, antes de apontar Pepê como o jogador mais semelhante ao agora antigo companheiro de equipa.
"O Pepê assemelha-se muito ao Otávio, apesar de ser um jogador que tem de melhorar no momento de soltar a bola. O Pepê tem uma magia nos pés fantástica, vai no um contra um e tem mais velocidade que o Otávio. Mas é preciso ter os tempos de jogo, parar para pensar e ter duas ou três soluções para jogar. Vai ter de se lhe dar tempo para que possa readquirir os hábitos de pensar o jogo e não apenas transporte de bola e assistência", sustentou.
Moutinho vai ser líder do balneário, com uma liderança à semelhança do OtávioO antigo internacional português valida também o esperado regresso de João Moutinho ao FC Porto, agora com 36 anos, apontado a chegada do médio como um incremento de qualidade ao plantel de Sérgio Conceição.
"O João fez 36 jogos na Premier League no ano passado e conta com uma média de 42 jogos por época na última década. Se não tiver lesões, é um jogador que pode gerir mais a sua condição no nosso campeonato. Não imagino que a I Liga seja mais intensa que a Premier League. Se gerir bem a sua condição, vai conseguir fazer a diferença", afirmou Jorge Amaral.
"O Moutinho é um jogador muito inteligente. Não é um Otávio, porque não vai conseguir fazer as coisas com a velocidade que fazia há uns anos, mas faz as coisas de outra maneira. Pode ajudar a pensar o jogo. A equipa tem de substituir Otávio e se calhar vai ser um misto do João Moutinho com o Nico e o Pepê. Em vez de estar concentrado só num, cada um ter uma parte ativa na equipa. E para mim o João vai ser importante nisso. Se calhar não faz os desequilíbrios de antigamente, mas pode trazer muito ao FC Porto", vincou, apontado o português como um dos possíveis líderes do balneário.
"O Moutinho vai ser líder do balneário, com uma liderança à semelhança do Otávio que foi conquistada com o tempo. Não são precisos gritos. É a liderança pela amizade, pela ligação e o trabalho. A bancada do Estádio do Dragão revê-se em Moutinho pelo jogador que ele é. O Moutinho é um jogador fantástico e vai ser o elo de ligação entre a equipa e os sócios. Os sócios vão rever-se nele, assim como os colegas. Depois, e como é uma pessoa humilde e de trabalho, certamente vai conseguir gerir essas duas ligações e transformá-las em mais forças para o FC Porto", terminou.
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