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"Estou ao nível dos treinadores de topo e devo isso a Mourinho"

Treinador português de 58 anos faz o balanço da experiência no Irão, onde comanda Sepahan pela segunda temporada consecutiva. As aprendizagens com Mourinho, os conselhos de Cristiano Ronaldo e a liderança de Pepe também foram tema nesta longa entrevista com José Morais, que confessa ainda o desejo de regressar a Portugal para ser... campeão.

"Estou ao nível dos treinadores de topo e devo isso a Mourinho"
Notícias ao Minuto

07:54 - 18/10/23 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

José Morais encontra-se a cumprir a segunda temporada ao serviço do Sepahan, equipa que está a assinar um início de época avassalador no campeonato do Irão, com cinco vitórias nas primeiras cinco jornadas. O treinador português, de 58 anos, sente que o trabalho feito na época transata está a dar frutos e aponta sem receios à conquista do título de campeão iraniano, que na última época lhe fugiu por... um ponto.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, José Morais faz um balanço da experiência no Irão, onde está há dois anos, e aborda o recente crescimento da Liga da Arábia Saudita, na qual se sagrou campeão, há não muito tempo, ao serviço do Al Hilal, agora comandado por Jorge Jesus.

O também antigo jogador aponta José Mourinho como um dos grandes impulsionadores da sua carreira como treinador e recorda os tempos em que se cruzou com Pepe, Cristiano Ronaldo e Ángel Di María no Real Madrid. 

José Morais confessa, ainda, o desejo de regressar a Portugal "o mais cedo possível", até porque na sua bagagem já estão passagens por 15 países, distribuídos por três continentes. 

Os outros clubes estão a tentar que a verdade do nosso rendimento seja deturpada

Qual o balanço faz desta segunda época no Irão, à frente do Sepahan, tendo em conta que soma apenas vitórias? 

É uma temporada em que tínhamos a expectativa que fosse melhor que a anterior, tendo em conta que é a segunda época, há trabalho realizado da temporada passada e há alguma estabilidade no plantel no que toca aos jogadores mais importantes. No fundo, a nossa expectativa é que, de facto, conseguíssemos fazer um melhor início de temporada do que no ano transato. E é isso que está a acontecer. Na primeira época não fizemos o número de pontos que estamos a fazer agora. Esta temporada estamos com cinco vitórias em cinco jogos. Estamos muito melhor. O balanço é positivo e vai ao encontro das nossas expectativas enquanto equipa técnica. 

Apesar disso, há uma penalização que está a tirar pontos ao Sepahan. O que se passou? 

A Federação impôs algumas regras e, no meu entender, deve haver uma má interpretação daquilo que são as regras do fair play. Impuseram um budget limite para cada clube, o que é um contrassenso porque nem todos os clubes têm as mesmas possibilidades. Por exemplo, nós participamos na Liga dos Campeões asiática e há outros que não. Nós temos 50 mil adeptos nos estádios, há clubes que só têm cinco mil. Portanto, não têm as mesmas possibilidades financeiras e a Federação impôs um limite e criou essa regulamentação em cima do joelho, um mês antes do início do campeonato, com contratos já assinados. São problemas contratuais que eles dizem que devem ser cumpridos e não estarão a ser cumpridos. Por exemplo, os contratos dos jogadores estrangeiros terem sido feitos em dólares, em vez de serem feitos em euros. Ou os aumentos dos salários terem uma percentagem limite. Estas questões não estavam contempladas em alguns dos contratos e a Federação entendeu, por queixa dos clubes concorrentes, e é isso que é o caricato desta situação, punir-nos. A questão é que o Sepahan está ligado à empresa de aço que patrocina o clube e todas as contas são claras. 

Entramos, por isso, em questões fora de campo...  

