Danilo Luiz, que pertenceu aos quadros do FC Porto, publicou, este sábado, uma carta aberta no portal The Players' Tribune, na qual recordou a depressão que viveu ao serviço do Real Madrid, pouco tempo depois de ter trocado os portistas pelos merengues, em 2015.
"Sou humano. Nem sempre estive no meu melhor. Sendo ainda mais honesto com vocês, durante a minha primeira temporada no Real Madrid, eu fiquei deprimido. Estava perdido, a sentir-me inútil. No campo, não conseguia fazer um passe de cinco metros. Fora do campo, era como se eu não conseguisse mexer. A minha paixão pelo futebol desapareceu e não encontrava uma saída. Eu queria voltar para minha casa no Brasil e nunca mais jogar futebol", revelou Danilo sobre a temporada 2015/16.
"Eu não me estava a ver como Baianinho, o filho de Baiano (é assim que chamam o meu pai). Eu estava a ver-me como Danilo, aquele que tinha assinado o contrato de 31 milhões de euros, como noticiavam os jornais - o defesa mais caro que o Real Madrid já tinha comprado até então. Quando jogamos contra o Alavés, alguns meses depois do início da temporada, o Theo Hernández roubou-me a bola e cruzou para o Deyverson fazer golo. Ainda vencemos por 4-1, mas foi um erro que não podes cometer no Real Madrid. Nunca esquecerei que fui pra casa naquela noite e não consegui dormir. Escrevi no meu caderno: acho que é hora de abandonar o futebol. Eu tinha 24 anos", prosseguiu ainda Danilo.
"Que parte de mim estava realmente a sentir a pressão? O rapaz que tinha sido uma revelação como lateral-direito do FC Porto? Ou o menino de Bicas que, de repente, tinha assinado com o maior clube do mundo? A resposta foi clara. Por dentro, ainda és e sempre serás o menino de Bicas. Não contei a ninguém o que estava a sentir. O Casemiro tentou ajudar-me, mas eu 'engoli o sapo', como se diz. E foi ficando cada vez maior. Mas depois de alguns meses de sofrimento, comecei a consultar um psicólogo e ele realmente salvou a minha carreira. A lição mais importante que ele me ensinou foi ver o jogo através dos olhos de uma criança novamente", prosseguiu ainda o internacional brasileiro.
Atualmente com 32 anos e ao serviço da Juventus, Danilo apontou a derrota diante da Croácia nos quartos-de-final do Mundial'2022 como um dos momentos mais difíceis da sua carreira enquanto futebolista.
"O meu filho Miguel nasceu em 2015, pouco antes de eu ir para o Real Madrid. É um pequeno intelectual, lê e escreve o dia todo. Para ele, não importa muito se o Brasil perde ou ganha. Mas o meu filho mais novo, o João, não aceita perder. Nasceu em 2019, pouco antes da pandemia, e é jogador de futebol. Nunca me vou esquecer quando voltei para casa depois da derrota com a Croácia. Fui para a cama e os meus filhos estavam à minha espera. Entraram na sala e o João disse 'eu sei que o Brasil perdeu. Vi o resultado'. Ele é assim, bem direto. Comecei a chorar porque senti que tinha dececionado os meus filhos, assim como todo o país. O Miguel foi para a cama comigo e disse 'está tudo bem, pai. Eu sei que deste o teu melhor'. Fiquei deitado e chorei durante uma hora. Ele abraçou-me e disse que estava tudo bem, que estava orgulhoso de mim. Às vezes, precisamos mais dos nossos filhos do que eles de nós", finalizou.
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