Alguns clubes eventualmente têm budgets mais baixos, porque declaram ordenados que não são reais e essa situação é estranha. Ou seja, os quatro clubes concorrentes queixam-se porque, depois de quatro jornadas e estarmos a ganhar, o Sepahan é um clube com todas as condições para ser campeão e repetir o estatuto de clubes como o Esteghlal ou o Persepolis. No fundo, juntam-se para estar numa luta que, no meu entender, devia ser justa dentro de campo, onde as equipas ganham, perdem e fazem os seus pontos. Infelizmente, esta luta está a ser feita na secretaria. Na minha opinião, creio que não faz sentido este tipo de guerra que existe e espero que a Federação, tendo a responsabilidade de proteger todos os clubes e sem tomar partidos, consiga resolver as coisas no futuro, no sentido de serem devolvidos os pontos que nos estão a querer tirar. Como em Portugal, também aqui no Irão há esta competição em querer ser campeão e criam-se estas situações de instabilidade de vária ordem. Acredito que no futuro as coisas vão resolver-se a nosso favor. 

E como é que um treinador lida com isso e consegue manter os jogadores focados? 

Não tem sido fácil, porque os jogadores também sentem a injustiça, até porque alguns deles passaram por outros clubes e sabem como é que as coisas são feitas. Chegam aqui e sabem como são feitas dentro deste clube, entendendo que aquilo que se está a passar não é justo. No fundo, os outros clubes estão a tentar que a verdade do nosso rendimento seja deturpada com coisas que, no meu entender, não fazem sentido. 

Falando do futebol que interessa, aquele que acontece dentro do relvado, que realidade encontrou no Irão?

É um futebol físico, técnico e rápido, não em termos de decisão, mas em termos de transições e objetividade. É um futebol que pode ser designado como direto e de ataque rápido, mas estou muito surpreendido, de forma positiva, pela elevada qualidade técnica e até física dos jogadores iranianos. É um campeonato muito interessante e que conta com muito público. O povo iraniano é muito apaixonado pelo jogo e pela competição. Há, de facto, jogadores com elevada qualidade. 

Olhando mais para o lado pessoal, como foi o processo de adaptação quando chegou ao Irão há dois anos? 

Há aquele momento de adaptação cultural que foi mais fácil, porque eu já tenho algum passado em clubes da Ásia, e nomeadamente no Golfo, na Arábia Saudita. O que acontece nesta altura é que um país diferente e que tem as suas regras. É um país que estava habituado a um tipo de condições que eu estaria à espera que fossem um bocadinho melhores. Falo, por exemplo, dos relvados. É um país com capacidade financeira para oferecer esse tipo de condições, mas curiosamente ainda há um caminho a percorrer e um gap entre a qualidade dos jogadores e a qualidade das infraestruturas. Penso que o Irão tem tudo para crescer e é nesse sentido que tenho expectativa que no futuro próximo as coisas melhorem.

O nível de recrutamento dos clubes árabes equipara-se às grandes equipas da Europa, como Real Madrid ou LiverpoolAlém do campeonato, o Sepahan está ainda em ação na Liga dos Campeões asiática. Quais são as suas ambições nesta prova? 

Para já, o objetivo é ganhar o próximo jogo. Estamos num bom grupo, são todas boas equipas. O primeiro jogo foi fora e empatámos, mas na minha perspectiva deixámos fugir a oportunidade de conquistar os três pontos logo na primeira jornada. Não tendo conseguindo isso e tendo visto o jogo com o Al Ittihad ser cancelado, vamos para a terceira jornada, jogando fora, contra um adversário que perdeu os dois jogos anteriores. É um jogo no qual temos de dar o nosso melhor e procurar os três pontos, que podem ser cruciais na nossa qualificação para a segunda fase. No fundo, é esse o nosso objetivo. Temos aspirações legítimas nesta competição pela qualidade de jogo que apresentamos. Obviamente que este ano as equipas árabes têm reforços de peso, sendo que também houve uma mudança no regulamento que possibilita a utilização de cinco jogadores estrangeiros, mais um asiático. Com o potencial económico das equipas árabes, estes seis jogadores têm uma qualidade que os clubes do Irão, Iraque ou Uzbequistão não podem recrutar. O nível de recrutamento dos clubes árabes equipara-se às grandes equipas da Europa, como Real Madrid ou Liverpool. Nós não conseguimos pagar aqueles salários, nem pagar transferências como eles podem fazer. Vai ser, de facto, uma luta interessante neste grupo. Se considerarmos que a este nível não há favoritismos, a verdade é que o Al Ittihad é a equipa que tem mais qualidade. Nós, Sepahan, poderemos ter algum equilíbrio porque temos 11 jogadores com boa qualidade. O jogo é já na próxima semana e estamos confiantes num bom resultado. 

Notícias ao Minuto Ricardo Sá Pinto e José Morais cumprimentam-se antes de um duelo entre Esteghlal e Sepahan na época passada
 
© Getty Images  

Pegando na questão dos clubes sauditas, e tendo já sido campeão pelo Al Hilal, esperava aquilo que aconteceu no último verão, com aquele boom de estrelas a mudar-se para a Arábia Saudita? 

Francamente, não. Previa-se que a Arábia Saudita poderia ter uma aposta diferente, relativamente ao próprio campeonato, mas que passasse por este recrutamento tão agressivo e tão imediato, não se previa. Eu pensei: 'Ok, o Cristiano foi e depois poderá ir um ou outro'. Mas não esperava tantos nomes sonantes e alguns deles jovens. Hoje em dia existe a aposta numa Liga saudita que desperte o interesse a nível mundial. Daí o recrutamento que foi feito, com jogadores que ainda estão melhor fase da carreira, misturando um ou outro jogador que ganharam a Bola de Ouro. O Benzema e o Cristiano Ronaldo são dois exemplos, além do Neymar, que também foi candidato e que é um jogador do mesmo nível. Estamos a falar em três equipas que têm três jogadores de grande capacidade a nível internacional. 

Desafio lançado por Pinto da Costa? Se Cristiano Ronaldo mete os mil golos na cabeça...Trabalhou com Cristiano Ronaldo no Real Madrid. Ficou surpreendido com a opção de rumar à Arábia Saudita? 

Não posso dizer que esperava ou que não esperava. Cada um é livre de tomar decisões relativamente à sua carreira nos momentos em que sente que as oportunidades são válidas. O Cristiano é alguém que acredita no seu potencial e que tem as suas próprias ambições e, eventualmente, pensou que seria um bom momento para experimentar um campeonato diferente, tendo em conta as condições oferecidas. Estou com ele, porque conheço aquele campeonato e os árabes. Estou com ele porque ele é um embaixador do futebol a nível mundial, não só em termos de qualidade. É um jogador que foi considerado um dos melhores do mundo e é um dos melhores. Isso ajuda o futebol a crescer num país que me ofereceu, num determinado momento da carreira, a oportunidade para crescer. Fico feliz pelo Cristiano estar a ser aquilo que ele é, que seja feliz e que esteja a fazer o que faz melhor, que é marcar golos. E espero, que da mesma forma que Pinto da Costa fez o desafio, creio que pelo que trabalhei com ele, é uma pessoa de desafios, desejo sinceramente que consiga chegar aos mil golos. Ele já disse que será difícil, mas para ele não há impossíveis. Se ele meter isso na cabeça, acredito que para bem do futebol português, porque ele ainda tem alguns anos para dar à nossa seleção, se calhar com novas motivações, ele poderá dar-nos aquilo que vimos nos últimos dois jogos, e com isso conseguir fazer cada vez mais golos e distanciar-se ainda mais daqueles que pretendem ser os melhores marcadores de sempre. 

Concorda com a ideia de que Cristiano Ronaldo abriu a porta da Liga saudita e que as outras estrelas quiseram ir atrás? 

Claramente! É um facto! Com a presença do Cristiano, há outros jogadores que pensaram: 'Se ele, que é um dos melhores do mundo, foi para lá, por que motivo os outros não podem ir?'. Se as condições oferecidas são capazes de suscitar o interesse de um dos melhores do mundo, por que razão os outros com grande potencial não podem ir? O Cristiano é um embaixador do futebol e atrai. Ele foi o fator de atração que os outros jogadores necessitavam para ir para a Liga Saudita. Isto para bem do futebol mundial, porque há vários campeonatos espalhados pelo Mundo com potencial. É bom que possamos ter, num campeonato que não era tão visto até há bem pouco tempo, jogadores desta dimensão que dão outra visibilidade para que todos percebam que, afinal, não há só futebol nas big5. Há condições noutros países que podem atrair qualidade. O futebol pode ter dimensões muito interessantes noutros países. 

Há outro dado interessante no futebol saudita: Três dos candidatos ao título são orientados por treinadores portugueses. 

Também fico feliz por isso. Em Portugal temos vários treinadores com qualidade e alguns deles já passaram pelo campeonato árabe. Cada vez mais o sucesso destes treinadores abre portas para os mais jovens treinadores com potencial e que estão a aparecer agora. 

Tem-se falado da possibilidade de Mourinho também rumar à Arábia Saudita. Acredita que poderá ser uma realidade? 

Eu acredito que se ele o disse... Ele é uma pessoa com convicções. Quando diz que vai fazer algo, não o diz só por dizer. Diz por convicção e porque sabe que pode fazer e vai fazê-lo. Acredito que, da mesma forma que ele diz que um dia pode vir a ser o nosso selecionador, também acredito que ele possa aceitar uma oferta da Arábia Saudita. Isto, segundo as notícias, em que ele próprio admitiu. Da mesma forma que digo que o Cristiano Ronaldo fez bem, também o digo para Mourinho. Dou todo o meu apoio, ainda mais agora que são um dos candidatos à organização do Mundial [em 2034]. Existem todos os ingredientes para que as pessoas tenham apetite em estar na Arábia durante os próximos anos.

 Considero-me um treinador ao nível dos treinadores de topo e devo isso a MourinhoQue impacto teve na sua carreira o facto de ter trabalhado com Mourinho ? 

Teve uma grande importância. Primeiro, é um treinador com quem tenho uma amizade muito grande. Transformou-se num amigo e numa pessoa de família, praticamente. Depois, aquilo que aprendi com ele, foi o que me proporcionou dar o salto naquilo que era como treinador para o treinador que sou hoje e aquilo que posso oferecer. O nível de organização, a liderança, a visão em determinados aspetos do jogo, a frontalidade, a forma de estar... São tudo valores que acabei por vivenciar durante vários anos com ele e que hoje fazem parte da minha bagagem técnica enquanto treinador de futebol. É isso que faz a diferença hoje, em que tenho uma capacidade completamente diferente. Considero-me um treinador ao nível dos treinadores de topo e devo isso a Mourinho. 

Notícias ao Minuto José Morais ao lado de Mourinho nos tempos do Chelsea© Getty Images  

Depois de ter passado por 15 países e por três continentes já pensa em regressar a Portugal? É um objetivo? 

Sim, tenho isso como uma meta e quero dizer que, francamente, gostava que acontecesse o mais cedo possível. Quando acontecer, vou ponderar com carinho porque é uma coisa que quero conhecer. Olhando para o conhecimento que tenho e para a experiência que tenho, penso que está na hora de eu poder oferecer isso a uma das equipas portuguesas que eventualmente tenha a ambição de crescer com qualidade e estabilidade. 

Tem seguido de perto o campeonato português?

Obviamente! Sempre que é possível, reúno-me com o meu staff para assistirmos aos jogos do campeonato português, que agora tem um interesse diferente do que anteriormente. É bonito ver um Sp. Braga a intrometer-se na luta pelo título, é bonito ver um Vitória com outra capacidade, é bonito ver equipas como Arouca e Gil Vicente a estar na parte de cima da tabela. No fundo, são estes ingredientes que o campeonato português apresenta hoje que nos fazem estar agarrados à televisão. É uma Liga com qualidade e cada vez mais bem organizada, nomeadamente desde que existe a Liga de Clubes. O Pedro Proença tem uma quota de responsabilidade nisso. O marketing é diferente, as condições são melhores... Dá gosto acompanhar a Liga portuguesa, até porque os campos estão mais compostos. 

Especialmente em alguns clubes... 

Sinto pena que o Paços de Ferreira, por exemplo, não esteja na I Liga, porque é uma destas equipas que cresceu imenso. Temos o Estoril, que se reorganizou e que tem um estádio com melhores condições. Temos um Rio Ave, que está a preparar um futuro diferente, com condições melhores no estádio. Temos um Famalicão com uma organização diferente. Temos um Vizela, com um público muito bom, assim como o Famalicão. Temos um Chaves, mais a Norte, e eu considero-me filho do Norte, que Deus queira que o Moreno consiga fazer o trabalho que eu acredito que consiga fazer e que mantenha o Chaves na I Liga. É importante para a região que o Chaves continue na I Liga. Penso que foram criadas condições em Chaves que não existiam no passado e é uma belíssima equipa. É um gosto ver o Chaves jogar, o entusiasmo que se vê nos jogos do Chaves... Estou a passar por estas equipas rapidamente, porque é um campeonato muito rico e muito interessante. Espero, também, que o Marítimo regresse rapidamente à I Liga, que é um clube que merece estar na I Liga. E ainda há o Santa Clara, uma vez que é importante para as ilhas ter um clube representativo no máximo escalão. 

O Académico de Viseu, que já orientou, também esteve perto da subida na época transata...

É um clube que tenho muita pena que as tentativas não resultem na chegada à I Liga. E também a Académica de Coimbra. Mas o Académico sempre foi um clube onde a população gosta de futebol. É um nicho pequeno, mas com muitos espetadores e que poderá criar um clube com uma massa adepta muito grande. Do mesmo modo ouvi falar do Beira-Mar, cujas ambições futuras passam por regressar à I Liga. Fico, ainda, feliz pelo Estrela da Amadora, e espero que consigam estabilizar na I Liga. É também bonito ver jogar o Casa Pia, pelo projeto e como se fixou na I Liga. 

 O Boavista tem tudo para ser um dos grandes do futebol português

No meio disto tudo, qual o clube que mais o surpreendeu nesta temporada? 

Não falei propositadamente do Boavista, deixando para último, porque é um dos históricos do futebol português. Na cidade do Porto é um grande clube. Espero, de facto, que quem dirige o Boavista dimensione o clube naquilo que ele é e com as ambições de aquilo que poderá ser. O Boavista tem tudo para ser um dos grandes do futebol português. Não quero ofender ninguém, ao dizer que não é. Só não é porque as dificuldades financeiras que tem tido não o permitiram ser. Mas têm tudo. O Boavista está numa grande cidade, tem uma massa associativa suis generis e tem qualidade. Parabéns ao Petit, pelo trabalho que está a fazer, ainda para mais como homem da casa, que nem sempre é fácil. Mas ele tem se sacrificado e tem feito um ótimo trabalho. Espero que os resultados o recompensem pelo esforço que está a fazer. Parabéns ao Boavista, que é a surpresa do campeonato. 

Olhando para a luta pelo título, qual a equipa que lhe parece mais preparada para ser campeã?

Do que tenho visto, a luta será entre Sporting, FC Porto e Benfica. O Sp. Braga tem uma boa equipa e capacidade, mas a luta será entre os 'normais três grandes'. Penso que o campeão será um deles. Como benfiquista, gostava muito que o Benfica pudesse revalidar o título. Como treinador, respeito a capacidade de cada uma das equipas e espero que a melhor seja campeã. E espero também que um dia que uma equipa como o Sp. Braga tenha capacidade para ser campeã. 

Não há quem não goste do Di María. É uma joia de pessoaNão posso deixar de lhe perguntar sobre os casos de Pepe e Di María, com quem trabalhou na passagem pelo Real Madrid. Como é que se explica o sucesso destes dois jogadores que parecem fintar a idade? 

Acho que estes jogadores são diferenciados. Se formos a ver, com alguma idade já é possível ter uma longevidade diferente no futebol. São jogadores que passaram pelo Real Madrid, por exemplo, e são grandes jogadores, mas também são grandes homens e grandes atletas e que sabem cuidar de si próprios. Só assim é que poderiam ter feito a carreira que fizeram. Passados tantos anos num clube como o Real Madrid, ou noutros clubes de topo... Estes são os ingredientes necessários para a longevidade: serem responsáveis, cuidarem muito da sua vida enquanto atletas, terem uma paixão grande pelo jogo que se repete ano após ano e sem se cansarem... É como o Cristiano dizia! Recordo-me de várias conversas com ele sobre aquilo que ele fazia para ser aquilo que ele é, e nomeadamente alguns conselhos de nutrição que me deu na altura. Não me admira nada que ele jogue por alguns anos mais, e que o Pepe ainda esteja a jogar ao nível que joga com a idade que tem. São jogadores de grande qualidade e com uma grande mentalidade. E o Di María é outro desses casos. É um indivíduo alegre, é uma pessoa extraordinária. Tinha uma relação muito boa com ele, agora já não tenho tanto contacto. É uma joia de pessoa, além do grande jogador que é. 

O Pepe é aquele tipo de jogador que lidera pelo exemplo? 

O Pepe é um líder pela determinação, não apenas pelo exemplo. Ele tem a determinação de ganhar, de estar ao mais alto nível e de ter sucesso. É essa determinação que ele não deixa nas mãos de ninguém. Ninguém pode ser mais determinado que ele. No fundo, querendo isso para ele, transmite para os outros e lidera pelo exemplo. É um líder natural. Ele puxa pelos outros e tem esse carisma. Ele olha para os outros de uma forma aglutinadora. É o elemento que une o plantel. Era isso que se via no Real Madrid, nos treinos e nos jogos. Foi isso que o fez ser quem é. 

Esperava este impacto tão forte de Di María no regresso ao Benfica? 

Esperava, sim. É um jogador rápido, de drible, obstinado, que vai para cima, que rompe, que gosta de correr... No fundo é um daqueles jogadores atacantes que são raros. Quando se tem esse nível de capacidade, e olhando para o historial dele, faz-se muitos golos e assistências. É tão influente nos clubes como na seleção da Argentina. Depois, tem aquela personalidade. Não há quem não goste do Di María. 

Não vou para Portugal para pensar noutra coisa, a não ser lutar pelo títuloVoltando a olhar para a sua carreira, que já conta com 30 anos, como é que se define como treinador? 

Hoje em dia defino-me como um treinador que conhece muito bem o jogo, um treinador que sabe muito bem aquilo que pretende, e um treinador que ajuda o clube e o jogador a serem melhores. 

E quais as metas que faltam conquistar? 

Ajudar os jogadores a ganhar campeonatos, onde quer que seja. Se for para Portugal, vou continuar a fazer o mesmo. Ou seja, eu não vou para Portugal para pensar noutra coisa, a não ser lutar pelo título, independentemente da equipa para onde vá. Claro que há equipas com mais possibilidades do que outras, mas também há mentalidades com mais possibilidades de lá chegar do que outras. No fundo, eu tenho essa ambição porque tenho essa mentalidade. Esse é o meu principal objetivo. Regressar a Portugal permite-me dizer que, estando na Liga portuguesa, vou lutar para ganhar. E depois tenho a ambição de ganhar uma competição internacional. Para já estou na Liga dos Campeões asiática e, enquanto cá estiver, quero ganhar essa competição. Quando voltar para a Europa, quero disputar uma competição europeia e ganhá-la. 

Notícias ao Minuto O Sepahan de José Morais volta a entrar em ação já na segunda-feira, frente ao Olmaliq FK, do Uzbequistão© Reprodução Facebook José Morais  

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